Review — Ano natsu de matteru (Waiting in the summer)

Felipe Massahiro
Nerd / Articles
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4 min readJul 10, 2015

Quando a alienígena Ichika chega a terra, sua nave cai, acertando Kaito, um jovem estudante aspirante a cineasta. Ainda que os eventos pareçam um sonho, após propor aos seus amigos para que produzam um filme durante suas férias de verão, ele se surpreende ao encontrar Ichika como a mais nova estudante de sua escola, ao lado de sua nova e exótica amiga Lemon.

Ano natsu de matteru é um anime de apenas 12 episódios, mas que de alguma forma consegue trazer uma história de romance bonita e bastante intrigante.

Mesmo com os elementos de ficção, o anime não é de ação. Ele possui alguns momentos de ação, contudo o foco é no “polígono” amoroso que circula entre os velhos e novos amigos de Kaito. Por esse motivo, o enfoque de drama acaba ofuscando a profundidade na história de Ichika, em que muitas das ocasiões ela parece simplesmente não ser uma alien. Não é apenas a maneira de descobrir as coisas do planeta terra ou na forma como lida com suas relações, mas também na própria profundidade dela como personagem. Pouco se descobre sobre sua cultura, seu planeta e seu passado.

Sem muita exploração nesse cenário de ficção, as motivações em relação ao passado de Ichika ficam bastante superficiais. O fato de ela ser uma alienígena termina por ser algo como uma desculpa para o desenrolar do drama romântico que circunda os personagens. Contudo, ainda que rasa, a história se usufrui imensamente no fato de ela ser uma alienígena, e isso faz com que o anime acabe sendo muito interessante.

Longe de uma história complexa ou cheia de mistérios, Ano natsu de matteru, mesmo envolvendo essa grande fantasia de aliens, é um drama romântico que por vezes é engraçada, por vezes um tanto depressivo. Esses altos e baixos trazem um tom especial para o anime.

Existem certos aspectos que foram bem trabalhados, como a força da amizade e, principalmente, como passamos a aceitar as pessoas diferentes de nossos costumes, além da forma como também aprendemos a lidar com outros. A filmagem torna-se o centro da ambição de todos os amigos de Kaito e Ichika por um longo tempo, mas não é sem explicação. Aquele verão em que todos estão juntos para produzir o filme, é também quando cada um deles começam a crescer, percebendo e revelando seus sentimentos, aprendendo a lidar com suas escolhas e as consequências que elas podem trazer a suas amizades.

São nesses pequenos momentos de revelação que Ano natsu de matteru consegue brilhar. Ainda que os modos de Ichika pareçam em parte um tanto artificiais, como por exemplo quando ela deixa escapar em uma conversa um pouco sobre seu conhecimento do universo, ninguém a questiona, simplesmente a ignora, em outros a reação das pessoas a sua volta é tão irreal que chega a ser estranho.

Mesmo com esses aspectos narrativos que acabam abrindo enormes buracos na história, o anime não deixa de ter o seu charme. A ênfase no drama dos personagens é bem acabado e também consegue trazer um certo ar de nostalgia, em especial na forma de quando nos recordamos de alguma memória calorosa.

Os traços fortes e cores vibrantes predominam Ano natsu de matteru, isso me agradou, principalmente por condizer bastante com um ambiente de filmagem e, pelo motivo de Ichika querer encontrar um lugar. Pode não ser os traços mais bonitos, mas também estão muito longe de serem feios.

Como um drama romântico com uma pitada de comédia, Ano natsu de matteru, não apenas é divertido, como também evoca alguns temas que, embora bastante usados anteriormente, conseguem se encaixar muito bem na história, como por exemplo a amizade, o descobrimento do amor, a sinceridade com seus sentimentos e a importância de nossas memórias mais calorosas. Por outro lado, os personagens são rasos, com seus passados pouco explorados e revelados — a amizade de infãncia de Kanna e Tetsuro, por exemplo, é revelada brevemente em um pequeno trecho de um episódio, — muitas vezes senti como se houvesse muito mais a ser explorado e que a série é apenas um pequeno fragmento, como uma moldura que ignorasse todo o restante que está fora dela.

Contudo, por mais estranho que pareça, esse lado negativo não afetou tanto o meu gosto pela história. Principalmente porque esse foco dado ao romance e personagens interessantes e divertidos, mesmo sendo um tanto rasos, entrega uma história em 12 episódios. Também vale a pena lembrar que há muitos exageros que “brincam” com o roteiro. A presença de aliens, uma garota misteriosa que parece ser mais velha do que aparenta, a própria forma ocasionalmente apática dos personagens e uma mistura aleatória de tramas, trazem um equilíbrio, por ocasiões, interessantes entre comicidade e romance. Por outras vezes, esses mesmos exageros acabam divergindo tanto do drama que faz o anime parecer naufragar entre dois extremos que, no fim, não deixam de divertir.

Há também um OVA (Original Video Animation ou Original Video Anime) produzido após a série que foi é parte de um disco bônus da versão da série em Blu-ray.

O OVA se passa um pouco antes dos momentos finais do último episódio da série e serve como um pequeno complemento a esses eventos que ocorrem durante os créditos.

No geral, Ano natsu de matteru está muito longe de ser uma obra de arte, mas consegue proporcionar bons momentos de diversão, com uma boa dose de drama e ficção científica.

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Felipe Massahiro
Nerd / Articles

Jogador compulsivo, escritor obcecado, amante perturbado da literatura e jornalista de vez em quando.