O Mar de Minas Gerais
Entre a serra e a represa, um lugar mágico, com canyons e paisagens deslumbrantes para os amantes do ecoturismo
Nas margens do lago artificial da Hidrelétrica de Furnas e perto da Serra da Canastra, no sudoeste de Minas Gerais, fica a cidade de Capitólio, a 280 quilômetros de Belo Horizonte e muito procurada para o ecoturismo. O motivo são as cachoeiras, piscinas naturais e as belas paisagens, formando cenários incríveis a partir do encontro com a represa e a serra. O lago da represa de Furnas, com seus canyons de mais de 20 metros de altura, é o mais procurado e nos transporta para um lugar que parece misterioso e mágico. É também conhecido como o “mar de Minas”, não à toa, afinal, o município é o maior em número de embarcações do estado de Minas Gerais. As pousadas da região organizam passeios que podem ser de lancha, chalana ou catamarã. O passeio de lancha, por ser mais rápido, possibilita a visita de mais pontos em meio aos canyons do que o de chalana ou catamarã. Embora estes, por serem mais lentos, têm seu charme. É possível contratar os passeios nas pousadas, agências da cidade ou mesmo diretamente no Lago de Furnas.
Calma e beleza — Todas as atrações não ficam perto do centro da cidade de Capitólio, logo, é bom ir de carro ou alugar um na cidade. Na maior parte delas, por ficarem em propriedades particulares, paga-se para entrar ou passar o dia, com preços que variam de 30 a 40 reais. O lado bom é que acabam possuindo boa estrutura de pousadas, áreas de camping e lanchonetes ou restaurantes. Para desfrutar com calma toda a beleza da região, vale passar ao menos cinco dias para aproveitar não apenas Capitólio, mas também o Parque Nacional da Serra da Canastra, que fica bem próximo e faz a alegria de quem curte boas trilhas, tanto para veículos com tração 4×4, quanto com motos, bicicletas ou caminhadas.
A família toda aproveita os passeios, mas um pouco de disposição ajuda na hora das trilhas. As crianças costumam ter mais fôlego e se encantam com as piscinas naturais de águas cristalinas, os inúmeros peixinhos que são vistos mesmo fora d`água e os pássaros da região. É preciso se precaver no básico: beber água, usar um bom protetor solar e tomar cuidado com as pedras escorregadias. Pode ser visitado o ano todo, mas por ser um destino com muitos lagos e cachoeiras, aproveita-se melhor as atrações quando a temperatura está mais elevada, porém, corre-se o risco de pegar chuvas no auge do verão. O período de menos chuvas é entre abril e outubro. Como uma boa cidade mineira, come-se muito bem, e as paisagens encontradas podem ser apreciadas em qualquer época do ano.
Furnas — A Usina Hidrelétrica de Furnas, origem do “mar de Minas”, está localizada entre as cidades de São José da Barra e São João Batista do Glória, foi a primeira hidrelétrica de grande porte do Brasil, fundada em 1963. Como toda hidrelétrica dessa magnitude, houve muitas controvérsias antes, durante e depois de sua construção, principalmente por conta do impacto que a represa traria ao inundar terras em 32 dos então 117 municípios do estado, forçando a retirada de 35 mil pessoas que habitavam as áreas que seriam inundadas. Atualmente ocupa 34 municípios mineiros, cobrindo cerca de 1.440 quilômetros quadrado, quando em nível máximo de operação. O lago estende-se por dois braços principais, o primeiro a leste da barragem, seguindo o curso do Rio Grande, por 240 quilômetros e outro, ao sul, seguindo o curso do Rio Sapucaí, estendendo-se por 170 quilômetros. Possui muitas ramificações, sendo que seu perímetro é de cerca de 3.500 quilômetros. Grandes áreas férteis foram inundadas forçando a população local trocar seu sustento de agricultura para o turismo.
Serra da Canastra — Aproveite que está próximo e não deixe de visitar o Parque Nacional da Serra da Canastra, menos concorrido do que as cachoeiras de Capitólio, mas com menos infraestrutura também. Uma das grandes belezas naturais do Brasil, nele encontra-se a nascente do Rio São Francisco, que, após se alinhar em pequenos córregos, forma piscinas naturais, e a famosa Cachoeira Casca D’Anta, com 180 metros de altura. Criado em 1972, o parque surgiu com o objetivo de proteger a nascente não apenas do Rio São Francisco, mas de diversas outras, que passam de 100 conhecidas.
A Serra da Canastra é uma espécie de berçário de rios situado bem no divisor de duas bacias hidrográficas: a do Rio Paraná e a do Rio São Francisco. Portanto, assim como Capitólio, prepare-se para muitas cachoeiras e belas vistas. A área reúne basicamente dois maciços: a Serra da Canastra e a Serra das Sete Voltas, com o Vale dos Cândidos no meio. Da bacia do Paraná, um dos rios mais conhecidos que nascem no chapadão é o Araguari, também chamado de Rio das Velhas na parte inicial. Foi às margens dele que no século 18 surgiu o garimpo de ouro que deu origem à histórica Vila de Desemboque, marco de toda a ocupação do Brasil Central, mas que hoje corre o risco de desaparecer por restarem pouquíssimos habitantes.
Com fauna e flora exuberantes, o Parque Nacional é uma excelente opção de passeio para observar plantas nativas, flores de rara beleza e animais silvestres, como: lobo-guará, tamanduá-bandeira, tatu-canastra e veado-campeiro. O relevo acidentado e a vegetação rasteira produzem uma paisagem única, com grandes vistas panorâmicas e muitas cachoeiras com altura acima dos 100 metros. É importante ir preparado porque todos os caminhos e estradas que levam às cachoeiras são rústicos e não há lanchonetes.
O parque tem 71.525 hectares demarcados e parte do território de três municípios: São Roque de Minas, Sacramento e Delfinópolis, no sudoeste de Minas Gerais. No entanto, a área originalmente prevista para o Parque Nacional era muito maior: mais de 200 mil hectares, como consta do Decreto número 70.355, de 3 de abril de 1972, e incluía toda a região da Serra da Babilônia. Mas foi reduzida devido ao custo das desapropriações, e que, desde 2001, é objeto de revisão e polêmica no Senado Federal. Outros dois decretos que complementavam a criação do parque, um deles reduzindo a área para pouco mais de 100 mil hectares, foram revogados em 1991. Com isso, embora por enquanto somente no papel, o que está valendo é o decreto original, com a área de 200 mil hectares, apesar dos pouco mais de 71 mil hectares efetivamente demarcados.
Conheça algumas atrações do entorno do mar de Minas Gerais:
Mirante dos Canyons
Local onde as pessoas vão para tirar a foto cartão-postal dos canyons. A paisagem é realmente de tirar o fôlego, com acesso fácil e gratuito, mas prepare-se porque, dependendo da temporada, você pegará uma pequena fila para bater a foto.
Morro do Chapéu
Um atraente passeio ecológico, repleto de histórias. Do alto da montanha, pode-se avistar o Lago de Furnas e há uma capelinha que abriga a imagem de Nossa Senhora dos Desamparados. Ao longo do percurso é possível ver os lajeados, chapadões e as muralhas de pedra construídas no início do século passado pelo artista e trabalhador rural Nestor Caetano. Essas muralhas eram utilizadas na época para delimitar propriedades, quando ainda não existia o arame farpado. O acesso é gratuito.
Paraíso Perdido
Lugar muito procurado por suas 18 piscinas de águas naturais cristalinas, em meio à vegetação típica do Cerrado. Possui boa estrutura com restaurante, além de área de camping e chalés. Pertence, na verdade, ao município de São João Batista do Glória, a 40 quilômetros do centro de Capitólio, mas bem perto de diversos outros passeios da região. Cobra-se para passar o dia, pois é área particular.
Lagoa Azul
A Lagoa Azul, que na verdade é mais dourada que azul, possui vários pontos para banho e duas belas cachoeiras. Se você estiver fazendo o passeio de barco é normalmente a primeira parada, mas é possível acessar pela estrada, caso queira voltar, porque os barcos costumam ficar apenas meia hora no local. O acesso é pela MG-050, na pousada Lagoa Azul. Há um bar flutuante no local e cobra-se para passar o dia.
Cachoeira Fecho da Serra
Possui diversos poços para banho, além de trilhas que levam até uma das quedas que deságuam no Lago de Furnas. Fica às margens da rodovia, sentido barragem e possui bar e camping.
Cachoeira Dicadinha
Linda cachoeira e pouco procurada, pois fica mais afastada e não possui estrutura para visitantes. Localizada na região do Fecho da Serra.
Reportagem publicada originalmente na Revista Família Cristã — edição 988, abril de 2018.