O universo cinematográfico da vida de um cientista

Aline Cardoso
NeuroBreak
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4 min readNov 4, 2020

Esqueça tudo que você aprendeu sobre cientistas com Hollywood! O dia a dia num laboratório de pesquisa pode sim ser considerado um filme de sessão da tarde, mas nem sempre é sobre ficção científica.

Diferente do que costumamos ver nos filmes,

cientistas não são pessoas solitárias que passam maior parte do tempo trancados em seus laboratórios.

E nem todos trabalham com camundongos ou robôs! Na verdade, um cientista é alguém que passa a maior parte do tempo em seu laboratório com outros pesquisadores. Assim como em qualquer outra profissão, na pesquisa também é preciso saber se comunicar e colaborar com seus colegas de trabalho, ou seja, saber se integrar. Então, não se engane ao pensar que a vida no laboratório se resume a solidão de planejar e realizar experimentos, lidar com outros seres humanos também faz parte.

Diferente também dos filmes hollywoodianos que mostram cientistas como homens brancos, velhos, carecas e quase insanos que passam a maior parte do tempo fazendo contas mirabolantes e explodindo coisas –ocasionalmente isso acontece… ocasionalmente… – Na vida real os laboratórios de pesquisa são uma mistura de ação, suspense e drama, e pode sim conter uma pitada de ficção científica e um bocado de comédia romântica.

Ação

A parte da ação ocorre durante quando o pesquisador deve correr contra o tempo para conseguir terminar o experimento na hora certa sem que ninguém morra. No caso, pode morrer tanto o experimento em si, como uma cultura de células que não foi preparada corretamente porque o aluno estava com pressa pra ir pra casa. Mas também o próprio pesquisador pode vir a falecer de tanto estresse. Pense na manchete

“aluno infarta após não conseguir terminar o experimento a tempo”.

Suspense

Os momentos de suspense se fazem presentes ao analisar o resultado de um experimento. Imagine um suspense policial no qual o crime já foi cometido, e o suspense se passa em torno dos policiais analisando as evidências a procura do assassino. Um final feliz acontece se após analisar as evidências os policiais encontrarem o assassino, ou seja, se o experimento tiver um resultado satisfatório. Caso o criminoso continue livre por aí, podemos imaginar que o resultado do nosso experimento não foi tão feliz assim. Independente do resultado você pode observar o lado positivo das coisas e dizer que os policiais aprenderam muito durante a investigação… Mas poxa vida! Seria muito mais divertido se tivessem encontrado o assassino depois de tanto trabalho.

Drama

Já o gênero drama acontece quando o pesquisador descobre que seu projeto provavelmente não vai pra frente e talvez seja mais fácil começar um novo. Ou seja, é como um filme dramático que na primeira cena os roteiristas já deixam claro que o personagem principal tem uma doença incurável e vai morrer. Mas você telespectador – ou pesquisador – gosta de um sofrimento, então se mantem apegado ao personagem – ou projeto – e afunda em lágrimas quando ele morre.

Ficção Científica

Quando escrevi que existe “uma pitada de ficção científica” você provavelmente imaginou as explosões ou a criação de um vírus altamente perigoso, ou animais mutantes. Bom… não foi bem isso que eu quis dizer. A pitada de ficção científica surge na hora de escrever um projeto científico, que é quando a criatividade do cientista é posta a prova. Para escrever um projeto científico é necessário um novo questionamento, ou seja, uma pergunta científica que seja relevante academicamente e para sociedade.

“Hm… será que dá pra modificar geneticamente um cacau para que ele já seja retirado do pé já contendo chocolate pronto dentro dele?”.

O cientista também deve pensar em possíveis respostas, também chamadas hipóteses, para tal pergunta. Além disso, deve planejar o passo a passo, ou metodologia, que deverá seguir para provar que sua pergunta e respostas fazem sentido.

Comédia Romântica

Os momentos de comédia romântica por incrível que pareça – acontecem bastante na vida de um pesquisador. Pense num filme de comédia romântica cujo o personagem principal é completamente atrapalhado e confuso. E por mais que ele tente muito que as coisas deêm certo, tudo de errado parece acontecer na vida dele. Ele tenta conciliar a vida no laboratório, a vida acadêmica e a vida pessoal, mas se atrapalha do começo ao fim. Você fica com certa pena dele, ao mesmo tempo que se identifica. Chora nas cenas mais tristes e cai na gargalhada ao ver suas atrapalhadas. Mesmo tendo esse misto de sentimentos você sabe, bem lá no fundo, que vai ficar tudo bem, pois afinal é um filme de comédia romântica.

O Fim

E é justamente no final do filme – após a publicação de um artigo científico, a apresentação de uma monografia ou a defesa de uma tese – que o cientista, assim como nosso protagonista de uma comédia romântica, percebe que ficou tudo bem. É no final que ele entende como a vida é bela e que todo seu esforço e dedicação valeram a pena.

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Aline Cardoso
NeuroBreak

Estudando o comportamento humano e tentando entender o meu; (ela/dela); Doutoranda em Fisiologia — Neurociência (UFRJ); Brasil