Chore por você e por Gaia

Daniel Muñoz
Nativo Estrangeiro
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4 min readMay 25, 2018

Uma montanha russa, não há melhor exemplo. A maldição de parecer combinar demais com tudo que eu odeio. Rezar por uniformidade parece um absurdo de uma pessoa como eu, mas honestamente, esse movimento sanfona emocional precisa parar.

Porque hoje eu tinha muita coisa a dizer, eu estava feliz, eu tinha material, eu estava fazendo rascunho deste texto há mais de três dias. Mas, como um idiota que nega o fatalmente inevitável, eu fui um tolo que achei que essa animação podia durar.

Mas é claro que não, seu imbecil.

Não dura, nada dura.

Obviamente depois da subida, veio a queda. Malditos picos, custa tanto o carrinho andar na parte superior só um pouco mais? Eu nem tive chance de apreciar a vista, só um pouco mais. Vendo essas poucas palavras que precedem, você provavelmente pensa, mas porque você está escrevendo então?

A resposta é simples. Eu me obriguei. Regra, imposição, assim mesmo. Mas isso é uma loucura, talvez, mas é uma loucura necessária.

Porque jorrar essas palavras é uma das únicas maneiras realmente efetivas que eu tenho de fazer a panela não explodir. Eu vim com um defeito de fábrica, o meu pino não apita, você só vai notar a pressão quando eu explodir.

Eu não quero explodir, ao contrário do que a maioria pode pensar. Não é cool, hype ou nada assim. Dói, dói muito e dói mais ainda pelo o que se perde, na vida que sempre parece curta e esguia demais, quando você está explodindo e se reconstruindo.

Então, depois de ter escrito num papel, os excelentes assuntos que eu estava tão sorridente em ter na cabeça, para poder escrevê-los depois nas próximas chances, acredito finalmente necessário usar a escrita para falar daquilo que ela exorciza.

O cansaço da montanha russa. Menino mimado, precisa aprender que a vida é difícil, só sabe reclamar, tem gente que sofre mais do que você. Que seja tudo verdade, vazio o coração de quem pensa e fala assim.

Porque deixa eu te contar um segredo? Quem carrega dores como a minha, está sempre pensando nos outros. De uma maneira que aparenta mais um hospício do que seguidores de Gandhi.

Você se destrói, corrói, consome. Medo, sempre medo — mas eu não posso ferir, não importa se a pessoa merece. Que eu vá me ferir no lugar então, eu me conheço, eu sei que minhas cicatrizes fecham.

Mas eu reitero, dói. E com o tempo, parece que não fecha a cicatriz tão bem mais, a pele começa a diferenciar, mandar sinais. Esses sinais dizem: minha resistência está acabando, por favor, tome mais cuidado, eu não sou eterno, eu não sou invencível, me respeite com o mesmo amor que você deposita numa flor que cai no seu cabelo.

Porque é difícil entender, mas quem ama demais, normalmente se odeia. É triste? Profundamente. Mas não vejo outra explicação para preferir sempre atacar o próprio coração com medo do que os ó tão saudáveis corações dos fortes irão sentir.

Policie-se, fique quieto, você é triste, não pode reclamar, só os fortes e felizes podem. A força é virtude para a maioria, para mim o maior defeito que alguém pode ter. O que tem força negligencia, é cruel, se impõe. A delicadeza respeita enquanto a força se retroalimenta numa opressão eterna que termina por engolir a si própria.

Mas o forte vai terminar por se destruir, então menos mal. Na verdade ainda muito mal, porque ele destrói a delicadeza junto. E pior, muito mal, porque quem ama, ama, mesmo o que não merece, então como a manifestação de Gaia, você chora até por aquele que quer te destruir.

E você chora, e chora, um pouco mais. Você sente falta do sorriso que estava no seu rosto quando você pensava no que ia escrever. Você pensa na música gostosa, na cor das plantas, na felicidade de no frio poder usar a roupa que te chama tanto no seu armário todo dia.

Você que tinha sorrido pela flor que achou o caminho de dentro da sua mala, por uma fresta do zíper, agora chora. Maldito seja, sorria. Porque não? Lembra da flor, ela veio para ti como um sopro de Deus que quer que você se mantenha de pé, lembre da graça de um ciclo de um ser perfeito chamado Terra.

Mas você chora porque você ama. Porque você pode se destruir, mas você não vai salvar o mundo. Porque os fortes vão destruir Gaia não importa o que você fizer. Porque aquela flor, amanhã vai estar morta.

Tudo porque a força venceu, e sempre vai vencer, enquanto ela fizer o que mais faz, que é dizer para o coração dos fortes que eles são mais importantes. Meu coração nunca pensou algo assim, mesmo quando eu pedi incessantemente, em profundo desespero.

E eu admito, eu queria ser forte.

Queria mesmo, pedi muito, implorei.

Mas no sistema eu não vim para ser forte, Gaia precisa da minha delicadeza, por isso nunca garantiu meu pedido, com a frieza e o amor de uma mãe que te diz não, porque precisa de você no seu foco.

E eu amo, mesmo com a dor. Porque no final, nunca foi uma escolha.

Me olhar no espelho e me respeitar sempre foi mais importante do que estar bem, e continua sendo, então agradeço mesmo com a dor.

Mas eu queria muito aproveitar melhor a vista na próxima vez que subir, porque faz falta aquele sorriso, aquela risada, aquele sol, aqueles estranhos simpáticos, aquela empatia.

Aquela vida, porque o que reina hoje é ilusão.

Já que não existe vida, fora do equilíbrio desta linda terra, que hoje vocês bravos e fortes, matam.

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Daniel Muñoz
Nativo Estrangeiro

Um dia jornalista, hoje historiador. Escrevo só sobre o que quero e quando acho que tenho algo a dizer. Para mim é importante a diferença entre Ochs e Dylan