Laurina, a cultivar rara e exótica do melhor café filtrado do mundo
O melhor café filtrado do mundo, em 2018, foi preparado com os grãos de uma cultivar rara e exótica chamada Laurina (Coffea arabica var. laurina). Esses grãos foram utilizados pela barista Emi Fukahori, da Suíça, durante as finais da World Brewers Cup 2018, em Belo Horizonte-MG. Trata-se do campeonato mundial de preparo de cafés coados.
Além de consagrar a jovem Fukahori, o título chamou a atenção do mundo para o café utilizado por ela. O café foi cultivado no Brasil, mais especificamente no município mineiro de Patrocínio, pela fazenda Daterra Coffee. Consta que foi a primeira vez que um campeonato mundial de barismo foi vencido com grãos brasileiros, o que torna o feito ainda mais significativo. No entanto, a cultivar Laurina não é originária do país.
Origem e botânica
A Laurina tem origem na ilha Reunião, localizada ao leste de Madagascar, no Oceano Índico. A ilha é um departamento ultramarino da França desde 1638, sendo famosa na história da cafeicultura mundial. Conhecida anteriormente como “ilha Bourbon”, foi lá que a famosa cultivar de mesmo nome surgiu no século XVIII.
E foi de uma mutação natural ocorrida em uma lavoura de Bourbon, ainda no século XVIII, que surgiu a Laurina. Ela apresenta porte baixo, copa de formato cônico e frutos e sementes pontudas. Na comparação com outras cultivares de Coffea arabica, a ramificação é mais densa, os internódios são mais curtos e as folhas, frutos e sementes são menores. A planta apresenta resistência à seca, mas é muito suscetível à ferrugem.
Comercialmente, não despertou grande interesse dos cafeicultores por causa da sua baixa produção. Em 2015, havia uma lavoura da Laurina na fazenda experimental da Fundação Procafé, em Varginha-MG, prestes a produzir a sua terceira safra. Os técnicos da fundação estimaram a produção em três litros de frutos por planta, enquanto as lavouras de Mundo Novo e Acaiá deveriam produzir oito e dez litros, respectivamente.
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Uma das características mais notáveis da Laurina é o seu baixo teor de cafeína. O café obtido a partir dela possui, em média, 0,6% de cafeína, enquanto a média para outras cultivares varia entre 1,2% e 1,6%. Soma-se a isso o fato de a bebida obtida a partir das suas sementes ser muito saborosa, com notas frutadas e florais.
Renascimento e fama
Ao longo do século XX, a produção de Laurina decaiu em Reunião. Outros países não se interessaram pela cultivar e logo ela foi esquecida. Ou quase. No início dos anos 2000, algumas empresas começaram a fazer experimentos com a planta. No contexto da terceira onda do café, a raridade e o exotismo da Laurina fizeram dela uma opção interessante para cafés especiais. O cultivo em Reunião foi retomado com o apoio do governo francês e, em pouco tempo, cafeicultores de outras nações começaram a testar a cultivar.
Brasil e título mundial
O microlote da fazenda Daterra Coffee foi processado pelo método de “maceração semi-carbônica”. De acordo com a própria empresa, os frutos cereja foram inseridos em um tanque de água hermético. O gás carbônico (CO2) liberado durante a fermentação expeliu todo o oxigênio do tanque, o que criou um ambiente anaeróbico. A maceração ocorreu quando os frutos no fundo foram esmagados pelo peso dos que estavam acima.
Segundo Fukahori, os frutos do meio do tanque foram parcialmente macerados e aqueles que estavam por cima apenas fermentaram. Com isso, cada uma dessas três camadas de café adquiriu características distintas. Após 48 horas dentro do tanque, o café foi levado para terreiros suspensos, onde secou por 20 dias. A barista explorou toda essa complexidade na apresentação que lhe rendeu o título mundial.
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Sobre o autor
Eduardo Cesar é o fundador e o editor executivo da revista Negócio Café. Atua como pesquisador da Agência de Inovação do Café (INOVACAFÉ/UFLA) e coordenou o Bureau de Inteligência Competitiva do Café. Possui mestrado e doutorado em Administração pela UFLA.
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