Ego e Bundle — Self II
A teoria de bundle e ego são a base que divergem as diversas linhas de pensamento sobre o que constitui o self, sendo assim, saber diferenciá-las é importante para entender as teorias sobre self.
A teoria Ego é a mais aceita popularmente, principalmente na cultura ocidental. Ela indica que nós somos um ser contínuo que por estar sobre a influência de experiências decorrentes das nossas decisões ou decisões de outros, nós aprendemos, ou não, com o ocorrido. Isto é, existe um ser “EU” que toma as decisões e que muda as suas estratégias de acordo com experiências, algo centralizado e cristalizado que nos define. Se fôssemos traçar um paralelo com os exemplos dados na introdução poderíamos dizer que a teoria ego aproximasse da ideia de alma, uma essência que nos define e que simplesmente é o que somos. E isso pode ser comprovado na forma que agimos no dia a dia, quando você se encarrega de uma obrigação você diz “Eu irei fazer”, toma uma decisão baseado em suas capacidades e acredita que o seu eu do futuro continuará o mesmo.
A teoria bundle nega isso, ela proclama que não existe algo como um “Eu central” ou uma essência. David Hume(1711–1776) foi um filósofo britânico e historiador, e tornou-se conhecido por ser um empirista radical, ele reportou que nunca conseguiu estar consciente e livre de alguma percepção ou a simulação da mesma(imaginação), seja olfato, visão, tato, memórias e até mesmo rótulos impostos por nós e outros. Então, concluiu que a ideia de Self não vem de uma ser ou essência, mas de um “agrupamento de sensações” e daí surgiu o nome dado a teoria “Bundle Theory”(Teoria do agrupamento). David Hume não foi o primeiro a mencionar a teoria Bundle, voltando aos exemplos da introdução, o Budismo em sua doutrina Anatta que significa “Não eu”, pode ser considerada a primeira teoria Bundle em que existe um “no self”, apenas um conjunto de sensações e experiências em um estado de fluxo mutável. O eu de hoje não é o mesmo eu amanhã, ou como Héraclito(535 a.C. — 475 a.C.) disse em uma das suas famosas frases “Nenhum homem pode banhar-se no mesmo rio por duas vezes, porque nem o homem, nem a água do rio são os mesmo”. E isso pode ser também comprovado no dia a dia, quando você encontra um velho amigo um dos tópicos que inevitavelmente surgem durante a conversa é “O que tem feito?”, você admite que aquela pessoa com quem está passando tempo não é a mesma e que tem passado por experiências que podem tê-la mudado, às vezes pode até surgir o comentário “Como você mudou”.
O filósofo inglês Derek Parfit (1942–2017) propôs um exercício mental. Imagine uma máquina de teletransporte que leve você até uma colônia em um planeta distante, ela analisa você átomo por átomo e os destrói para conseguir essa informação, reconstruindo as mesmas informações na máquina de teletransporte de saída. A pessoa que acorda em Marte tem as mesmas memórias, personalidade e é composta exatamente da mesma quantidade de átomos, e pensa ser você. Isso foi uma viagem espacial? A pessoa transportada é realmente você? Ou é apenas um novo ser que acontece de ser exatamente igual? Repense o mesmo exercício, só que dessa vez sem destruir o corpo, somente as informações são copiadas, mas você permanece na Terra. Você viajou ou só foi replicado? Você está em Marte e na Terra ao mesmo tempo?