O pai que sou, o filho que terei

Diana Monteiro
NeuroGime
Published in
3 min readJun 4, 2024

Poderá a ansiedade do meu filho estar relacionada com o meu estilo parental? Completamente!

É realmente impressionante o impacto que a família nuclear tem no desenvolvimento saudável de cada criança. Todas as suas experiências vão ajudá-la a formar uma visão e uma opinião acerca de si, dos outros e do mundo. Vão criar uma narrativa que influenciará todo o seu comportamento.

Quando falo em estilos parentais refiro-me ao tipo de atenção recebida, à comunicação, segurança, respeito e às interações entre pais e filhos. Estes fatores são decisivos e promovem a construção individual e social desde a infância até à idade adulta.

Quando as necessidades básicas não são atendidas na infância e existe uma vinculação insegura (e.g., “só gosto de ti quando te portas bem”), baixa autonomia (e.g., inscrever a criança numa atividade extracurricular sem questionar o seu interesse pela mesma) e uma baixa sensação de competência (e.g., “tanto tempo para atar os cordões, deixa estar eu faço isso”), as crianças desenvolvem uma ideia errada acerca de si mesmas.

Para quê tentar? Já sei que não consigo…

Se correr mal, os meus pais ainda se zangam comigo

Não mereço ser ajudado, sou uma desilusão

Estes pensamentos vão ganhando tamanho e força. Tornam-se parte da sua identidade. Aqui começam a formar-se os primeiros esquemas desadaptativos que originam sentimentos de abandono, pessimismo e vulnerabilidade. A construção do EU torna-se instável o que pode desencadear inúmeras perturbações mentais. A ansiedade de desempenho é uma delas e define-se pela preocupação excessiva em dar conta de tudo e de ser bem sucedido numa tarefa.

Quando um indivíduo se sente exposto a eventos que impliquem desempenho, inicia-se uma resposta imediata de medo, vergonha e evitamento acompanhada de sensações físicas como tensão muscular, palpitações, tremores, sudorese, rubor facial ou desconforto intestinal.

Em consulta, surge algumas vezes o tema da ansiedade descontrolada que faz as crianças e os adolescentes bloquearem nos testes ou em apresentações orais. Estamos a falar de situações de avaliação em que o nível de desempenho conta… e muito.

“E se não acabar o teste a tempo? Que nota vou tirar?”

“O que tinha para dizer agora? Ai que desorganizada que sou, bem dizia o meu pai…”

“Estão todos a olhar para mim à espera de me ver errar para gozar”

Apesar de ser evolutiva e ajudar a preparar para eventos futuros, em níveis elevados a ansiedade traz vários prejuízos. Quando a ansiedade é evolutiva, a criança fica ansiosa porque quer obter um bom resultado nas avaliações e isso leva-a a organizar o seu estudo e a preparar-se, mantendo sempre os níveis de ansiedade controlados. Porém, quando se apresenta com maior intensidade, a criança ou o adolescente acredita genuinamente que não saberá agir de modo apropriado à frente de um público ou que não conseguirá resolver os desafios que lhe são propostos. Isto acontece porque possuem crenças desajustadas acerca de si e das suas competências. Nestas circunstâncias, o seu desempenho acaba por ser comprometido e por confirmar a crença inicial de que não são capazes.

O que fazemos quando nos sentimos em perigo? Existem várias opções. Podemos fugir/evitar, bloquear ou enfrentar. Imaginem alguém com medo de cães, se vir um cão no fundo de uma rua, o que faz? Pode começar a correr ou desviar-se para outro caminho (fugir), pode congelar e não conseguir pensar em nenhuma situação (bloquear), ou então pode enfrentar a situação seguindo em frente. Quando falamos de alguém que tem uma perceção negativa das suas competências, pode nesse momento sentir-se sem recursos para enfrentar. Este padrão de comportamentos acaba, assim, por reforçar a crença de que não são bons o suficiente, nunca serão…

“Serei sempre um fracasso”

“Não vale a pena tentar”

É essencial para um indivíduo criar vínculos seguros. Ser aceite tal como é promove a coragem de arriscar, errar, aprender e sobretudo CRESCER SAUDÁVEL.

Então, como pai ou mãe, como posso ajudar o meu filho?

Vamos encorajar as nossas crianças a experimentar coisas novas, vamos valorizar a sua opinião, vamos partilhar as nossas dúvidas e receios diários, vamos respeitar e acolher as suas dores, vamos elogiar as suas conquistas e esforços, vamos investir no tempo com elas, vamos aceitar que são apenas crianças e que precisam de um porto seguro. Isso bastará!

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