Monismo e Dualismo — Self III

Luca FFX
Neurociência, Psicologia e Filosofia
3 min readApr 23, 2018

O monismo e dualismo podem facilmente serem confundidos com ego e bundle, mas são conceitos diferentes que precisam ser explorados para uma melhor visão de self. A partir dessas definições o tema começa a entrelaçar-se mais com as ciências, há questionamentos que antes estavam apenas no campo das ideias, agora adentrando o empirismo.

No dia 13 de Setembro de 1848, um operário mecânico foi envolvido em uma explosão e teve o seu crânio perfurado por uma barra de ferro, ela adentrou a sua bochecha esquerda e saiu pelo topo do cabeça. Poderia ser apenas mais um acidente em uma época em que leis trabalhistas e segurança não eram tão importantes, mas um evento importante aconteceu, ele não morreu e parecia bem, até mesmo saiu andando logo após o acidente, encontrou alguém durante o percurso e foi levado para casa, e tudo isso consciente. O médico o encontrou e após ouvir o ocorrido ficou desacreditado da história, até que um pedaço de cérebro, descrito como “do tamanho de um xícara” caiu de sua cabeça. O nome desse funcionário é Phineas Gage e o seu caso é um importante marco para a história da ciência. Apesar de após alguns meses ele estar aparentemente bem, as pessoas começaram a comentar “Esse não é mais Gage”. Ele conseguia conversar, fazer atividades e estar consciente, mas suas ações e personalidade não batiam com a pessoa que era antes do acidente, ele era cavalheiro e gentil, agora era rude e desrespeitoso. Após alguns anos Phineas morreu depois de vários ataques epilépticos aos 36 anos de idade.

O caso de Phineas abriu precedente para a ligação entre self e mente. Se alguém perguntar hoje a você “Aonde está sua personalidade e pensamentos?” provavelmente irá responder “no cérebro”, ao invés de no coração como alguns cogitaram. E junto com o estudo da self e consciência ligada à mente veio a introdução dualista e monista, trazendo ramificações dessas ideias, para explicar o conceito de mente.

Monistas recorrem a uma explicação reducionista, tudo pode ser explicado em função dos nossos corpos e matéria, sendo assim, a nossa personalidade e pensamentos são apenas resultados de termos físicos e químicos; o fato de Phineas ter uma lesão em parte do seu cérebro e haver mudanças em sua personalidade ou pensamentos é uma conclusão esperada, assim como hormônios alterarem o humor de uma pessoa. Então, alguém pode alterar o estado da mente por meio de hábitos e alimentos, por exemplo, enquanto a mente pode alterar o corpo se alguma propriedade for alterada, pois os dois são matérias e uma só ligação.

Na visão dualista, mantêm-se a ideia de “Penso, logo existo”(Cogito, ergo sum) de Descartes(1596–1650), ele introduz aqui que o seu corpo pode ser posto em dúvida, mas não sua mente. Nessa linha, encontra-se a ideia que mente e corpo são aspectos separados. A visão dualista também sugere que há uma interação entre corpo e mente, o material interagindo com o mental, ou extra físico. Não podendo assim ter essa interação explicada simplesmente em termos físicos ou químicos.

Imagine que você nunca viu cores, mas estudou a vida inteira sobre, estou sobre neurotransmissores, o tipo de onda que cada cor transmite, etc. Você tornou-se um Neurocientista físico especializado em cores, no entanto, nunca presenciou a nenhuma cor de fato. Um dia, você acorda e consegue enxergar cores, ao ver essas cores, você aprendeu algo novo?

O australiano Filósofo Frank Jackson desenvolveu esse exercício mental para questionar a teoria dualista, ele diz “A experiência qualitativa de ver uma cor, não é a mesma que saber fatos sobre a cor.” Sendo assim, se tudo pudesse ser explicado por meios físicos, você não aprenderia nada ao ver cores já sabendo tudo sobre elas. As críticas sobre esse exercício é que ele presume o resultado, caindo assim em uma falácia lógica, alguns monistas dizem que poderia acontecer da pessoa acabar realmente aprendendo nada.

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