A diferença do cérebro da direita e da esquerda — Neurociência Política
Há uma onda de movimentos políticos pelo mundo, tanto de esquerda quanto de direita. Essa diferenciação politica não é só visível quando os lados vestem roupas de cores diferentes, mas também na dinâmica e formação do sistema nervoso central de cada um. Nesse texto irei abordar sobre a visão da neurociência sobre as caracteristicas em comum entre esses dois grupos.
O termo “esquerda” e “direita” é extremamente abrangente e confuso em certos aspectos, variando dependendo da região e contexto, para defini-los irei traçar uma linha entre progressistas e conservadores. Longe da visão Comunistas e Fascistas ou Socialistas e Liberais que vem sendo popular no Brasil, porém uma definição que melhor contextualiza com os estudos e os nichos de cada espectro. Portanto, esquerda = progressista e direita = conservadores.
A politica é entranhada em nossas vidas e chegamos ao ponto em que é praticamente impossível se tornar apolítico; a definição dos tempos gregos em que só é possível ser “apolitico” se a pessoa não vive em sociedade é cada vez mais real, tornando as palavras de Aristóteles xum reflexo em prática da atualidade, no livro Política diz: “a natureza do indivíduo humano só é realizável através da comunidade social e política” e completa quando diz que “o homem é, por natureza, um ser vivo político.” E com o decorrer da história, nota-se que em sociedade é comum pessoas compartilharem das mesmas ideias e adentrarem em movimentos, sendo mais fortes juntas e assim conseguir alterar ou preservar o status quo. Mas será que essas diferenças que unem grupos trazem algo diferente em sua biologia e cognição?
A neurociência vem demonstrado que é possível identificar as motivações politicas de uma pessoa através da observação de seu sistema nervoso, notando as diferenças estruturais, cognitivas e funcionais.¹Conseguiu-se, por meio da avaliação de padrões neurais, predizer com 82% de acurácia se uma pessoa era de esquerda ou de direita e tudo isso enquanto jogavam um simples jogo de apostas que nada tinha em relação com politica. Esse estudo foi um dos passos para identificar que ser de direita e esquerda poderia ter a ver com padrões de comportamento.
Em um estudo² utilizando FMRI, chegou-se a conclusão que pessoas de esquerda geralmente tem o Córtex Cingular Anterior mais desenvolvido, o que é associado com entender conflitos e contextos, enquanto conservadores tem um maior desenvolvimento da amídala, que é responsável pelo processamento de sensações como perigo e ansiedade. O que faz sentido, já que outros estudos²³ demonstraram que pessoas tendem a ser mais conservadoras quando estão em estado de perigo, ao analisar o comportamento em eventos historicos consegue-se enxergar claramente esse padrão, em crises e acidentes a sociedade torna-se mais reacionária. Como o estudo feito após o ataque de 11 de setembro nos EUA em que se observou, logo após o atentado e meses depois, que as pessoas tenderam a apoiar militarização e patriotismo, além de se tornarem mais intolerantes.¹³
Adentrando mais os estudos relacionados as diferenças cognitivas.³ Avaliou-se que enquanto pessoas de direita são mais organizadas e lidam melhor com situações bem estruturadas e simples, enquanto as de esquerda são mais flexíveis e lidam melhor com questões que envolvem raciocínio rápido e com informações complexas ou paradoxais. Até mesmo com relação ao quarto foi registrado que pessoas de direita tem quartos mais organizados e limpos que as de esquerda.
Até mesmo em sensações subjetivas como dor e empatia encontrou-se diferenças. Num estudo em que os participantes olhavam fotos de mutilações observou-se por meio de um escaneamento do encéfalo que pessoas de esquerda tem uma maior ativação da área Somatosensorial que é relacionada a empatia, enquanto pessoas de direita apresentavam pouca resposta as imagens, tendo uma maior interação no pré frontal e amídala que são responsáveis por processamento crítico e medo.
Mas… O porque dessas diferenças? Há um estudo que traça a linha evolutiva dessa relação.²³ Ao apresentar expressões ambíguas de rostos e pedir para interpretar as emoções, pessoas de direita percebiam emoções agressivas e dominantes quando comparadas as de esquerda que relacionavam a pessoas tristes.
Também foram feitos estudos em que envolviam eventos inesperados como sons altos e respostas a situações que projetam nojo(fezes, vômito) no participante e também situações “fofas”(cachorrinhos, flores). O cérebro de direita apresentou respostas intensas de adrenalina, galvânica e cardíaca para imagens de nojo e inesperados, o que traça paralelo com o desenvolvimento da amídala, enquanto para situações fofas teve baixa resposta. O que faz sentido evolutivamente, um grupo de pessoas estruturada para dominação, em que a resposta deve ser pragmática e bem estrutura. Por isso quando esse grupo é perguntado qual o melhor tipo de sociedade, em geral, respondem uma sociedade bem hierarquizada, com claras divisões de comando, com uma fácil assimilação do contexto de sociedade e com poucas mudanças, tendo pouca interação com debates.
Com os da esquerda houve resultados igualmente interessantes, a maior resposta no teste veio das situações fofas e não das nojentas. Também houve um experimento em que foi apresentado uma historia de uma pessoa sendo roubada, ambos os cérebros apresentavam respostas iguais quando dita a sentença, porém conforme inseria-se contexto o de esquerda mudava drasticamente, sentindo empatia conforme contava-se que “era uma criança com tumor”, “roubou para alimentar a familia” e coisas do tipo, enquanto o da direita havia pouca alteração, o que demonstrava maior flexibilização da realidade na esquerda, vendo as situações mais cinzas, enquanto os da direita enxergavam divisões mais claras, o que encaixa com a informação de maior desenvolvimento na área do Cingular anterior. Quando se questionava a pessoas de esquerda “Qual tipo de sociedade você gostaria de viver” a maior parte respondia, em um sistema de igualdade, com alta liberdade e sem hierarquias. Esse grupo evolutivamente cresceu por meio de manter relações que equilibravam o grupo social, juntando territórios e recorrendo a concessões.²³
A neurociência é jovem e avança cada vez mais para o entendimento da tomada de decisão, comportamento e sociedade, espero que com a construção desse conhecimento possamos construir uma sociedade que abranja todos os tipos de pessoas.
PS: Uma informação engraçada é que há estudos em que apesar de não haver uma correlação ou causalidade especificada, encontrou-se que pessoas de centro tendem a ter menor QI que pessoas com convicções politicas fortes tanto de esquerda quanto de direita, ou seja, o centrão é sempre o zuado. fonte:https://www.jstor.org/stable/3791021?seq=1#page_scan_tab_contents
Referências:
¹SCHREIBER, Darren et al. Red brain, blue brain: Evaluative processes differ in Democrats and Republicans. PLoS one, v. 8, n. 2, 2013. link: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0052970
²KANAI, Ryota et al. Political orientations are correlated with brain structure in young adults. Current biology, v. 21, n. 8, p. 677–680, 2011.
link:https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0960982211002892#bib3
³AMODIO, David M. et al. Neurocognitive correlates of liberalism and conservatism. Nature neuroscience, v. 10, n. 10, p. 1246–1247, 2007.
link:https://www.nature.com/articles/nn1979
sci-hub link:https://sci-hub.tw/10.1038/nn1979
¹¹BRACK, Charles. A Very Brief View at the Role of the Prefrontal Cortex in Political Behaviour.
link: https://galindes.wordpress.com/2015/04/02/a-very-brief-view-at-the-role-of-the-prefrontal-cortex-in-political-behaviour/
¹²QUARTO, Tiziana et al. Association between ability emotional intelligence and left insula during social judgment of facial emotions. PLoS One, v. 11, n. 2, 2016.
link:
https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0148621
¹³NAIL, Paul R.; MCGREGOR, Ian. Conservative shift among liberals and conservatives following 9/11/01. Social Justice Research, v. 22, n. 2–3, p. 231–240, 2009.
link:https://link.springer.com/article/10.1007/s11211-009-0098-z
²¹ JOST, John T. et al. Political conservatism as motivated social cognition. Psychological bulletin, v. 129, n. 3, p. 339, 2003.
link: http://faculty.virginia.edu/haidtlab/jost.glaser.political-conservatism-as-motivated-social-cog.pdf
²²NAIL, Paul R.; MCGREGOR, Ian. Conservative shift among liberals and conservatives following 9/11/01. Social Justice Research, v. 22, n. 2–3, p. 231–240, 2009.
link:https://link.springer.com/article/10.1007/s11211-009-0098-z
²³ HOLMES, Hannah. Quirk: brain science makes sense of your peculiar personality. Random House, 2011.
link:https://www.amazon.com/Quirk-Brain-Science-Peculiar-Personality/dp/1400068401