À espera de uma vida
Não fui atrás do José Camargo para entrevistá-lo, ele que me encontrou para desabafar. Com um olhar tristonho, roupas limpas e barba feita começou logo dizendo, numa fala quase desesperada, que não mexe com coisa errada. Este morador de rua está há três anos vivendo através da generosidade de algumas pessoas que o ajudam, de vez em quando, com algum trocado, o que já faz dele uma pessoa grata, pois são com esses trocados que ele se alimenta e se mantém durante o dia.
José Camargo tem 50 anos e nasceu na cidade de Dois Vizinhos. Há 30 se mudou para Cascavel com a mulher em busca de uma oportunidade que o faça melhorar de vida. E foi aí que, segundo ele, começou a dar tudo errado. Zé, como gosta de ser chamado, tem quatro filhos, todos moram em Cascavel e sabem da miserável vida que o pai leva.
A família, com toda certeza, não é seu ponto mais forte. Só de lembrar, a voz falha e as lágrimas caem. As lembranças são uma batalha diária que o fazem enlouquecer. Depois de alguns anos do filho mais velho chegar ao mundo, o dinheiro foi faltando em casa, enquanto os vícios existiam em abundância. Não demorou muito para sua esposa pedir a separação e criar os filhos sozinha.
José, mesmo longe, ajudava na criação dos filhos mandando um pouco do pequeno salário que recebia em um frigorífico da cidade. Mas, ele não deu conta da avalanche que caiu sobre sua cabeça. Há alguns anos, sua ex-mulher e mãe dos seus filhos, ao ir no mercadinho do bairro comprar pão para o café da tarde, sofreu um ataque cardíaco e morreu na hora, deixando a água no fogo esquentando e quatro filhos em casa esperando.
Logo em seguida, no mesmo ano, José perdeu também a mulher da sua vida, sua mãe. Já embalado nos vícios, não tendo mais para onde ir, sem condições de cuidar dos próprios filhos e demitido da empresa que logo depois faliu, Zé não enxergou outra opção e dali em diante se afundou ainda mais nas drogas.
A forma como sua família e sua vida se desestruturou foi muito para sua cabeça que já não andava boa. Ele não tem ninguém que possa ajudá-lo e se for sair da rua, que é o que ele mais deseja, vai ter que ser sozinho. Por mais que seus filhos torçam pela sua vitória, não sabem mais como ampará-lo.
Na rua José já passou por tudo, sentiu sede, fome, frio e humilhação. Ele já foi assaltado, roubaram seus documentos e o único trocado que ele tinha para se alimentar durante o dia. Contudo, ele não desiste da vida. Do futuro, Zé só espera coisas boas. Pretende arrumar um emprego e sair dessa condição. Ele ainda pensa em construir uma família, ser feliz e viver, pois pra ele, morar na rua não é vida.