Review — The Blacklist

Felipe Massahiro
Nerd / Articles
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4 min readAug 4, 2015

Manipulação, conspiração dentro de conspiração, muitas mentiras e mais manipulação fazem a trama de The Blacklist um ótimo thriller com uma história bem interessante.

Raymond Reddington (James Spader), uma espécie de consultor do crime e um dos mais procurados na lista da FBI, se entrega afirmando que um desastre está para acontecer, mas tem uma sacada, ele só irá falar com a novata Elizabeth Keen (Megan Boone). A partir daí Reddington, ou “Red”, propõe um acordo: entregar as pessoas que compõe uma lista de criminosos que governam o mundo como conhecemos.

Invisíveis para quaisquer agências, esses criminosos são os mais perigosos do mundo, mas ainda assim nunca descobertos pela lei.

Em troca Reddington falará única e exclusivamente com Keen. Tendo a FBI na palma da mão, The Blacklist estrutura uma história repleta de mistério e conspirações. Os motivos desconhecidos em seu interesse por “Lizzy,” os nomes que em cada episódio ele vai entregando ao FBI e ajudando-os à encontrá-los, faz com que a série inicie em um caos em que apenas “Red”, com uma incrível interpretação de Spader, parece compreender todo o jogo. Isso é maravilhoso. A personalidade sarcástica de Red, somado ao seu conhecimento infinito dentro do jogo de poder, aos poucos revela-se que esses criminosos fazem parte de um esquema muito maior. E é aí que as conspirações começam. Não é apenas um envolvimento com agentes do crime organizado dos quais misteriosamente ninguém parece conhecer, mas que existem, de empresas privadas e do próprio governo. Há muito mais por tráz da trama de The Blacklist e ela é o jogo da manipulação de poderes.

A política está envolvida intimamente com o crime e as empresas privadas, formando um triângulo amoroso em um universo em que “Red” é como um rei.

Essa história em que cada nome da lista é revelado com um motivo maior, seguido de um outro motivo maior ainda e que leva a mais outro ainda maior, faz com que em cada temporada as revelações sejam uma surpresa bem interessante, mostrando que cada um dos personagens principais possuem uma função que não está jogada ao acaso na trama. A própria vida pessoal dos personagens, como o da própria “Lizzy”, são repletas de revelações que trazem à luz pequenas revelações de algo muito maior. Uma conspiração, dentro de uma conspiração que se fundamenta em um mistério quase impossível de se ver. Somente aquilo que o autor quer revelar é mostrado, mas sabemos que no fim, “Red” tem todas as cartas na manga e ele faz questão de brincar com elas na cada da FBI e dos espectadores.

Apesar de uma história envolvente, uma atuação clássica de um James Spader que me fez voltar ao famigerado Alan Shore de Boston Legal, The Blacklist tem seus problemas.

Uma trama tão bem desenvolvida que consegue manter o mistério em um ritmo constante sem perder o fôlego, não é acompanhada de alguns fatores que me incomodaram.

Há uma falta de compromisso com a realidade em alguns momentos da série. Um exemplo é a existência de um vírus que simplesmente não existe no mundo real, criado apenas para complementar um episódio da série. Outro é a curiosa complacência da FBI com algumas ações de “Red”. É compreensível que eles precisem do mestre Reddington para salvar vidas e desvendar crimes, mas em certas ocasiões a FBI pareceu tirar informações “do chapéu” e em outras, simplesmente ignorar o fato de que Reddington é um criminoso da lista dos mais procurados.

Também reconheço que Elizabeth e Raymond são os personagens centrais, por um lado temos a sagacidade da Lizzy em querer se desvincular do perfil sociopata de Red, e do outro temos um mestre da manipulação que está sempre usando a FBI para seus próprios fins. Por mais interessante que isso seja e por mais profundidade que esses personagens tenham, em alguns episódios e em certos momentos no desenrolar da trama, a capacidade de Red em controlar o fluxo de toda a história parece exagerada.

Trailer da 1ª Temporada

Contudo, essa escolha de desenvoltura é boa, já que são nessas revelações que surgem em pequenas migalhas de pão espalhadas pelos episódios revelam os interesses do personagem de Spader.

Essas pequenas recompensas que formam o quebra cabeça inteiro, faz com que cada episódio da série seja um deleite para quem quer entender a trama total. Por outro lado, eu também vejo essas pequenas pistas algo que pode ser entendiante para algumas pessoas, pois certos momentos a migalha retribuída por um episódio é tão pequena que faz questionar se seria mesmo necessária todo o desenrolar para conseguí-la.

No geral a primeira temporada de The Blacklist é empolgante, possui muitos aspectos negativos que ofuscam alguns pequenos problemas. A segunda temporada traz revelações ainda mais surpreendetes que na primeira. É bem mais dinâmico e consegue manter o ar de mistério, desenrola a grande conspiração que envolve seus personagens centrais e ainda consegue criar mistérios significativos.

Com uma trama e narrativa espetacular, um personagem incrivelmente cativante — que se encaixou perfeitamente com James Spader — a série é perfeita para quem gosta de histórias construídas em complexidade que necessitam de atenção para o resultado final de cada episódio. Como história, contudo, The Blacklist é bastante genérico. A tal conspiração que gira em torno daqueles que manipulam o mundo real, é interessante, mas não é genial. O grande charme da série se encontra em como as coisas são reveladas, que, em sua maioria, são eventos inesperados.

As duas temporadas de The Blacklist estão disponíveis através do serviço de streaming Netflix.

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Felipe Massahiro
Nerd / Articles

Jogador compulsivo, escritor obcecado, amante perturbado da literatura e jornalista de vez em quando.