A perspectiva do olhar humano

Daniel Muñoz
Nativo Estrangeiro
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3 min readJun 7, 2019

A perspectiva é assassina da sanidade, já que hoje pode nos dizer, por exemplo, que o mundo fica menor a cada dia. Afinal, quanto mais passa o tempo e mais coisas acontecem para nos engrandecer, menor é a impressão que as coisas grandes do mundo causam. É como a luta por evoluir apenas para quando se chegar ao sol, queimar-se na chatice de viver em um mundo pequeno demais para a sua proporção.

Afinal, muito da felicidade está na magnitude da impressão de grandeza, por isso os seres humanos insistem em mesmo hoje que já conquistaram os céus, medirem sua ambição com construções que perfuram cada vez mais as nuvens. A competição é por tirar o fôlego daqueles que ainda carregam a beleza de se deslumbrar com o que veem olhando para cima.

Porque à medida que o nosso corpo e a nossa mente crescem, olhar para baixo se torna mais confortável, até porque assim teimaremos em crer que somos os prédios mais altos daquela cidade. O desafio de voltar a olhar para o alto não envolve o que as pessoas chamam de humildade, que nada é mais do que uma invenção cultural cristã, mas o que a natureza chama de ingenuidade, que pode ser muito mais bela do que é desenhada por aí.

O ingênuo não é o bobo, mas é aquele que preserva o infantil traço de buscar conhecer um mundo que é tão grande e magnífico como seus olhos podem ver. A vida adulta não traz realismo para as pessoas, tanto quanto essa mistura de culpa, arrogância e uma busca irreal por uma humildade que se despreza em todos, menos no filho de Deus.

O mundo dos prédios é perfeito para aqueles que buscam se construir, mas terrível para os que descobrem que a vida é um processo de construção de encantamentos que envolvem a abertura para o que é maior do que nós. Buscar essa grandeza no mundo imaterial é questionável, pois acaba por permitir que tanta gente se acredite os maiores de todos entre os terráqueos que aqui habitam.

O divino está nos olhos de ver com animação o que é grande o suficiente para acelerar os batimentos, e isso envolve quebrar as paredes das caixinhas que seres humanos evoluídos constroem em volta de si mesmo. Talvez assim as pessoas consigam enxergar que o mundo que elas precisam voltar a sentir, é aquele que já estava aqui antes delas construírem as sociedades delas.

Porque os que vivem cercados apenas de suas invenções, não saberão mais criar, e nem reconhecer que o mundo pode ser mais do que eles imaginam, uma vez que sua inspiração acabe. A inspiração, ao contrário do que a maioria pensa, não é um sopro de luz que chega na cabeça das pessoas, mas um reflexo do que ela vive quando se arrisca a sair da sua zona de conforto.

Viver é voltar a ver o mundo como uma criança, como eu tanto vi naquele brinquedo de piscina, que para os meus pais era apenas um jacaré de plástico, e para mim foi a aventura de uma vida.

De todos os jogos que joguei pela vida, acredito que nenhum me deu tanto prazer como este simples tabuleiro de’L Juego de La Oca. Olhando para ele, entendo que o que mais mudou em todos estes anos foi a minha perspectiva, que se perdeu um pouco.

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Daniel Muñoz
Nativo Estrangeiro

Um dia jornalista, hoje historiador. Escrevo só sobre o que quero e quando acho que tenho algo a dizer. Para mim é importante a diferença entre Ochs e Dylan