Treino Cognitivo Preventivo

…mais vale prevenir do que remediar

Marta Parreira
NeuroGime
3 min readNov 18, 2018

--

Nos dias de hoje muito se ouve acerca da necessidade de nos mantermos física e cognitivamente ativos. O medo de perdermos a batalha contra a doença de Alzheimer ou outro tipos de demências é frequente e justificado.

A OMS estima que em todo o mundo existam cerca de 48 milhões de pessoas com demência, número que pode quase triplicar em 2050. Portugal é o 4º país da OCDE com mais casos de demência, segundo um relatório publicado em junho deste ano (pode consultá-lo aqui).

A demência é o termo utilizado para descrever os sintomas e sinais que causam um declínio progressivo no funcionamento da pessoa, de natureza progressiva, na qual ocorrem várias perturbações nas funções nervosas superiores.

Embora a investigação nesta área ainda esteja numa frase embrionária, mencionaria três “receitas” que, não sendo milagrosas, são tidas atualmente como fortes aliadas nesta luta: manter a mente ativa, manter a vida social ativa e manter o corpo ativo.

Gostava de vos falar da reserva cognitiva, e como esta pode ser uma arma ao nosso dispor para travar esta luta contra a demência ou pelo menos adiar a sua progressão no campo de batalha. A reserva cognitiva refere-se à capacidade do cérebro adulto para lidar com os efeitos de processos patológicos, nomeadamente aqueles que são neurodegenerativos. Por exemplo, maior escolaridade, atividades profissionais cognitivamente exigentes, manutenção em atividades intelectualmente estimulantes ao longo da vida e preservação de uma vida social ativa estarão associadas a maior reserva cognitiva. Sabendo nós que algumas doenças são progressivas, nomeadamente as demências, a reserva cognitiva permitirá que o progresso da doença seja mais lento do que o habitual.

Vou contar-vos um caso emblemático, que surge nos manuais da especialidade (e sobre o qual pode ler mais aqui). David Snowdon, em 1986, conduziu uma experiência a que chamou “o estudo das freiras”. Nesta experiência, ainda em curso, estudou-se a evolução das funções cognitivas de várias freiras, nomeadamente a memória, ao longo de 17 anos. Estas concordaram em conceder todos os seus registos médicos e permitiram que o seu cérebro fosse autopsiado após a sua morte. Quando autopsiadas, os investigadores verificaram que os cérebros de algumas delas tinham as mesmas caraterísticas patológicas das pessoas com Doença de Alzheimer, mas estas nunca tinham apresentado qualquer sintoma da doença. Assim, levantaram a hipótese de que a realização de atividades intelectualmente exigentes poderia mitigar os efeitos da doença de Alzheimer ao promover a plasticidade cerebral, que é a capacidade que o cérebro tem em se remodelar em função das nossas experiências.

Hoje sabe-se que existem alterações cerebrais associadas à demência que antecedem entre 5 a 10 anos o surgimento dos primeiros sintomas e sinais da doença, razão pela qual o treino cognitivo e o fortalecimento da reserva cognitiva são indicados a partir dos 40/50 anos numa perspetiva preventiva.

O treino cognitivo implica a prática repetida de exercícios específicos de competências básicas (como a atenção ou a memória) que são essenciais para o desempenho das atividades da vida diária com o objetivo de fortalecer e automatizar essas competências. A prática regular deste treino cognitivo tem vindo a demonstrar eficácia em alguns estudos que apontam para melhoria ou pelo menos para manutenção do funcionamento cognitivo.

Desta forma, para além da reabilitação e compensação de perdas cognitivas associadas a quadros neurológicos, a prevenção do declínio cognitivo deve ser valorizada. O NeuroGime surge como uma ferramenta para auxiliar esta luta através da disponibilização de serviços que permitem a estimulação sistemática das funções neurocognitivas (atenção, memória, raciocínio, fluência verbal, nomeação, tomada de decisão, orientação espacial e temporal, percepção, planeamento, capacidade de abstração, flexibilidade mental, entre outras) e outras funções (físicas, emocionais, comportamentais, funcionais, sociais e ocupacionais).

Assim, se de um lado da trincheira deste campo de batalha temos a perda de memória, raciocínio, discernimento, orientação temporal e espacial e perda de autonomia e qualidade de vida, do outro lado do campo de batalha temos o treino cognitivo…

… porque mais vale prevenir do que remediar!

--

--

Marta Parreira
NeuroGime

Neuropsicóloga e Diretora Clínica do NeuroGime