O debate proibido para amantes de questionamentos

Daniel Muñoz
Nativo Estrangeiro
Published in
3 min readSep 14, 2018

Situação estranha, nós com tantos valores e convicções vamos chegando a cogitar tantas coisas, menos uma, pensar até onde vamos com isso. Todo pensamento é livre, todo debate uma planta a ser regada, menos esta questão. Esta questão é uma derrota anunciada, por isso não deve vir à tona.

Porque ela traz de volta uma realidade de amor próprio, esse que a gente abriu mão quando decidiu comprar a briga por todos os outros debates e lutas. Quem resolve pensar até onde vai na briga, para de brigar. Porque mesmo quando ganhemos a luta, sairemos machucados.

E o pior é que foi tão natural entrarmos nessa luta, acho que como acontece com quase todo mundo nesse mundo, a gente se recusa a ver as gotas caírem. Gotas de lágrimas, de suor, de sangue, sempre têm uma conotação de sofrimento, a nossa empatia não se aguenta dentro do corpo.

Também porque nosso ego gosta de sentir que o amor pelo próximo justifica nossa estadia nesse planeta. Afinal costumamos logo entender que simplesmente por nossa condição humana somos uma força de destruição. Lutar pela construção e felicidade pode ser o jeito mais óbvio de balancear isso.

De bons frutos, não importa muito os motivos terem sido altruístas ou egoístas, até porque, melhor seria a interpretação dos motivos através dos resultados. Ações altruístas que não servem para nada são piores que as egoístas que trazem um bem. Nossa escolha pelo campo veio da intenção de trazer o melhor que pode existir nas lógicas da vida.

Infelizmente nesse processo fazemos muitos males, claro, lembre-se que somos humanos, uma força de destruição. Mas ao final, até o objetivo de balancear males deixa de ser importante, a única coisa que passa a ter valor é o objetivo. O problema aqui é que, isto também é uma derrota anunciada.

Mas essa derrota é uma que temos prazer em levar para casa, já que sua condição inevitável é justamente aquilo que protestamos. Mesmo sabendo que jamais venceremos, optamos por comprar as buscas no escuro, as marcas que elas trazem das lutas contra os Reis e das discussões com Deus, como dizia nosso poeta preferido.

Porque nosso protesto é contra a dor e o sofrimento no mundo, contra as injustiças, contra os males que fazem cair as gotas de tudo de ruim que toca a Terra. E este protesto nos traz essa dor gritando no coração, nos acorrentamos à tristeza tentando salvaguardar a felicidade, que nunca nos ofereceu um sorriso.

E continuamos chorando pelos que choram, doendo pelos que doem, sofrendo pelos que sofrem. Tentando aplicar prática e pragmatismo para ao invés de passar fome com os pares, curar a fome deles. O que os egoístas assumidos do outro lado chamam de excesso de assistência, chamamos de balanço mínimo.

Algo que se torna inerente a nós, no dia em que descobrimos que tudo pode ser aberto a questionamentos e debates, menos a primeira questão. Porque somos daquelas pessoas que defendem todos os direitos, menos os da negação dos mesmos.

Somos aqueles que não aceitam a ordem do mundo e preferem sofrer na batalha a relaxar no ostracismo de almas vencidas.

--

--

Daniel Muñoz
Nativo Estrangeiro

Um dia jornalista, hoje historiador. Escrevo só sobre o que quero e quando acho que tenho algo a dizer. Para mim é importante a diferença entre Ochs e Dylan