[Review] Non Non Biyori / Non Non Biyori Repeat

Felipe Massahiro
Nerd / Articles
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5 min readMay 16, 2016

Quando a tecnologia não mais controlar nossas vidas, mas, pelo contrário, ser apenas algo supérfluo, quase que esquecido em nosso cotidiano, poderemos então ver a beleza das coisas simples.

Non Non Biyori é um anime antigo. Lançado em 2013, teve sua segunda temporada lançada o ano passado, em 2015.

O que mais chama a atenção desse pequeno slice of life, diferente dos demais animes do gênero como K-on, Nichijou, A-Channel e afins, é a abordagem central. No lugar de um cotidiano em uma cidade grande, ou em zonas populosas, Non Non Biyori se passa no campo, um lugar onde poucas pessoas mora, bem longe das grandes cidades.

Quando Hotaru Ichijou chega transferida de Tokyo na pequena escola Asahioka, ela encontra com a pequena Renge Miyauchi, as irmãs Natsumi e Komaru Koshigaya e seu irmão mais velho cujo nome nunca é mencionado. Sério… ele não tem dublador. Não sabemos o nome dele. Se ele é super inteligente, o que aparenta já que está sempre lendo algo na sala de aula e nunca participa das brincadeiras das outras meninas. Se ele é um ser onipresente, pois quando menos se espera ele está presente. Ou se ele é tudo isso e mais esquisito…

Todos os personagens possuem idades diferentes, mas frequentam a mesma e única sala de aula ativa da escola. Inicialmente Hotaru acha estranho, mas logo passa a se divertir com as outras colegas.

A história poderia ser de Hotaru, uma garota da cidade grande, se adaptando a vida no interior. Mas Non Non Biyori é diferente. Para Hotaru, tudo é empolgante, diferente e divertido.

Não há conflito no anime. Não há nada excitante. Não há uma trama central ou um objetivo. Non Non Biyori flui de maneira vagarosa, parada, tranquila e isso acalenta o coração e faz com que um sorriso se abra ao ver o dia a dia das 4 personagens centrais. Cada instante é uma aventura em que nada acontece. Cada momento é o dia a dia delas. Suas brincadeiras na escola, como por exemplo de derrubar a régua um dos outros da mesa da professora. Saltar da ponte no riacho. Caminhar por horas conversando. Comer a sobremesa no alto de uma colina sob uma árvore de cerejeira.

Tudo longe de tecnologia. Tudo na simplicidade da vida. Em Non Non Biyori as coisas simples do cotidiano são lindos retratos que mostram que a vida pode ser bela e divertida.

Basicamente é essa simplicidade do cotidiano da pacata vida das meninas que faz Non Non Biyori diferente dos outros animes do gênero. É uma abordagem diferente que remete as ingênuas brincadeiras de crianças. Sendo elas de idades e classes diferentes, especialmente Renge, é interessante ver como elas interagem sem preconceitos de idade, sem malicia ou interesse.

Tanto que em uma cidadezinha onde não há outras crianças como Renge, percebemos como o ambiente muda quando uma menina da cidade passa as férias por lá.

Cada evento, por mais trivial que seja, é apresentado de uma forma especial e divertida.

Non Non Biyori Repeat

A segunda temporada lançada em 2015 retoma o período de um ano em que a primeira temporada se passa.

Repeat não é uma recontagem, mas uma história que se passa entre os dias não mostrados ao longo da primeira temporada e, inclusive, essa segunda temporada, chega a cruzar com alguns eventos da primeira.

Essa nova temporada reafirma que há muito para ser contado ainda e que, por mais pacata que a vida no campo pareça ser, ela é divertida e interessante se você permitir, assim como as 4 personagens o fazem.

Uma crítica social

De todos os animes estilo slice of life, Non Non Biyori é realmente único e muito especial. É uma história que acalenta o coração e tranquiliza a alma. Os cenários são lindos. As brincadeiras das meninas lembram bastante a infância longe da tecnologia. Não há conflitos, complexidade ou uma trama central.

Non Non Biyori é o cotidiano nu e cru. Aqueles dias monótonos que, com o passar dos anos, nos lembramos com uma imensa ternura.

Apesar de todo esse ambiente alegre e feliz, o anime também é uma importante crítica social à sociedade japonesa.

Muitas vezes enquanto as personagens brincam ou caminham pela cidade, percebemos que quase não há pessoas por lá. Não há outras crianças. Não há mais pessoas que pegam o ônibus. A única loja da cidade que elas frequentam é uma velha loja de doces. Não existem lojas de conveniência (Konbini) presentes praticamente em cada esquina nas zonas urbanas, pelo contrário, existem pequenas lojas onde não há vendedor. Você deposita o dinheiro em uma latinha e pega o produto que quer (vegetais das plantações).

É maravilhoso, mas também um tanto melancólico. É estranho ver essas crianças sempre sozinhas, apesar de sempre se divertirem. Tão poucas pessoas e afins.

Ao longo da história, aparecem outras amigas. A irmã do meio de Renge, que estuda em Tokyo e aparece durante as férias. A vizinha das irmãs Koshigaya que estuda em uma escola tão longe que raramente às vê. São apenas as duas que se juntam ao elenco ocasionalmente.

Isso mostra um problema sério que acontece no Japão.

O vazio do interior reflete as pessoas se mudando para as grandes cidades. As escolas fechando que no caso do anime é uma sala misturada com apenas 5 alunos, todos de séries diferentes, além de uma se mudando e outra tendo que viajar por horas para conseguir estudar, tudo isso reflete uma realidade assombrosa do Japão.

Não apenas a isso, mas Non Non Biyori também mostra o declínio no índice de natalidade e de população no Japão. Com isso, consequentemente, a ausência de alunos nos ensinos primários e fundamentais.

Longe de fanservices. Ausente de exageros como Nichijou. Fora da trivialidade das grandes cidades e das atividades de clubes. Non Non Biyori é um anime especial, com uma abordagem diferente e que proporciona momentos de ternura, tudo isso sem deixar de trazer uma importante crítica social.

Non Non Biyori e Non Non Biyori Repeat, ambas as temporadas, estão disponíveis através dos serviços de streaming Crunchyroll e Anime Network (não disponível no Brasil).

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Felipe Massahiro
Nerd / Articles

Jogador compulsivo, escritor obcecado, amante perturbado da literatura e jornalista de vez em quando.