Do tudo, nada

Kauana Bacarin
Nem casa, nem lar
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2 min readNov 21, 2019

E o senhor tem quantos anos? ‘‘Eu nasci há dez mil anos atrás, e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais’’.

A data exata é 22 de outubro de 1957. Nicanor Basso nasceu em Encantado (RS) e se diz encantado pelas mulheres. Namorou muito. Namorou mulheres de todos os tipos. Mas acredita que para todo ser humano há outro ser humano, uma metade da laranja.

foto: Kauana Bacarin

Homem trabalhador que é, construiu fortunas. Na cidade brasileira de Americana, no estado de São Paulo, foi onde fez-se rei. Foi dono de um hotel e churrascaria. Trabalhava muito e tinha muito. Morava em uma mansão, tinha o carro do ano. Era casado e teve dois filhos. Tudo parecia perfeito mas tudo acaba. O casamento acabou. Era comunhão de bens. Ele deixou os imóveis para ela e os filhos. Escolheu ficar com a empresa. Má escolha de Ni. A empresa faliu e o deixou sem nada. E dali resolveu partir. Rio de Janeiro foi seu destino, onde trabalhou, morou e namorou por mais de uma década.

Namorou uma linda mulher baiana. Descrita como amor da sua vida. Mulher essa pela qual se apaixonou e se relacionou por 12 anos. Ela queria casar, ele não. Ele só descobriu que era ela sua metade da laranja quando era tarde demais. Teve câncer no útero e dela nada restou. Nem dela, nem de sua filha.

Hoje seu Nicanor leva em suas mãos uma bíblia. Ganhada em um culto na capital do Tocantins, um dos lugares em que morou. E o que mais ele tem é fé. Acredita que a fé não está na igreja mas dentro de cada um. Ele carrega a bíblia e nada mais. Sua última cidade foi Floripa. Cidade essa que recebe tanta gente, contudo, não o recebeu tão bem. Mal chegou e já o levou. Adormeceu na rodoviária da cidade, ele e tantos dele. Levava consigo um bocado de dinheiro recebido de seu filho. Amanheceu e o dinheiro não estava. Todo o dinheiro que restava, agora não resta.

Pegou o pouco que ainda tinha e veio para o Paraná. Graças a sua carteira de idoso conseguiu uma passagem sem pagar nada.

Pra quem antes tinha uma mansão, noite passada dormiu na rua, mais especificamente em uma cadeira de posto de gasolina.

foto: Kauana Bacarin

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