Por que o isolamento/distanciamento social são tão difíceis para nós?
A ausência ou quase inexistência de relações/conexões sociais são características de relações sociais fracas, que podem levar ao isolamento social. Diferente da solidão, o isolamento pode ser medido de maneira quantitativa, através da verificação do tamanho e da diversidade dos grupos sociais em que o indivíduo está inserido, além da frequência de contato com os mesmos. Em pesquisas feitas nas áreas de neurociência e psicologia, o isolamento social tem sido bastante estudado devido aos seus fatores deletérios à saúde.
A solidão tem caráter mais subjetivo. Algumas pessoas podem se sentir solitárias mesmo estando em grupos.
O isolamento social pode ser avaliado de maneira objetiva. Uma pessoa pode estar isolada socialmente se estiver sem ou com pouca rede de apoio, como amigos, familiares, grupos religiosos, etc.
Às vezes nos esquecemos que somos animais sociais…
Muitos cientistas acreditam que viver em comunidade, interagindo de maneira interligada, nos ajudou a sobreviver como espécie. Foi através do convívio com outros indivíduos que pudemos lidar com as ameaças de predadores em tempos pré-históricos — já que era mais fácil enfrentar um tigre faminto em grupo do que sozinho, — e também fomos capazes de obter os recursos necessários para prosperar em nosso ambiente (Lieberman, 2013).
Além disso, viver em grupo foi importante também para manter a termorregulação do corpo durante as noites frias na selva, — naquela época ficar juntinho era permitido — já que as funções dependentes da vida precisam de temperatura corporal satisfatória. (Fitzsimons, Finkel, & van Dellen, 2015). Toda essa coletividade pode ter resultado em mudanças dos circuitos neurais fundamentais ligados ao funcionamento diário do nosso cérebro. Um exemplo é o fato do neocórtex ser uma região proporcionalmente maior nos seres humanos, quando comparados a outros animais, o que nos permite interagir com um maior número de pessoas (Lieberman, 2013).
As teorias de apego descrevem que os humanos, juntamente com outras espécies, aprendem desde muito cedo a procurar refúgio em quem confiam, tanto em momentos de necessidade quanto para procurar conforto através do toque. Em humanos isso acontece porque os bebês são incapazes de sobreviver por conta própria. Além disso, a noção de segurança e apego é formada majoritariamente durante a primeira e segunda infância, sendo diretamente influenciada pelo comportamento de seus cuidadores. Um bom exemplo é a relação entre cuidadores (geralmente a mãe) e bebês, na qual é fornecida nutrição, termorregulação, conforto e proteção ao bebê vulnerável, além de um abraço quentinho (Bryant, 2016).
O convívio social também é uma questão de saúde física e mental
Ao longo das décadas, pesquisas sobre isolamento social têm mostrado que viver em comunidade não é só uma questão de sobrevivência a um ataque físico iminente. O convívio social também é uma questão de saúde física e mental, capaz de alterar nossa capacidade emocional/cognitiva e levar a alterações fisiológicas.** Estudos apontam que o isolamento pode levar ao aumento de ansiedade, sentimento de tristeza, solidão, incapacidade, hipervigilância, preocupação, angústia, alterações no sono e mais outras tantas mudanças (Bryant, 2016)**.
Acredita-se que diversos fatores podem explicar por que alguns indivíduos se tornam socialmente isolados como, por exemplo, discriminação de gênero cor de pele ou por alguma limitação (física, intelectual, auditiva, visual ou sensorial); perda de entes queridos (cônjuge); morar sozinho; pobreza e envelhecimento (Zavaleta, et al,2014). No período que estamos vivendo, a quarentena, isolamento e distanciamento social são experiências desagradáveis que envolvem a separação dos amigos e da família, além de afastamento das rotinas diárias comuns. Ainda assim, essas são recomendações que devemos seguir a fim de conter a propagação do vírus.
Neste momento, manter a distância pode salvar vidas, mas mesmo distante você ainda pode manter relações sociais e evitar todos problemas citados anteriormente.
O que fazer para reduzir o distanciamento/isolamento social?
1. Conecte-se!
É importante conversar com a família e amigos, por isso tente desenvolver um plano para manter contato regular. Às vezes parece difícil manter contato já que algumas pessoas estão trabalhando ou estudando em casa, ou tendo que cuidar dos filhos e de outras pessoas mais vulneráveis, mas tenho certeza que separar um tempinho pra se conectar com seus entes queridos vai ser bom para todas as partes.
2. Faça uma lista de organizações comunitárias que podem ajudar!
Faça uma lista de organizações comunitárias e religiosas com as quais você ou as pessoas ao seu redor possam entrar em contato caso estejam necessitando de apoio psicológico ou caso só precisem de alguém para conversar.
Caso precise de ajuda imediata, LIGUE 188 e entre em contato com o CVV (Centro de Valorização da Vida).
3. Adote um amigo!
É cientificamente comprovado que animais de estimação podem ajudar a combater a solidão. Caso você não seja muito fã de bichinhos, tente cuidar de uma plantinha.
Plante um amigo!
4. Saiba quem pode sofrer mais com o distanciamento/isolamento!
Como foi mencionado no texto alguns grupos sociais têm maior risco de desenvolver doenças por conta do isolamento, e algumas delas também estão no grupo de risco da COVID-19. Por isso é importante estar atento e disposto a ajudá-los. Pode ser conversando através da janela com vizinho que mora sozinho, ajudando um vizinho idoso a fazer compras por app/telefone ou contribuindo com algum movimento social que está atuando no combate aos problemas causados pelo coronavírus.
O site The Intercept fez uma lista de movimentos sociais, por todo o Brasil, que você pode ajudar. Dá uma olhada! (mas só se quiser)
É importante ressaltar que em caso de crises de pânico e ansiedade ou episódios depressivos recorrentes, faz-se necessária a busca por um processo terapêutico.
Referências
Bryant, Richard A. “Social attachments and traumatic stress.” European Journal of Psychotraumatology 7.1 (2016): 29065. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4800287/
Lieberman, Matthew D. Social: Why our brains are wired to connect. OUP Oxford, 2013.
Fitzsimons, Gráinne M., Eli J. Finkel, and Michelle R. Vandellen. “Transactive goal dynamics.” Psychological Review 122.4 (2015): 648.
Schrempft, Stephanie, et al. “Associations between social isolation, loneliness, and objective physical activity in older men and women.” BMC public health 19.1 (2019): 74.
Tillich P. The eternal now. In: Feifel H, editor. The meaning of death. New York: McGraw–Hill; 1959. pp. 30–38.
Social isolation: a conceptual and measurement proposal. Zavaleta D, Samuel K, Mills C. http://www.ophi.org.uk/wp-content/uploads/ophi-wp-67.pdf
Bhatti, Adnan Bashir, and Anwar ul Haq. “The pathophysiology of perceived social isolation: effects on health and mortality.” Cureus 9.1 (2017).
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