A Adriana falô
Por Camila Damasceno, Paula Menezes e Wander Rocha
Adriana falô que queria contar sua história pra todo mundo.
Que chamassem os jornais, os portais, as televisões:
“Eu não tenho medo de dizê que eles vêm e levam tudo, meus livros, minha comida e até a ração dos cachorros”.
Adriana falô pra Paula levar os amigos; fazer foto; fazer festa, que nesse dia, ela ia falar. Ela ia botar a boca no trombone. Contar da sua luta, sua vida, sua resistência.
E a gente foi atrás. Chegô cedo, esperô, rodô a praça, perguntô:
Cadê Adriana?
E a Dona Leda falô:
Adriana tá vendendo chocolate na porta do supermercado.
Partiu supermercado, câmera em punho, caderninho na mão. Cadê Adriana? Adriana partiu. Sumiu no emaranhado de rotas na feira dos artesãos.
A artesã falô:
“Já disse que denuncio! Ela não pode andar por aí com cachorro que morde os outros”.
E alguém falô pra Adriana que tinha um pessoal o dia todo atrás dela.
E a Adriana sumiu na praça, na rua, na rota.