Review — Hyperdimension Neptunia Re;Birth 1

Felipe Massahiro
Nerd / Articles
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7 min readJul 13, 2015

No mundo de Gamindustri há 4 grandes territórios, cada um regido por uma CPU diferente. As CPUs são deusas que lutam em uma eterna guerra chamada “guerra dos consoles”. Por muito tempo as 4 estão em um empasse de poder, até que Alfoire surge para romper o equilíbrio que faz com que a deusa Purple Heart caia sobre o território de Planeptune e perca sua memória.

HyperDimension Neptunia Re;Birth 1 é o remake do jogo de playstation 3 lançado em 2010. Originalmente um título para o Playstation Vita, Re;Birth 1 também terminou com um lançamento para PC e está disponível na plataforma Steam.

A primeira coisa que percebi ao jogar a versão de PC é a ótima otimização que fizeram com o port. Os gráficos, além de muito bonitos, se enquadram muito bem com a estética do jogo e não há problemas de lag.

O grande diferencial de HyperDimension Neptunia está em sua história completamente inusitada. Com um humor que remete ao estilo da série Disgaea, há muitas referências satíricas com outros jogos, animes, mangás e inclusive literatura. Praticamente todos os diálogos contam com tiradinhas que por vezes são hilárias, por outras conseguem roubar algumas risadas, especialmente o jeito irreverente de Neptunia, a personagem central.

Narrada em estilo Kinetic Novel, as cenas de diálogos são incrivelmente bem desenhas e suavemente animadas, trazendo mais vida aos personagem. As personagens principais, as CPUs de Gamindustri, IF, Compa e Histoire, possuem excelente profundidade, mas o restante, cerca de 9 outras, são pouco trabalhadas. Porém, não deixam de ser engraçadas por suas próprias personalidades. MAGES, Broccoli, Tekken e todas as outras são hilárias e carismáticas em suas próprias medidas, mas com tantas personagens jogáveis, algumas rapidamente perdem um pouco seu sentido dentro da história.

Em termos de mecânica, o jogo conta com um sistema bastante interessante. Ainda que seja o estilo tradicional de JRPG, por turnos e comandos, o sistema de combate é dividido em 5 etapas. Inicialmente a personagem pode se movimentar livremente dentro de um espaço da arena. Sua área de ataque varia de acordo com a arma que está equipada nela e, ao foco no inimigo, é possível realizar uma série de opções, entre eles o ataque convencional. Durante o ataque convencional inicia-se 4 etapas. As 3 primeiras são o combo que variam em 3 estilos (rush, power e break), cada um com uma função diferente nos inimigos.

Rush aumenta a barra de EXE que permite o time utilizar poderosas habilidades às custas de porções da barra, ou simplesmente habilita a 5ª etapa com um finalizador de combo. Power é a força bruta do ataque, voltado ao dano e Break tira mais porções da barra de defesa do inimigo que, ao esvaziá-la, permite ao time causar muito mais dano.

Esse sistema parece confuso ao primeiro contato, mas é fácil de aprender e muito divertido. É interessante ver os tipos de combinações possíveis, já que há muitos comandos para escolher. Você pode optar por comandos com mais hits ou menos hits, dependendo do oponente e situação um tipo de combo tem mais vantagem que o outro.

Também há o sistema de Lily Rank, que funciona como afinidade de um personagem com outro. Em HyperDimension Neptunia Re;Birth 1 é possível escolher 6 personagem para participar de uma batalha. Sendo que 3 participam ativamente e os outros 3 servem como reserva. Cada personagem pode ficar com uma parceira, possibilitando a troca entre uma e outra durante o combate. Quanto mais vitórias com o time principal e suas parceiras, mais o Lily Rank aumenta, liberando novas habilidades passivas e ativas, além de possibilitar algumas habilidades combinadas.

Como há de se esperar de um JRPG, há uma enorme necessidade de grinding no jogo, ainda que a mecânica seja interessante e bastante dinâmica, não demora muito para que fique repetitiva. A quantidade de dungeons ajuda também. São mais de 40 dungeons, algumas liberadas pela história, outra fazendo craft dos planos delas. Muitos dos cenários, porém, são reaproveitados, não sendo incomum encontrar dungeons de mesmo estilo, apenas com inimigos diferentes.

Os inimigos são outra coisa engraçada do jogo. Existem inimigos chamados como “super otakus” ou telas flutuantes de um Visual Novel, em HyperDimension Neptunia Re;Birth 1, há uma enorme variedade de monstros para enfrentar e, ainda que muitos deles sejam tradicionais, há muitos outros inteiramente hilários, que variam de focas voadoras robóticas a mechas gigantes com CDs em suas costas.

Há também um certo desbalanço em relação aos chefes e inimigos comuns. Todos os chefes que você enfrenta durante o desenvolvimento da história são bastante complicados caso suas personagens não estejam razoavelmente evoluídas para enfrentá-lo. É uma característica comum de JRPG, mas há um certo desbalanço para os primeiros chefes enfrentados em relação aos outros. Não é nada impossível ou que estrague o jogo, mas pode parecer frustrante passar por uma incrível dificuldade nos primeiros chefes e nos restantes o jogo fluir com grande facilidade.

Outra coisa que pode parecer bastante estranho para quem entende japonês é a tradução. Muitas coisas são traduzidas com enorme diferença daquilo que é falado na versão de áudio em japonês. Isso se deve a dois fatores: o primeiro espaço de diálogo era limitado, então muita coisa se fosse traduzida ao pé da letra acabaria ultrapassando a janela de diálogos. Outra foi uma adaptação com a dublagem en inglês — que também está muito boam, diga-se de passagem.

Ainda que tenha me incomodado algumas traduções do japonês para inglês, a empresa não deixou de fazer um excelente trabalho. O sotaque de Compa que termina as sentenças com “desu” foi muito bem trabalhada na versão em inglês. Outra foram com os trocadilhos. IF é pronunciado “AiFu” e “Ai” é amor em japonês. Nos diálogos em japonês Neptunia e Compa brincam com o nome da amiga. A tradução e diálogo em inglês conseguiram fazer um ótimo trabalho trazendo a essência desse trocadilho para o idioma, tornando-o compreensível para todos.

Um elemento importante para a tradução. Ainda que algumas vezes sejam diferentes da dublagem japonesa, a essência consegue se manter quase sempre com a tradução e dublagem em inglês.

HyperDimension Neptunia Re;Birth 1 é um dos muitos jogos japoneses que chegam à Steam com bastante impacto. É um prato cheio para quem gosta do gênero JRPG e para quem procura uma história insana, engraçada e que proporciona muitas risadas. Para quem conhece um pouco — ou muito — do universo dos games, animes e mangás é um prato mais do que cheio, contudo, para que não tem muito contato, muitas das piadas pode parecer sem sentido e, não raramente, sem graça. Afinal de contas, o que mais se pode esperar de 4 Deusas CPUs que lutam na guerra dos consoles em um planeta chamado Gamindustri?

Gastei cerca de 60 horas para terminar o jogo a primeira vez com o “normal ending”. É possível terminar o jogo com o “true ending” logo na primeira vez, contudo, existem personagens secundários liberados através do sistema de craft de planos, cada um com uma história que complementa o fim do jogo. Para pegar a todos é preciso terminar pelo menos uma segunda vez devido a limitação de crafting.

Para terminar 100%, com todos os planos e itens liberados, são precisos muito mais de 100 horas de jogo, pois alguns itens mais raros são deixados apenas por inimigos em overcharge, quando eles mudam de cor e ficam muito mais fortes que o normal. Se o seu objetivo for fazer tudo o possível dentro do jogo, prepare-se para gastar muitas horas eliminando o mesmo grupo de monstros.

Não preciso mencionar, mas o sistema de New Game +, dá ao jogo muito tempo de replayability. O Coliseu para as DLCs também proporciona centenas (literalmente) de níveis a mais para conquistar com as personagens.

Vale ressaltar também que habilitar as novas personagens pelos Planos e conseguir o “true ending” é recomendável para quem tiver interesse em compreender melhor o contexto do segundo jogo: HyperDimension Neptnuia Re;Birth 2: Sisters Generation. Isso porque as personagens principais possuem suas raízes em Re;Birth 1.

O segundo jogo também já está disponível na Steam, também para quem tiver interesse em seguir com a série.

HyperDimension Neptunia Re;Birth 1 está disponível para Playstation Vita e PC através da Steam (a versão que joguei).

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Felipe Massahiro
Nerd / Articles

Jogador compulsivo, escritor obcecado, amante perturbado da literatura e jornalista de vez em quando.