Mas afinal… o que é a demência?

Dra. Daniela Brandão
NeuroGime
Published in
3 min readJan 11, 2019

Com o aumento da esperança de vida da população verifica-se também um aumento de pessoas com quadros demenciais, dado a sua relação com o envelhecimento.

A causa mais conhecida e mais frequente é a doença de Alzheimer, no entanto existem muitas outras causas.

O que é a demência? Basicamente, consiste numa “doença do cérebro”, na maioria dos casos, de causa degenerativa, com uma perda progressiva e irreversível das capacidades cognitivas (memória, linguagem, capacidades de planeamento e de execução, de reconhecimento de coisas e pessoas, etc.) levando a uma perda da autonomia para a realização das atividades de vida diária.

Evolução da doença

Existem variações nas manifestações de um quadro demencial, tendo também em consideração a causa desse quadro. Iremos abordar as principais alterações que ocorrem na doença de Alzheimer.

Na doença de Alzheimer, verifica-se uma perda progressiva da capacidade cognitiva, sendo numa fase inicial afetada a memória recente preservando a remota. À medida que a doença progride, o doente vai perdendo a sua autonomia, necessitando de apoio de terceiros. Poderá apresentar agravamento da desorientação no tempo e no espaço, esquecimento dos nomes (incluindo de familiares), dificuldades na higiene e alimentação. Numa fase mais avançada, poderá ficar incontinente, apresentar alterações de sono e/ou atividade alucinatória e delirante (exemplo: achar que a família está a roubar os seus objetos, falar para as pessoas da televisão, etc.). Para além disso, torna-se cada vez mais difícil manter o doente estimulado, havendo uma perda de vontade e de interesse progressivo pelo meio que o rodeia. Numa fase final, vai perdendo a capacidade de estabelecer um discurso perceptível podendo mesmo deixar de comunicar. Geralmente nesta fase o doente encontra-se totalmente dependente de terceiros, estando na maioria dos casos acamados.

Existe tratamento?

O tratamento das demências é apenas sintomático, não impedindo a progressão da doença.

Para além da medicação, é fundamental, sobretudo nas fases iniciais da doença, a manutenção de exercício físico e de treino mental. Devemos tentar manter o doente ativo, integrado na rotina de casa. Para além disso, a reserva cognitiva é considerado um fator protetor relativamente ao surgimento da doença de Alzheimer. Assim, a estimulação cognitiva (sopa de letras, jardinagem, renda, cozinha, treino cognitivo orientado por neuropsicológos, etc.) ajuda o doente a compreender as suas capacidades e dificuldades, a mantê-lo ocupado (“dar mais sentido ao tempo”) e motivado.

Como lidar/cuidar com alguém portador de demência?

Antes demais é fundamental obter o máximo possível de informação sobre a doença para lidar de forma adequada com os problemas que irão surgir ao longo da evolução da doença. Torna-se crucial, numa fase inicial da doença, incentivar o paciente a manter as suas rotinas e atividades de forma ( o mais possível) independente. Devem evitar estar constantemente a contrariar o doente que, caso contrário, poderá ficar agitado e agressivo. Com a progressão da doença, o paciente ficará mais dependente de terceiros.

As alterações de comportamento são frequentes nos pacientes com demência, tais como a repetição do discurso ou comportamento (por exemplo, repetir a mesma pergunta), agitação (exemplo: tentar fugir de casa), desorientação (exemplo: não saber onde colocou as coisas e acusar um familiar do seu desaparecimento), desinibição e insónia noturna. Nestas situações, é fundamental a exclusão de uma causa externa que possa desencadear este comportamento tal como, existência de dor, infeção, ambiente agitado, etc.

Um aspeto importante é que quem cuida tem, em primeiro lugar, de aprender a cuidar de si, preservando um tempo para si, “um escape para satisfazer as suas próprias necessidades”.

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