a poesia pode esperar?
não sei em que fase do ciclo estou, além da do sentir, que não tem se separado tanto do pensar. do pesar do pensar. não sei se o eu cresce ou some. nada é óbvio. muito menos o tempo. a minha urgência só cabe a mim. apaixonada e farpante, como ela diz, pra estar à vontade. sem efeitos especiais, além da fumaça. posso dançar? será que eu posso? que eu consigo? hoje, agora, viva. o corpo está. com toda sua necessidade, intimidade. as estrelas me assistem, a lua me guia, a voz ocupa os espaços. ou é o silêncio quem ocupa? os olhos oscilam, marcam inícios e fins parecidos. não sei onde estou, não sei onde ela está. a intuição é um pontinho brilhante no caminho que tem casa. assumo tudo em alguma parte. em alguma parte, assumo tudo. olho até perder de vista. tenho 26 anos. não sou eu que marco o tempo, é o tempo que me marca. e são as lembranças que me certificam disso. paro de marcar as páginas. sou sua companheira. você me lê? as inconfissões. o eu. o amor. gasto muitas palavras, elas são muitas, e me arrepio inteira involuntariamente. a saudade do presente me habita constante. filetes de sangue escorrem. insisto.
e a resposta é não.
a partir da peça online “ana c.” — março de 2021.