Trae Young: mais do que rótulos

Lukas
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5 min readFeb 21, 2019
Foto: Reprodução / Twitter @TheTraeYoung

Antes do draft: o novo Stephen Curry.
Depois do draft: aquele por quem Luka Dončić foi trocado.

É, Trae Young é uma das maiores promessas da liga, mas também alvo de comparações. Ele foi selecionado pelo Mavericks (#5) em 2018 e enviado rapidamente ao Hawks junto com uma futura escolha de draft pelos direitos de Luka Dončić.

Como todos sabem, é bem comum durante o basquete universitário algum prospecto ser comparado, principalmente pela mídia, a um atleta de sucesso da NBA e, para o rookie de Atlanta, não foi diferente. Devido ao seu desempenho nas cestas de três (36.0% em 10.3 tentadas por jogo) ser próximo ao de Curry em seu último ano no College (38.7% em 9.9 tentadas por jogo) e de ter demonstrado capacidade de conduzir e passar bem a bola, as comparações acabaram surgindo.

Já depois do término do draft, ficou perceptível que a ligação entre as carreiras de Trae e Dončić pudesse sempre ser motivo para discussões. Por exemplo, ao digitar “Trae Young l” em uma ferramenta de pesquisa, é muito provável que a primeira sugestão seja relacionando-o a Luka. Isso porque o esloveno do Dallas chegou à liga como MVP da EuroLeague e com muita expectativa de todos. Ou seja, qualquer um que fosse selecionado em uma posição acima dele no draft, poderia gerar discussões entre fãs e especialistas. O Suns (pick #1) selecionou o pivô DeAndre Ayton — embora todos saibam o quanto a franquia de Phoenix necessita de um PG — , enquanto o Kings (pick #2) optou pelo forward Marvin Bagley III. Então, a chance caiu nas mãos do Hawks, que optou por draftar Luka, mas mandá-lo para o Mavs. E a franquia de Atlanta foi bastante questionada pela atitude.

Isso tudo fez com que Trae fosse um dos calouros mais comentados no mundo da NBA, por um motivo ou pelo outro. Sua atuação na Summer League foi abaixo das expectativas — principalmente nos seus 3 jogos em Utah, com 12.7 PPG, 23% FG, 4.3 APG em 29.0 MPG — , e fez com que muitos duvidassem do seu potencial, considerando-o até mesmo um bust (de maneira precipitada, obviamente).

Mas, com o decorrer da temporada, muitas opiniões mudaram. E os números e atuações dele são responsáveis por isso. Entre os guards (min. 40 GP) da liga, Trae é o sexto com a maior quantidade de assistências por jogo (7.6 APG) e o quarto com mais assistências em valores totais (446). Além disso, é o segundo rookie que mais pontua por jogo (16.9 PPG) e é o novato com melhor AST Ratio (min. 40 GP), com 27.4, que é a estatística responsável por informar o número médio de assistências que um jogador registra por 100 posses.

Outro ponto positivo, além dos bons números citados, é o arsenal ofensivo que Young possui. Apesar de não estar registrando uma excelente temporada de três pontos (31.2%), ele é uma verdadeira ameaça do perímetro desde os tempos de College e isso deve ser aprimorado ao longo das próximas temporadas.

Mas, para um jogador capaz de ser perigoso da linha de três pontos, é essencial manter a imprevisibilidade (ou seja, não ser apenas um chutador), principalmente para um armador. E ter um leque de variações ofensivas torna isso possível.

Devido à sua agilidade, Trae pode explorar facilmente seus marcadores durante o 1x1, com o uso de crossovers, hesitações e dribles, que o favorecem também em transição e no pick&roll.

Facilidade em usar dribles para explorar o defensor e ir em direção à cesta.

Além do mais, sua agilidade o favorece em relação a ser um jogador móvel sem a bola, capaz de desvencilhar-se do marcador e receber livre para realizar a próxima jogada.

Aqui, põe a bola de volta em jogo, parte para recebê-la novamente, utilizando o possuidor (Bembry) como bloqueio automático para haver a troca de defensor e novamente explora no 1x1 e parte para pontuar.

Como já foi citado, o fator “passador” de Young é um dos seus pontos fortes e ter pontuadores e/ou 3-and-D confiáveis na line-up favorece a exploração dessa capacidade.

Nesse gif, por exemplo, podemos ver a capacidade de Trae realizar passes que exigem bom raciocínio.

Conforme o tempo passa, os adversários costumam estar mais atentos à um novo jogador talentoso e, por muitas vezes, a agilidade e controle de TY o ajudam a desenvolver a jogada sob pressão, encontrando bons passes para Kevin Huerter, por exemplo.

Aqui, Trae recebe boa atenção da defesa e em meio ao aumento da pressão, ele consegue atraí-los e obter um bom ângulo para o passe e … bingo! Êxito, +3 na conta de Huerter (arremesso confiável) e do Hawks.

Por outro lado, como principal característica negativa temos o seu desempenho defensivo. Por ser mais baixo e não oferecer tanta resistência, além de não possuir grande força física, esse são alguns dos pontos que os adversários observam e tentam explorar durante as partidas. Ao enfrentar franquias que possuem uma line-up de grande estatura, a desvantagem acaba ocorrendo de maneira ainda mais clara, principalmente por isso impedir que o Hawks obtenha alguma troca defensiva que obtenha um ajuste mais positivo. Com 113.3 DRtg, Trae está entre os guards com o desempenho defensivo mais fraco (min. 40 GP) na liga e é o jogador do Atlanta Hawks com menor DRtg.

Aqui, Trae é facilmente enganado pelas movimentações no garrafão e ação com bloqueio da dupla Temple + JJJ

Sem dúvida, Trae Young tem potencial para ser um dos melhores armadores da liga. Alguns tomaram opiniões negativas cedo demais, e o garoto já está fazendo muitos ajustarem seus conceitos iniciais. De fato, ele ser um risco na defesa pode atrapalhar, mas certamente será algo a ser trabalhado pela franquia e pelo atleta nos próximos anos. Acredito que podemos ser otimistas, não somente com ele, mas também com o Hawks, visto que o seu núcleo jovem — principalmente Trae, Huerter e John Collins — tem mostrado esboços de que um dia poderão potencializar a franquia de Atlanta a ser um contender.

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Obrigado e até a próxima :)

Notas [termos]: GP = partidas jogadas; PG = point-guard, posição #1; DRtg = classificação ou pontuação defensiva; TY = Trae Young; PPG, APG, RPG, MPG = pontos, assistências, rebotes e minutos por jogo, respectivamente.

Notas [dados estatísticos]: os dados estatísticos utilizados neste texto podem ser encontrados no site de estatísticas da NBA.

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