Os Últimos Jedi e a fúria dos fãs | Crítica

Vinicius Manzano
Nerdpub
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5 min readDec 28, 2017

Quando J.J. Abrams e os roteiristas Lawrence Kasdan e Michael Arndt iniciaram a nova trilogia de Star Wars com O Despertar da Força, eles utilizaram uma fórmula bem contida que iria atrair tanto os fãs de longa data da trilogia clássica, quanto novos fãs que não sabiam quem eram aqueles personagens. Eles introduziram novos personagens e deram a eles o foco, apesar do roteiro do filme ser incrivelmente similar a Uma Nova Esperança, com novos equivalentes para o Império e para a Rebelião, uma nova Estrela da Morte, um novo “Luke Skywalker” em um planeta deserto e assim por diante. Mas ao mesmo tempo eles também conseguiram trazer os personagens originais de volta e posicioná-los como lendas dentro daquele universo, lendas as quais os novos personagens poderiam se identificar. Foi uma aposta que deu certo, mas fez com que O Despertar da Força não parecesse um novo filme, mas sim um remix de algo já existente.

Com essa estrutura em mãos o diretor/roteirista Rian Johnson tinha duas opções: seguir o Despertar da Força e fazer de Os Últimos Jedi uma apropriação direta de O Império Contra Ataca ou mover esse barco numa direção completamente inesperada e longe do familiar. Ao invés disso ele fez algo menos óbvio: ele escolheu as duas opções. Os Últimos Jedi possui sequências diretamente retiradas de O Império Contra Ataca porém Johnson usa essa familiaridade para subverter as expectativas do público. No entanto ele também se aproveita de elementos d’O Retorno de Jedi, dessa forma comprimindo a trilogia original em efetivamente dois filmes. E são essas escolhas radicais que causaram a maior estranheza para os fãs, ele encerrou algumas histórias abruptamente e aparou várias pontas soltas deixadas por J.J Abrams. O maior medo dos fãs era que novamente o filme se tornasse um “remake” de um filme da trilogia clássica, no caso O Império Contra Ataca com seu tom mais sombrio e fim aberto. Ao invés disso o filme Rian Johnson se parece muito mais com um encerramento para trilogia, efetivamente transformando o, ainda sem título, Episódio IX em uma plataforma para que Star Wars explore novos elementos, sem se apoiar na trilogia clássica.

E Rian Johnson fez suas escolhas conscientemente pensando nesse tema. Os personagens no filme diversas vezes mencionam a necessidade de colocar o passado de lado, de tomar suas próprias decisões e aceitar o futuro. Esse tema é tão marcado no filme que soa quase como um repúdio aos fãs que estão se apegando ao passado, por conta disso Os Últimos Jedi é um filme emocional e triste: conforme a história se desenrola os personagens perdem seus amigos, aliados e família. Além de perdas pessoais eles também perdem seus ideais e descobrem que nem tudo que eles imaginaram era como parecia, eles perdem sua confiança, abandonam suas imprudências e até mesmo consideram não existir mais esperança. Nem todas as perdas devem ser vistas como derrotas, mas muitas vezes como crescimento (principalmente no caso de Luke Skywalker), é um processo doloroso para os personagens mas necessário para que a franquia possa abraçar sua nova identidade, em que podemos estar vendo uma renascença do universo Star Wars.

Apesar do elemento de perda estar presente no filme, Rian Johnson trouxe alguns novos personagens para a franquia como a Vice Almirante Amilyn Holdo (Laura Dern), a mecânica(?) da Resistência Rose Tico(Kelly Marie Tran) e o “novo Han Solo” da franquia DJ(Benicio Del Toro). Rian Johnson escolheu separar seus personagens no filme e dar a cada grupo uma história distinta, que os leva a lugares novos da galáxia, porém essa necessidade de acompanhar a história de tantos núcleos diferentes e que no fim acabam culminando na conclusão do filme acaba deixando Os Últimos Jedi com um leve tom de novela. Afinal de contas Rian Johnson, e os roteiristas, não conseguem justificar a necessidade de todas essas narrativas, embora elas se concluam todas no terceiro ato do filme de forma conjunta.

Mas são estas tentativas de fazer algo novo que realçam ainda mais o tema do filme. O tema de perda em Os Últimos Jedi é cada vez mais sentido conforme o filme se encaminha para seus minutos finais. Ainda mais se considerarmos que este foi o papel de despedida de Carrie Fisher, a perda transcende o universo do filme em uma das cenas mais tocantes entre ela e Mark Hammill. Star Wars sempre caminhou uma linha tênue em suas escolhas, as prequels foram bem recebidas quando lançadas, foi só anos depois que elas adquiriram essa fama por terem “destruído a franquia”. Então é esperado que Os Últimos Jedi esteja dividindo os fãs, mas só nos resta esperar alguns anos para ver como essa trilogia atual será tratada: um sucesso ou mais uma mancha no legado de George Lucas. E ainda assim seus méritos serão discutidos para sempre na Cultura Pop, com um grupo de fãs que gosta do hábito de Star Wars sempre se reaproveitar de idéias, sejam elas da própria franquia ou de outras fontes como Lucas fazia, e rejeitam qualquer mudança nessa fórmula. Enquanto outros fãs querem ver algo novo e que acreditam que o passado de Star Wars não deve limitar seu futuro.

Os Últimos Jedi soa como uma tentativa deliberada de corrigir os erros do passado e preparar o caminho para o futuro. Rian Johnson, através de seus personagens e diálogos, mostra o quão dificil e doloroso é abandonar o passado e dessa forma guia o público através desse processo. O filme é uma montanha russa de emoções que, sem dúvida, vai deixar o público com muitas perguntas e reclamações após filme e também vai deixar qualquer fã emocionalmente exaustos após rir, chorar, ficar tenso e aliviado num espaço de 150 minutos. Não me entendam mal quando digo exausto, pois digo isso no melhor dos sentidos, já que é isso que espero de um bom filme: ser transportado para aquele mundo emocionalmente e me entregando completamente, algo que Os Últimos Jedi conseguiu com maestria. E já que usei a metáfora da montanha russa digo o mesmo para a franquia, Os Últimos Jedi é uma montanha russa que nos deixa exaustos, mas que também deixa a franquia exatamente onde ela precisava estar após o Despertar da Força: no desconhecido.

Originally published at www.thenerdpub.com.br on December 28, 2017.

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Vinicius Manzano
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Designer por formação. Falo muito sobre cinema, séries, games e todas essas coisas da famigerada Cultura Pop