Review — Little Busters!

Felipe Massahiro
Nerd / Articles
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6 min readSep 4, 2015

Apesar do anime ter lançado em 2012, até então Little Busters! era o único título da Visual Art’s / Key que eu ainda não havia assistido. De certa forma o anime conseguiu me surpreender com alguns eventos inesperados e o cuidado trabalhado em cada personagem.

Não é muito difícil imaginar as amizades de infância que nós temos e que acabam ficando por anos afins. Eu mesmo tinha alguns amigos que há muito perdemos contato, mas ainda tenho boas memórias do tempo que passamos juntos. Little Busters! inicialmente se conecta muito a esse sentimento.

O nome Little Busters é atribuído ao grupo de amigos de infância de Kyousuke, Rin, Riki, Masato e Kengo, os cinco inseparáveis cresceram e, já no colégio, quando a formatura de Kyousuke — o mais velho deles — se aproxima, para aproveitar ao máximo o tempo que resta juntos, ele decide iniciar um clube de baseball, o nome é claro: Little Busters.

Essa temática, apesar de não ser novidade para a empresa, me surpreendeu com os exageros engraçados de lutas arbitradas por Kyousuke, até eventos sobrenaturais.

Tal fórmula é o que faz os animes da Key, apetecerem meu gosto. Não é apenas uma história de amizades, encontros e partida, é a maneira como ela é contada. A sobrenaturalidade exagerada, impossível e ainda assim encaixada perfeitamente. O mistério que impulsiona a curiosidade para um objetivo ainda maior e o resultado que, mesmo esperado, consegue surpreender com um toque de dramático repleto de beleza que reverbera.

Little Busters seguiu essa mesma fórmula. “Esse mundo tem um segredo,” é a mensagem que chega em um dos gatinhos que a personagem Rin toma conta, para descobri-lo é preciso realizar as tarefas que chegam ocasionalmente. Sem explicação, apenas com a vontade de descobrir esse segredo, Riki e Rin, juntos aos Little Busters, completam tais tarefas enquanto treinam baseball.

Esse é o mistério central de Little Busters que quase não é mencionado ao longo da série, mas que ainda consegue manter a curiosidade vez ou outra. O enfoque ainda é na construção de um time completo de baseball, já que apenas os cinco não são o suficiente.

Riki acaba responsável pelo recrutamento de novos membros para o Little Busters, e reúne uma série de garotas, cada uma com sua história e motivações que as levaram a aceitar o convite.

São 10 personagens centrais que formam o time, fora alguns outros que os rondeiam em seu dia a dia. Não é fácil trabalhar com tantos personagens, especialmente se tratando de um anime de 26 episódios para a primeira temporada e de 13 episódios para a segunda. Porém, como era de se esperar, cada um deles é trabalhado em detalhes que revelam suas superações.

Mais do que essa ideia de que quando crescemos ainda queremos ser crianças, fazendo brincadeiras um tanto infantis, mas sempre junto aos amigos. Mais ainda do que o senso de amizade e lealdade que damos e conquistamos ao passar do tempo. O anime é também uma importante mensagem de como nós amadurecemos como pessoas, as decisões que tomamos e todas as experiências por quais passamos que nos fazem crescer como pessoas.

A superação do passado e o desejo de caminhar em frente é constante em cada personagem de Little Busters. Talvez esse cuidado ao trabalhar tantos personagens é que faz os animes da Visual Art’s / Key tão especiais para mim. Claro que ela não é a única empresa a fazer isso, mas há um certo charme no storytelling que eles fazem em suas adaptações que simplesmente me conquistam.

A construção do time e a história de superação de cada personagem é o foco da primeira temporada de Little Busters! com seus 26 episódios. A segunda temporada de 13 episódios, Little Busters! ~Refrain~ é onde todos os segredos são revelados.

É em Refrain onde o anime deixa de ser uma introdução e passa a ter a tão característica essência sobrenatural que a Key sabe utilizar tão bem. O mistério do mundo em que eles vivem é revelado e, conhecendo já os diversos trabalhos da empresa, eu já tinha uma boa ideia da trama e de como seria o final, isso já da primeira temporada.

Pelo menos é o que eu pensava. O final se mostrou bem diferente e por um lado fiquei um pouco desapontado, por outro, senti-me feliz em saber que o que eu esperava não aconteceu da forma como eu previa e da forma como a própria narrativa queria.

Não vou contar os detalhes para não estragar esse mistério que inclusive pertencem a esse legado da Key. Construir uma história de drama com um mistério tão envolvente e cheio de sobrenaturalidade, não é algo fácil, especialmente quando conseguem manter esse segredo escondido por duas temporadas.

Outra coisa que atraí em Little Busters é o carisma dos personagens e o relacionamento entre elas. O grupo de cinco passa para dez integrantes e seus envolvimentos e colaboração para a história (cada um deles é bastante importante, diga-se de passagem, para o desenrolar da série), conseguem ter uma certa sinergia, apesar de muitos possuírem comportamentos completamente diferentes.

Se tratando de personagens, há algo que eu gostei muito também, a questão do personagem principal. Kyousuke sempre foi o líder do grupo Little Busters, mas o foco da história é atribuído a Riki e, mais tarde, Rin assume um importante papel também. Esse pêndulo é compreensível, uma vez que Riki é o personagem principal no Visual Novel em que o anime é baseado.

Essa troca de peso é bem legal, pois, ainda que o universo do anime gire inicialmente em torno de Kyousuke, gradativamente essa responsabilidade passa para Riki. Isso só é possível com a maturidade que Riki conquista ao descobrir e ajudar cada personagem que ingressa no time.

De maneira geral, Little Busters é um anime muito interessante e bem diferente da Visual Art’s / Key. A primeira temporada é um estilo de slice of life descompromissado, voltado aos conflitos de nossos passados (alguns realmente fortes como violência e abuso infantil), com a superação de cada um de nós.

Já em Refrain, toda a estrutura da primeira temporada é colocada em cheque e aquele pequeno, aparentemente inocente, mistério se mostra uma peça fundamental que representa a total existência da série. Cada fragmento pelo qual os personagens — e o espectador — passaram na primeira temporada, suas crenças e expectativas, acabam se misturando em uma trama de sobrenaturalidade com um toque do drama característico da Key. Refrain possui uma beleza e poesia própria que apropria-se gentilmente da base fundamentada pela primeira temporada.

Com um visual maravilhoso e uma trilha bem divertida, por horas bastante tristes, que se encaixam muito bem com o clima de cada cena, Little Busters! é um deleite para os fãs da empresa por seu final um tanto incomum, que pode ou não agradar tanto e, para quem não conhece, um anime que tem um pouco de tudo, principalmente um plot twist bem legal e acalentador.

Vale lembrar que eu não sou o maior fã de animes de esportes, foi também um dos motivos por ter evitado Little Busters! por tanto tempo. Para a decepção de alguns, o baseball é muitas vezes utilizado apenas como algo secundário.

Little Busters! e Little Busters! ~Refrain~ são inspirados no jogo Visual Novel produzido pela Visual Art’s / Key, lançado originalmente para PC com idade livre e, mais tarde, para PS2, PS3, PSP, PSVita e PC em versão adulta, chamada de Little Busters! Ecstasy.

O anime pode ser assistido pelo serviço de streaming Crunchyroll, onde ambas as temporadas estão disponíveis.

Little Busters! EX

Little Busters! EX são 8 episódios que foram lançados juntos à versão Blu-Ray de Little Busters! ~Refrain~. Nesses episódios são narradas 3 histórias diferentes, complementando o passado de Sasasegawa e Futaki, adicionando ainda a nova personagem Saya Tokido que complementa o passado de Riki.

As histórias se passam em instantes diferentes de Refrain, e são inspiradas pelas novas rotas implementadas em Little Busters! Ecstasy.

Infelizmente não há streaming para Little Busters! EX.

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Felipe Massahiro
Nerd / Articles

Jogador compulsivo, escritor obcecado, amante perturbado da literatura e jornalista de vez em quando.