Verde ou vermelho
Vinte e quatro minutos. Não contínuos. Uma tentativa que respirou três pontos finais. Outra que morreu no primeiro. Nessas duas devo ter gasto no máximo dez minutos. Então foram catorze na cama olhando para o teto.
Hoje é dia de escrever, mas como o dia não liga, só deu para pensar nisso agora, para lá das nove da noite. Tudo bem, até hoje não demorei mais de quarenta e cinco minutos para traçar um texto no padrão que eu queria. Acabar até umas dez e meia seria bastante razoável. Nenhum problema.
Mas há um imprevisto, um que o furor da confiança não contava que poderia existir. Eu não tenho uma história para contar.
Não ter uma história implica que nos últimos sete dias, nada do que aconteceu na minha vida gerou nenhum impacto que minha mente obsessiva resolveu narrar sobre. Então foi uma semana muito chata provavelmente.
Meu maior desgosto é que não foi. Na verdade, aconteceu muita coisa. Coisas absurdas e terríveis. Coisas que só acontecem em pesadelos chegaram perto de acontecer. Isso tudo aumenta ainda mais a raiva da narrativa não ter se formado.
O sentimento é de ter decepcionado, os leitores? Não, a semana! Ela merecia mais, ela merecia uma história. Tantas que se perdem nos meus devaneios a todo momento, nesses últimos sete dias nenhuma quis desfrutar um pouco mais da minha companhia.
A conclusão é que o filtro da minha cabeça não julga por valor. Qual o critério então? Talvez força? Pode ser, só nesse vigésimo segundo ponto final que eu lembrei que dormi muito pouco essa semana.
Nem a narrativa de associar esse dado com o sono que eu estou sentindo agora se formou na minha cabeça. Que horror, a sensação é de completa derrota. Uma pessoa que secretamente se julga inteligente (embora saiba que não é tão especial) não consegue se desfazer da sensação horrível de não ter nada na cartola — Você se dizia tão versátil!
Talvez até seja. Qual o tamanho da engenhosidade de quem te liga para te dizer que não tem nada a dizer? Talvez em algum nível seja isso que eu esteja fazendo agora. O sentimento é bom, mas nem tanto, ele soa obsessivo. A obsessão é uma das coisas que eu sempre prometo deixar na lixeira do lado de fora, mas esqueço de tirar da bolsa.
Com tristeza de sucumbir a ela eu cumpro uma promessa então. No final, não tão ruim, as vezes escrever sobre não ter o que falar pode ser a saída para voltar a ter o que dizer. Talvez a lição seja que eu nunca terei medo de não ter o que falar, pois sempre assumi que o que não sabia fazer era justamente calar a boca.
Mas agora sinto o meu silêncio, um silêncio que fala, grita, aparece. Porque na verdade, eu realmente não sei calar a boca!