Liga da Justiça | Crítica

Vinicius Manzano
Nerdpub
Published in
5 min readNov 22, 2017

Não é segredo que a DC tem corrido atrás da Marvel quando se trata da criação do seu universo cinematográfico, afinal o chamado Marvel Cinematic Universe(MCU) começou em 2008 com o lançamento de Homem de Ferro e só teve a reunião de seus heróis 5 filmes depois em Vingadores, de 2012. No entanto Liga da Justiça, que estreou nos cinemas brasileiros no último dia 14, veio após 4 filmes, dos quais 3 tiveram críticas mistas sobre eles, o único sucesso unânime foi Mulher Maravilha. Só esse passado já deveria ser o suficiente para mostrar que talvez a DC esteja colocando a carroça na frente dos cavalos, no entanto Liga da Justiça é um filme com múltiplas visões criativas: o diretor original Zack Snyder abandonou a direção após sofrer com um suícidio em sua família, e Joss Whedon assumiu para completar o filme misturando o material já filmado de Snyder com meses de refilmagens para, supostamente, adicionar mais construção aos personagens e humor. A pressão para seguir no caminho que Mulher Maravilha tomou deve ter sido enorme nos bastidores, já que esse é o filme de maior sucesso da DC até o momento, talvez por isso Liga da Justiça pareça um filme que quer seguir vários caminhos mas acaba sendo medíocre em todos.

Mas ainda assim é interessante ver o filme como uma plataforma de testes para a Warner e a DC, afinal após ver o filme você pode se perguntar o que te agradou nele. O filme segue em tantas direções que ele parece exatamente isso, um produto a ser testado pelo público, o filme tem momentos dramáticos, tem piadas entre os membros da equipe, tem porradaria descerebrada e discursos profundos sobre a responsabilidade dos heróis. Liga da Justiça certamente não é dos filmes mais coerentes, mas com certeza ele é diverso. E se a DC estiver observando os críticos e fãs ela pode potencialmente aprender para onde levar seu personagens na próxima etapa de seu universo. O estúdio já está estudando abrir mão de montar um universo coeso em favor de filmes individuais (como a trilogia do Batman de Christopher Nolan) e talvez Liga da Justiça seja mais um motivador para seguirem nessa direção.

Mas falando do filme, Liga da Justiça começa quase que imediatamente após o fim de Batman V Superman, com o mundo em luto pela morte do Superman(Henry Cavill) e por conta disso a humanidade está sem esperanças. Isso é mostrado em uma das mais belas sequências iniciais da história do cinema ao som de uma versão da canção Everybody Knows, sequência essa claramente feita por Zack Snyder, uma marca do diretor que traz a abertura de Watchmen a mente. Enquanto isso Batman (Ben Affleck) está preocupado com uma ameaça iminente que ele não pode deter sozinho, para isso ele reúne mais quatro indivíduos para formar a liga do título: Mulher Maravilha (Gal Gadot), Aquaman (Jason Momoa), Cyborg (Ray Fisher) e Flash (Ezra Miller). Todos os membros com seus motivos individuais para não quererem se juntar a liga, para a obrigatória sequência dos heróis sendo convencidos, já que naturalmente o grande inimigo do filme é algo muito grandioso para ser ignorado.

O vilão no entanto é completamente esquecível, o Lobo da Estepe (Ciaran Hinds por trás de muito CG) é utilizado apenas como um fan-service para fãs de longa data da DC que vão imediatamente associá-lo com Darkseid, o real vilão por trás das Caixas Maternas. E falando nisso, elas apresentam o mesmo problema das Jóias do Infinito da Marvel, são objetos de imenso poder a serem coletadas pelo vilão para que ele possa concretizar seu plano. Apesar a premissa do filme soar básica, ela serve como palco para os principais temas do filme, temas como “unidos somos mais fortes” e “Por que a humanidade precisa dos heróis?, um tema que inclusive está presente em vários filmes da DC desde Homem de Aço.

Observando Liga da Justiça como um todo temos um filme vibrante, com poucos momentos que incomodam tal qual o famigerado “MARTHA, SAVE MARTHA”, pois dessa vez os heróis tem um objetivo bem direto a sua frente: salvar o mundo do vilão da vez. E essa objetividade da trama faz com que cada um deles realmente possa ser um herói e mostrar o melhor de suas habilidades. Embora a edição não seja das melhores as cenas de ação, em geral, são muito boas e divertem bastante. O problema de Liga da Justiça surge quando analisamos o mesmo cena a cena, nesse momento pode se perceber claramente as refilmagens de Whedon e a falta de diversas cenas que foram mostradas em teasers e trailers. Assim como Batman V Superman, Liga da Justiça pode se beneficiar muito de um corte do diretor, algo que já é pedido por fãs em uma petição online.

Outro problema do filme é que ele precisa servir como origem para três novos heróis, além de ser a origem da própria Liga, por conta disso o desenvolvimento dos personagens é feito com uma certa pressa que não permite que o público realmente se conecte com nenhum deles. Para os fãs que já conhecem os personagens isso pode não ser um grande problema, já que para eles vai bastar apenas a união do grupo. Porém os recém-chegados nesse universo vão ter que se esforçar mais para aceitar coisas como a origem do flash sendo referenciada em apenas uma frase(“Ah, então você foi atingido por um raio?”) ou breve aparição de Mera e sua discussão com Aquaman em Atlantis.

Por todos esse motivos Liga da Justiça fica parecendo uma grande caixa de areia para a Warner/DC, um filme onde eles puderam tentar um pouco de tudo mas sem se comprometer com nada. Os fãs de Mulher-Maravilha vão ficar maravilhados com a cena de combate com as amazonas (com alguns cameos para fãs da DC). Fãs do aspecto melancólico do universo DC até o momento terão o personagem questionando a sua humanidade, enquanto os fãs da ação terão o mesmo personagem entrando em combate no minuto seguinte sem sequer pensar nas dúvidas anteriores. Liga da Justiça é um filme tanto de Zack Snyder E um filme de Joss Whedon, algo que pode funcionar melhor para o público geral do que um projeto único de ambos diretores, considerando que os dois tem seus pontos fortes e fracos. No entanto é uma pena que eles não possam ter trabalhado juntos em uma obra que unisse suas visões em uma obra coesa, já que esse provavelmente é o tipo de filme que o universo cinematográfico DC merecia, ao invés da colcha de retalhos que ela recebeu.

Originally published at www.thenerdpub.com.br on November 22, 2017.

--

--

Vinicius Manzano
Nerdpub

Designer por formação. Falo muito sobre cinema, séries, games e todas essas coisas da famigerada Cultura Pop