Review — Steins;Gate

Felipe Massahiro
Nerd / Articles
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4 min readJul 2, 2015

Apesar de antigo, assisti apenas agora o anime de 2011 e entendo o motivo de tamanho sucesso. Ele é o primeiro lugar no ranking do Anime News Network como série de TV, com a pontuação 9.11. O que também colaborou com suas diversas críticas positivas.

Rintaro Okabe é um cientista louco, como ele gosta de se denominar. No comando do laboratório Future Gadget, após um assassinado e por acidente, ele e seus amigos acabam descobrindo como enviar mensagens para o passado, com isso acaba provocando uma série de desastres.

Com uma mistura entre Efeito Borboleta, De Volta para o Futuro e algumas teses físicas sobre a dimensionalidade temporal, Steins;Gate é bem diferente de um anime de romance e comédia. A história é extremamente rica e a cada instante espanta tanto com suas idas e vindas, que faz de cada episódio algo memorável.

Acredito que entre os animes memoráveis, existam 3 tipos: o bom, o excelente e o épico. Steins;Gate se enquadra nessa última categoria. Não apenas sua narrativa, exagerada, caótica, confusa e repleta de personagens tem um início de impacto, onde uma série de dúvidas e confusões são largadas para quem assiste, como esse emaranhado de informações se ajeita de uma forma maestral. Todos os personagens centrais, ainda que apareçam pouco, possuem uma enorme profundidade que não para de evoluir junto ao anime. Cada um tem uma história com começo, meio e fim, cada um deles trabalhados cuidadosamente e que se encaixam perfeitamente com o contexto.

Toda a confusão e dúvidas transmite em um certo ponto o próprio sentimento de Okabe. Seu jeito peculiar, como falar no celular desligado, e sua habilidade de ser o único que consegue reter as memórias de um fluxo do tempo, casam muito bem com a forma como ele lida com as mudanças, até o ponto de quebra.

E esse é outro ponto forte do roteiro. Uma vez que algo tão pequeno quanto enviar uma mensagem para o passado, pode alterar o curso da história, fazendo com que a linha do tempo mude, todas as mudanças de uma linha são esquecidas já que nunca existiram, mas Okabe consegue se lembrar daquilo que nunca foi para o restante do mundo.

Com essa descoberta e a habilidade de reter as memórias de uma linha do tempo para outra, há uma forte lição de moral sobre tal poder. Principalmente quando se trata em realizar desejos, para tudo sempre há uma consequência, pois ainda que queiramos alterar algo em nossas vidas, nós só podemos ser o que somos hoje justamente por causa desses eventos indesejáveis, e mais do que ninguém é Okabe que acaba por sentir essas dores.

Outra forte lição e muito bem desenvolvida, é a relação entre a amizade, o quanto estamos preparados para fazer tudo que nos é possível para aqueles que amamos, além de tudo o que podemos sacrificar por eles. Cada personagem tem uma grande relevância uns para outros e a amizade que se cultiva ao longo das aventuras, e desventuras, faz apenas crescer mais e mais essa relação entre eles. Mas para toda a ação existe uma reação. Por isso ajudar um amigo implica em fortes consequências e vemos isso com o desenrolar de Steins;Gate.

Muito mais que uma história de amor e de amizade, o anime é uma obra de arte do sci-fi. Além dos conceitos físicos aplicados, a forma como a narrativa se encaixa perfeitamente, uma peça com a outra, do começo ao fim, obriga a quem assiste prestar atenção em detalhes, o que não é um problema já que as surpresas nunca acabam nesse mistério. Contudo, essa atenção é necessária para quem não assistir de uma vez ou em um curto espaço de tempo, já que alguns eventos vão e voltam, do começo ao fim da série. Esse é apenas mais um dos muitos aspectos que conquistaram o meu profundo interesse pelo anime.

Tudo isso faz com que os 25 episódios de Stein;Gate sejam memoráveis, uma aventura épica que proporciona muitas risadas e algumas lágrimas. Esse é o resultado de cada história repleta de vida desses personagens, cuidadosamente trabalhados para se encaixar na narrativa onde não deixa espaço para nem uma gota a mais ou a menos da perfeição.

A arte e a música também são bem interessantes. Muitos dos cenários e o laboratório — que na realidade é o segundo andar de um prédio bem pequeno — transmite um ar diferente a cada instante, ainda que seja o mesmo local, há momentos em que o mundo parece mais melancólico, em outros mais alegre, ou com um teor nostálgico. Mesmo em regiões movimentadas como se nada no mundo tivesse mudado, o estado contraditório de Okabe enriquece o resto do ambiente.

Steins;Gate é baseado em uma Visual Novel, de grande sucesso que nasceu na plataforma X360, mais tarde para PC, PSP, iOS, Android, PSV e PS3. A adaptação de anime foi tão bem escrita que o roteirista Naotaka Hayashi foi elogiado pelo produtor Tomoya Asano da Square Enix, o que lhe rendeu um cargo na produção do jogo Bravely Default: Flying Fairy.

Steins;Gate Fuka Ryouiki no Déjà Vu é o movie de Steins;Gate que se passa um ano após os eventos da série. Talvez não tenha tanta profundidade quanto a série, já que o movie possui aproximadamente 90 minutos de duração, mas ele funciona como um complemento à história, retomando alguns pontos, ao mesmo tempo que cria um contexto próprio de eventos.

Essa história trabalhada em cima de clichés, que criou uma identidade inédita, somado a formulação de um roteiro extremamente complexo que se desenrola com tamanha maestria que não deixa quase nenhuma ponta solta, além de personagens ricos e incrivelmente detalhados, faz com que essa série, ainda que seja de 2011, tenha sempre um ar de novo independente do tempo que seja visto. (Sem trocadilhos!)

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Felipe Massahiro
Nerd / Articles

Jogador compulsivo, escritor obcecado, amante perturbado da literatura e jornalista de vez em quando.