General Motors

A História da Chevrolet no Brasil

Guilherme Failace
Nerd Garage
Published in
11 min readJan 22, 2020

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No post passado, comentei sobre o primeiro carro do meu pai, uma Variant II branca. Porém o carro que ele comprou depois, um Monza SL/E 1988( o carro onde aprendi a dirigir 🙌), me trouxe até o post de hoje.

Monza SL/E 1988
Monza SL/E — 1988 (#Saudades)

Como esta empresa americana veio parar aqui no Brasil e construir ícones como o Monza que com mais de 30 anos hoje, ainda era um carro extremamente confortável e dono de um motor com mais de 100 mil km rodados que ainda andava muito bem.

A velocidade que une

No ano de 1908 William Durant criou a GM Motors nos EUA, e contratou Louis Chevrolet, engenheiro mecânico e famoso piloto norte-americano que tinha o recorde de velocidade de 179km/h para promover a marca GM. Porém em 1910, Durant foi expulso da companhia e tomou a decisão de se juntar a Chevrolet e outros parceiros para criar a Chevrolet Motor Car Company em 1911. Apesar de levar o nome do piloto, Louis Chevrolet deixou a empresa em 1913.

Louis Chevrolet e William Durant

A expansão da Chevrolet era voraz, nos EUA já possuía sete linhas de veículos, além de peças, construiu uma fábrica em Copenhague, capital da Dinamarca, para atender aos países escandinavos, como Áustria, Alemanha e Rússia. No ano seguinte, foi para a Bélgica. Em 1918, chegou ao Canadá, a partir da compra da Chevrolet Motor Company. Em seguida, adquiriu o controle da Opel, na Alemanha. Em 1925, foi a vez da Vauxhall Motors Ltd., na Inglaterra.

Chegada ao Brasil

Nos anos 20 o Brasil estava sendo impulsionado pelas exportações de café, com isso o dinheiro no pais começou a aumentar e coincidiu com os planos da Chevrolet de começar a internacionalização da marca chegando aqui no Brasil em 1925. Sob o nome de Companhia Geral de Motores do Brasil(General Motors do Brasil), a Chevrolet começou as obras da primeira linha de montagem em Janeiro de 1925 na Avenida Presidente Wilson, 201, no bairro paulistano do Ipiranga, símbolo da emergência industrial da metrópole nos anos 20, próximo da ferrovia Santos-Jundiaí.

Primeira Linha de Montagem da General Motors do Brasil

O Primeiro Chevrolet Nacional

Oito meses depois de começar a linha de montagem, nascia o primeiro Chevrolet montado no Brasil com peças importadas dos EUA, um furgão de entregas urbanas. A companhia trazia em CKDs (veículos totalmente desmontados) todos os seus modelos das marcas Buick, Oldsmobile, Chevrolet, Oakland, Cadillac e Pontiac. A produção inicial era de 25 unidades por dia. No ano seguinte, a marca elevou-se para 40 unidades diárias e, em 1927, para 150 por dia.

Primeiro veículo montado no Brasil pela General Motors do Brasil

No ano seguinte, foi produzido o Chevrolet de número 25 mil, o que era fabuloso para o Brasil da época. Para registrar a data, a GM organizou um evento na fábrica, durante a montagem de um carro, reunindo pessoas importantes, como diretores de um banco de Nova York e executivos da General Motors Corporation. O carro foi montado em 20 minutos, impressionando os convidados ali presentes.

A propaganda foi um dos trunfos da GM trazidos dos Estados Unidos. Boa parte das peças se referiam ao sucesso da empresa entre os americanos. De Detroit, capital da velocidade e sede da GM, a paixão por carros foi transmitida para todo o mundo, inclusive para o Brasil e em 1928, a empresa alcançou a marca de 50 mil veículos produzidos em solo brasileiro.

Foto da época marcando a produção do carro 50 mil

Começa a Expansão

A rápida expansão da produção e das vendas levou a General Motors do Brasil a adquirir uma vasta área em São Caetano do Sul, considerada, na época, um subúrbio longínquo em relação a capital paulista. Em Setembro de 1927 começaram as construções da nova fábrica, ficando pronta e podendo operar no fatídico ano de 1929(Ano em que ocorreu a quebra da Bolsa de Nova York).

Fábrica da General Motors do Brasil em São Caetano do Sul

Os efeitos foram grandes também no Brasil, com a desvalorização do dólar as exportações de café diminuíram vertiginosamente. Com a companhia não foi diferente, as vendas diminuíram de mais de 17 mil unidades para pouco mais de 4 mil unidades em 1930 e pouco mais de 1,5 mil unidades em 1932 e centenas dos funcionários na época perderam o emprego.

Quando tudo parecia perdido houve um fato que mudou a história da empresa no Brasil, a Revolução Constitucionalista que aconteceu em 9 de Julho de 1932. Com a mobilização de 7 milhões de habitantes do Estado de São Paulo, a General Motors do Brasil decidiu encerrar as atividades, devido a insegurança com o que estava por vir, porém uma contraordem do governo chegou até a empresa: retomar as atividades imediatamente! O governo de São Paulo da época comprou todo o estoque da empresa e solicitou que todas as empresas que participavam da retaguarda civil da mobilização militar voltassem a funcionar

A General Motors do Brasil começou a fazer manutenção e reparo de veículos, adaptação de carros civis para uso militar e outros serviços, sempre com a supervisão de oficiais das forças nas dependências da fábrica.

Em 1933, a companhia retomou sua marcha para o crescimento até 1941, aumentando sempre a produção e a venda. A diversificação começou em duas frentes: no mercado de posição, com a venda de peças e acessórias usados para montagem de seus veículos; e no segmento de transportes urbanos.
A primeira carroceria de ônibus fabricada no Brasil foi produzida pela GM em 1934.

Em 1936 saía das linhas de montagem em São Caetano do Sul o veículo número 100 mil montado no Brasil. Naquele mesmo ano, circulavam pelas ruas de São Paulo 22.100 Chevrolet, 762 Buick, 87 Cadillac e 357 Oldsmobile. Cinco anos mais tarde, em 1941, foi alcançada a marca de 150 mil unidades.

Chevrolet 1936
Buick 1936 / Oldsmobile 1936 / Cadillac 1936

Com o estouro da Segunda Guerra Mundial, os fabricantes europeus de veículos tornaram-se os fornecedores de material de uso bélico, assim impactando a GM do Brasil, mas quando os EUA entraram no combate, a indústria americana foi convocada para mobilizar seus esforços de guerra.

Totalmente independente da importação de petróleo na época, o Brasil sofreu as consequências da interrupção de abastecimento. A gasolina foi racionada e milhares de veículos foram adaptados para uso de gasogênio, condutível alternativo derivado da queima de carvão, que piora o desemprenho e reduz a vida útil dos motores. Na primeira metade da década de 40, São Paulo teve 20 mil veículos convertidos.

Carros adaptados para o gasogênio

Com a criação da Forca Expedicionária Brasileira, as indústrias daqui também tiveram suas atenções voltadas às necessidades da guerra e ficaram sob controle governamental. A fábrica da GM do Brasil, assim como as de outros fabricantes, foi submetida ao comando militar e passou a montar veículos bélicos com componentes produzidas pela matriz norte-americana e fornecidos ao Brasil sob lei de empréstimo.

Também foram produzidos para as Forças Armadas Brasileiras caminhões para transporte de tropas e materiais, reboques de duas rodas e unidades de cozinha de campanha, além de recipientes para transporte de gasolina e outros materiais. A empresa fabricou ainda itens que jamais imaginou sair de suas dependências, como poltronas de vagões, molas de locomotivas e aparelhos de gasogênio para carros caminhões.

Caminhão produzido durante a Segunda Guerra pela General Motors do Brasil — GMC CCKW 352 B2

Quando a Guerra terminou, o balanço das vendas no período tinha sido de 9.167 veículos, um número tímido se comparado com as vendas de 1929, de 17.741 unidade unidades, mas bastante superior aos números registrados no auge da crise, em 1932. Após mais este conturbado período, a economia brasileira desenvolvia-se a passos largos. Nunca se registrara na história da GM do Brasil uma produção tão grande de carros caminhões e… geladeiras(sim, a GM produzia geladeiras como diversificação da produção após a Crise de 29).

Linha de geladeiras produzidas após a Crise de 29

Cresce o Brasil e a GM após a Guerra

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a economia brasileira vivia um momento muito bom, estava entrando de vez na era industrial fazendo crescer as vendas da GM do Brasil. Tanto que em 1949 a fábrica de São Caetano do Sul foi ampliada, com uma nova linha de produção, chegando a produzir 15 carros por hora.

Em 1948, produziu o primeiro ônibus de aço totalmente montado no Brasil, pesava uma tonelada a menos do que os veículos produzidos com madeira e utilizando praticamente tudo da indústria nacional. Foram fabricadas 300 unidades de 32 lugares cada. Vidros, assentos, pneus, baterias, assoalhos, tintas e guarnições também eram nacionais.

GM Coach — Ônibus produzido pela GM no início do trasnporte coletivo

Instituído o Programa Oficial de Nacionalização de Veículos, em 1956, a GM foi o primeiro fabricante a expor seus planos, e em 1957, lançava o primeiro caminhão brasileiro, o Chevrolet Brasil. Quase metade de seu peso era constituído por componentes nacionais, ultrapassando, assim, o mínimo de 40% exigido pela legislação.

Anúncio Chevrolet Brasil

Em 10 de março de 1959, a sua segunda fábrica no Brasil, em São Jose dos Campos. Com capacidade de produzir 50 mil veículos por ano, era também a primeira fábrica de motores da marca na América do Sul. Além dos motores, a nova unidade produzia peças para caminhões Chevrolet Brasil, picapes e caminhonetes Chevrolet Amazonas.

Nasce o mito Opala

O grande mito Opala feito em solo nacional, foi apresentado ao mundo no Salão do Automóvel de São Paulo em 23 de Novembro de 1968 com muito prestígio, apadrinhado por Stirling Moss(Ex-Piloto de F1). Chamou a atenção principalmente por sua imponência, marca registrada do Opalão, com uma frente agressiva, com frisos cromados, rodas cromadas e design com linhas das máquinas Americanas da época(Chevy Nova)

A primeira geração do modelo, trazia duas versões: a Standard, com acabamento mais simples e motor 4 cilindros 2.5 de 80 cavalos, e a Luxo, com um seis cilindros 3.8 de 125 cavalos empurrados pela sua mítica tração traseira, o que fez com que as arrancadas tornassem-se sua marca registrada. O Opala foi alçado ao posto de um dos carros mais potentes do Brasil, perdendo apenas para o Ford Galaxie 4.6 (164 cv).

Anúncio Opala — 1969

No final de 1970, o Opala alcançava a marca de 50 mil unidades vendidas, e estreou na versão cupê SS(Super Sport). O motor de 4.1 litros, que estreou nesta versão, somado a acessórios esportivos, como faixas pretas no capô, mostrava ao que o modelo tinha vindo pronto para brigar com o recém-lançado Dodge Charger R/T. Em 1979, atrás do volante de um Opala, Paulo Gomes se tornou o primeiro campeão na história da Stock Car, o modelo foi usado na categoria até o ano de 1993.

O Monza e a globalização

Em 1981, a General Motors Corporation instalou três módulos internacionais para produzir, simultaneamente, os motores do seu primeiro carro mundial, o Monza: na Alemanha, na Áustria e no Brasil. O primeiro protótipo foi produzido em 27 de fevereiro de 1981, depois de aprovado pela Opel e pela GM, sua fabricação foi iniciada em 18 de maio do mesmo ano.

A produção inicial era de apenas 200 motores por mês, mas em seguida passou para 70 por hora, totalizando 330 mil por ano, dos quais apenas 60 mil ficaram no Brasil. Os demais foram exportados para a Opel e para a Pontiac norte-americana. A nova fábrica tinha 47 mil metros quadrados de área constituída e exigiu investimentos de US$ 120 milhões em maquinas, ferramental e equipamentos.

O sucesso dos carros Chevrolet estava totalmente comprovado e crescia com o tempo. De 1972 a 2005, por exemplo, a GM contabilizou 12 títulos de “Carro do Ano”. Primeiro com o Opala, em 1972, e a Caravan, em 1976. O Monza foi tricampeão em 1983, 1987 e 1988. O Kadett venceu em 1991. Em 1993 foi a vez Omega, seguindo-se com o Vectra, em 1994 e 1997 e o Corsa, em 1995 e 1996.

Kadett 1991 | Omega 1993
Corsa 1996 | Vectra 1997

No ano de 2000 era inaugurada uma das mais modernas fabricas do planeta, devido ao conceito de condomínio industrial, por agregar também os fornecedores, o Centro Industrial Automotivo de Gravataí, no Rio Grande do Sul. Criada para produzir um novo veículo, o Celta, que viria revolucionar o mercado.

Celta 2000

Com o avanço das estratégias de globalização, o Brasil passou a ter maior influência no desenvolvimento de automóveis mundiais da companhia, caso da minivan Meriva, lançada em 2007, do sedã Cobalt, da segunda geração da picape S10, da Trailblazer e do Spin, que chegaram nos anos seguintes. Fruto de um investimento de R$ 5,7 bilhões, essa renovação da linha de produtos foi um verdadeiro sucesso comercial e levou a Chevrolet, em 2010, a um recorde histórico: 657.724 unidades emplacadas.

Cobalt 2007

A GM foi a primeira a equipar seus veículos de entrada também com sistemas de conectividade. O Agile Wi-Fi, que trazia internet a bordo, foi pioneiro. Mas foi com o Onix que popularizou a tecnologia, com o MyLink. Este ano a Chevrolet anunciou a importação do segundo lote do Bolt, e continua batendo recordes de vendas com o Onix.

Onix 2020 | Bolt 2020

O Chevrolet Cruze foi apresentado ao público em 2008 no Salão do Automóvel de Paris e chegou ao mercado brasileiro em Setembro de 2011, com um motor 1.8 aspirado com 140 cavalos. Junto com ele veio a versão Sport o hatch para substituir o Vectra GT(Acho o Vectra GT muito mais bonito até hoje! 👀) assim como o sedã para substituir o Vectra.

Vectra 2011 | Cruze 2011
Vectra GT 2011 | Cruze 2011

Hoje é quase impossível conhecer algum apaixonado por carros que não gosta ou que tem alguma história com pelo menos um dos modelos da Chevrolet, esta marca que está há mais de 90 anos em solo brasileiro e com muito caminho pela frente ainda. Se você tem alguma história que envolva a Chevrolet, deixe nos comentários.

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