Review — Lost Dimension

Felipe Massahiro
Nerd / Articles
Published in
9 min readAug 5, 2015

O JRPG Tático da Lancarse, localizado no ocidente pela Atlus traz um conceito interessante e divertido para o Playstation Vita e Playstation 3.

Em Lost Dimension um homem chamado The End realiza uma série de ataques ao redor do planeta matando bilhões de seres humanos. Durante a destruição uma imensa e misteriosa torre surge e 11 psiquicos com poderes distintos são convocados pela ONU para se infiltrarem na estrutura e eliminar The End.

Seguindo um modelo de combate que me lembrou muito Valkyria Chronicles, em que os personagens podem se movimentar livremente dentro de um determinado espaço e realizar diversas ações, a mecânica tática do jogo é extremamente simples e dinâmica, fazendo com que o jogador pense em como irá utilizar os seus personagens em suas estratégias.

O esquema de assistência colabora com o dinamismo e um pouco de reflexão em como o jogador irá concretizar suas ações com o personagem selecionado. Todos em volta do inimigo que esteja dentro da área de ataques normais auxiliam o personagem que está atacando (seja com um ataque normal ou por sua habilidade psíquica chamada de “Gift”). Contudo, há um porém. As assistências ocorrem somente quando os outros personagens tenham alguma confiança em relação em quem está realizando a ação.

Isso é porque ganhar a confiança e se relacionar positivamente com os outros personagens é parte fundamental da história e mecânica de jogo.

Outro esquema que torna o combate bastante interessante é a opção de “Defer”. Com ele você passa o turno do atual personagem para outro próximo a ele. Isso possibilita alcançar inimigos mais distantes ou mesmo formular melhores estratégias para que todos dêem assistência dentro de um mesmo turno de ataque.

Diferente de jogos táticos como Xcom e Valkyria Chronicles, não há diferenciação de terreno em Lost Dimension, isso é, personagens não podem utilizar estruturas para se esconder e se defender em um turno, fazendo com que cada mapa seja um jogo rápido que pode durar apenas alguns poucos turnos (houveram mapas que consegui eliminar todos os inimigos em um único turno utilizando o sistema de assistência e Defer).

Gifts, ou habilidades psíquicas dos personagens são únicos. Em outras palavras, cada personagem conta com sua própria árvore de habilidades e sua própria mecânica de combate. Isso parece trivial para um jogo tático, onde podemos construir um equipe baseado em nosso estilo de jogo, mas em Lost Dimension as coisas não funcionam assim.

Ao chegarem na torre, os 11 personagens perdem a memória e a única coisa que conseguem efetivamente se lembrar — além de como lutar e utilizar suas habilidades — é sua missão de eliminar The End. Parece simples se não fosse por uma sacada: entre os 11 há um traidor.

Porém esse não é o único problema. Para que eles possam avançar na torre, chegar ao topo e matar The End, em cada andar é necessário realizar um julgamento que consiste em uma votação de quem será “apagado,” somente assim as escadarias para o próximo nível se abrirá e eles podem prosseguir com a missão.

Sho, o personagem principal de Lost Dimension, possui o “Gift” da premonição. Utilizando sua habilidade ele deve encontrar o verdadeiro traidor e convencer os outros a votarem nele. Outro problema que surge é que em cada andar há um novo traidor. Isso se deve ao fato de que as memórias retornam aos poucos para os personagens e, quem antes era inocente e um importante aliado, pode se tornar um traidor.

Para desvendar o traidor Sho conta com 2 sistemas. O primeiro é seu poder de ouvir os pensamentos de seus aliados que participaram de um combate. Isso ocorre sempre no final de cada mapa.

Quando há um suspeito — no máximo existem 3 suspeitos — há uma distorção nas vozes que ecoam.

O segundo sistema é uma espécie de minigame, onde Sho utiliza 1 ponto de visão (Vision Point) para mergulhar dentro do coração de um suspeito. Perseguindo-o dentro desse universo íntimo onde os pensamentos da pessoa ecoam, Sho pode descobrir se ele ou ela é ou não o traidor. A partir daí, sempre que retornam ao lobby, dois personagens irão expor suas suspeitas e pedir a opinião de Sho, fazendo com que ele possa direcionar a votação para o verdadeiro culpado.

Terminado as missões principais é chegada a hora do julgamento. Se tudo foi realizado corretamente, o traidor daquele andar será eliminado e o time poderá prosseguir para o próximo nível. Caso Sho erre seu julgamento ou falhe em convencer os outros a votarem no culpado, o verdadeiro traidor continuará infiltrado no próximo andar, gerando problemas futuros para todos.

Esse sistema de eliminação é o verdadeiro charme de Lost Dimension e obrigam o jogador a se adaptar em qualquer formação de equipes. Por exemplo, o único médico presente no time, Sojiro Sagara era o traidor do segundo andar. Passei o restante do jogo sem um médico dedicado, sendo obrigado a utilizar itens.

Mas nem tudo está perdido. Quando um personagem é eliminado, ele deixa para tráz uma matéria — um espécie de artefato — que carrega a essência de suas habilidades. Dependendo do personagem que o equipar, pode liberar novos poderes na árvore de habilidades e, além de tudo, possibilita utilizar alguns outros poderes originais do personagem eliminado. Então, apesar de ter perdido o único médico dos personagens, eu pude utilizar alguns poucos “Gifts” de cura dele com eficiência reduzida.

Antes de pensar em montar uma estratégia para antecipar quais personagens você poderá ter no fim do jogo, esqueça. O sistema de traição é completamente aleatório. Não há como prever quem o RNG (Random Number Generator) irá selecionar para ser o traidor do andar.

É possível se precaver realizando as mesmas missões logo no inicio de um novo andar e descobrir quem é o traidor. Com sorte — muita sorte — é possível descobrir com apenas um ponto de visão. Caso isso não aconteça, é necessário avançar um pouco na história para conseguir mais pontos. Esse risco é porque sempre existirão 3 vozes suspeitas nas visões de Sho, sendo somente um deles o verdadeiro culpado. Então, além de descobrir quem são os 3 personagens suspeitos, é necessário utilizar os pontos de visão para revelar qual desses 3 é o verdadeiro traidor.

Tratando-se de história, Lost Dimension possui alguns personagens bem interessantes, cada um com sua própria personalidade e histórico. Conforme o seu relacionamento melhora com eles, uma missão de uso único se abre — essas missões são realizadas apenas uma vez e ficam travadas para o resto do jogo — complementando a história e motivações do personagem. Os conflitos em relação às suas personalidades também são bem legais, talvez não tão profundas, mas ilustram muito bem um panorâma de como cada um deles aprendeu a lidar com seus “Gifts”.

As cenas são narradas em forma de Visual Novels e ocasionalmente aparecem certas opções que irão melhorar ou piorar sua relação com o personagem selecionado, dependendo da sua escolha. Além disso, a cada novo ciclo de conversas, somente os dois primeiros selecionados irão ter o nível de confiança aprimorado. É possível ver a conversa do restante, mas sem alterar a relação entre os personagens.

Outra característica que achei bem interessante é que os personagens aparecem no fundo e a câmera se movimenta, diferente das Visual Novels que joguei. Assim a conversa muda de perspectiva em tempo real, isso proporciona um efeito legal.

Os diálogos também são, em sua maioria, muito bons. Outros, são extremamente artificiais. Esses problemas narrativos são compreensíveis, já que, além de serem 11 personagens, não há como prever quem estará na história do começo ao fim. Por isso, não são tão raras as ocasiões em que a fala de um personagem parece não se encaixar tão bem com outros, já que possivelmente eles foram formulados para possuir sentido isolado.

Em relação às dublagens, algumas delas são muito bem executadas e lembram em certos aspectos, a dublagem de Persona 4. Não há opção para o idioma Japonês, o que pode frustrar muita gente, mas isso é algo característico da Atlus. Outras vozes em inglês, como George Jackman são hilárias, mas forçadas, não tanto pelo dublador, mas pelo próprio texto.

Se você gostou da dublagem de Persona 4, então é muito possível que goste do trabalho feito em Lost Dimension. Admito que demorei um pouco para me acostumar — tanto em Persona 4 quanto em Lost Dimension. Alguns dos diálogos são dublados de uma maneira bem estranha, mas no geral, o trabalho ficou ótimo.

Apesar desses pequenos problemas, Lost Dimension apresenta uma história com bastante mistério. Os verdadeiros motivos nos ataques realizados por The End, a origem dos psíquicos e da misteriosa torre, além das motivações dos traidores, tudo paira no ar mesmo após terminar o jogo.

Quando terminei, muito da história ficou solta, algo que até mesmo Sho questiona. As palavras finais de The End deixam um imenso buraco na trama de Lost Dimension e, espero eu, que sejam respondidas através do True End.

Lost Dimension é um jogo relativamente curto. São poucos andares e cerca de 6 missões por andar (3 da história principal e 3 missões opcionais) — sem contar as missões disponíveis por DLC, missões dos personagens (que totalizam 10, um para cada personagem com exceção de Sho) — levei um pouco mais de 10 horas para terminar o jogo pela primeira vez.

Contudo, para realizar o True End requer sorte e diversos playthrough. Estabelecer a relação de confiança máxima com cada personagem são precisos diversos andares e muitas missões (colocar um personagem no time de combate aumenta o relacionamento dele com a equipe também), porém se quem você precisa for o traidor, então somente em no próximo NG+ (New Game +).

É o que estou passando no momento, estou na minha segunda rotação em Lost Dimension, faltavam apenas 4 personagens para conseguir a máxima relação de confiança, contudo um deles calhou de ser o traidor. Tive de eliminá-lo, pois não queria problemas futuramente.

Durante o NG+ o jogo é “resetado”. Isso é, o nível, os itens, o dinheiro, a árvore de habilidades e as matérias são apagadas. O que é herdado de uma rotação para outra são os relacionamentos maximizados, alguns pontos de “Gift” e pontos de visão.

Tratando-se dos relacionamentos, o status é zerado também, mas caso você já tenha maximizado a relação com determinado personagem, não é necessário gastar tempo novamente, deixando-o com uma confiança normal é mais que o suficiente, possibilitando o foco naqueles que precisam ser maximizados.

Os pontos de “Gift” herdados, pelo que li em alguns fóruns, são aleatórios. Em minha segunda rotação começei com 21 pontos. Mas isso tem lá seus problemas. As árvores de habilidades são consideravelmente grandes, fazer upgrades logo no início do jogo pode dar algumas vantagens, contudo, é preciso cuidado. Por exemplo, eu fiz upgrade máximo em uma habilidade de Agito Yuuki que, de tão alto o custo, seu nível não permitia que eu usasse em combate, perdendo toda vantagem.

Os pontos de visão herdados são muito úteis, já que a partir da segunda rotação, Sho tem controle sobre quem investigar. Na primeira vez que se joga, o primeiro eliminado não é totalmente descoberto, ainda que exista a votação.

No geral, Lost Dimension é um excelente JRPG Tático que traz algumas novidades muito interessantes. O sistema de julgamento é fantástico, fazendo com que a “vida útil” do jogo se extenda bastante, além de obrigar o jogador a se adaptar a diferentes tipos de situações e estratégias, impedindo favoritismos com os personagens.

A opção de NG+ obriga qualquer jogador que queira desvendar o mistério por traz da trama de Lost Dimension jogar repetidas vezes para juntar as peças do quebra cabeça e revelar, espero eu, a história total do jogo.

Com seus pequenos problemas de diálogos, dublagens e lag (pelo menos no PSVita senti uma queda de FPS brutal no lobby, mas fora isso no jogo em si tudo flui normalmente), o jogo é um excelente título para fãs de estilo tático.

Lost Dimension está disponível para PS3 e PSVita, tanto em versões físicas quanto digitais.

--

--

Felipe Massahiro
Nerd / Articles

Jogador compulsivo, escritor obcecado, amante perturbado da literatura e jornalista de vez em quando.