Como você ri?

Um breve ensaio sobre risadas virtuais

Raphael Mota
NEW ORDER

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Foto por Mark Daynes no Unsplash

E se hoje eu te perguntasse

Como você ri?

Aposto que há duas interpretações para esta pergunta:

A primeira pode ser uma resposta numa sonora risada que expressa e esbanja tons de felicidade e alegria. Desde um riso muito animado que faz outras pessoas sorrirem até o mais tímido haha.

A segunda está no final da última frase. Este haha é uma das risadas virtuais que adotamos para si para demonstrar algum tipo de interesse ou interação com o próximo.

No meu caso particular, o desenvolvimento da minha risada virtual veio dos tempos de MSN, em que aprendi sua importância para o diálogo fluir, entre emoctions, winks e chamadas de atenção barulhentas.

Mas como expressar em até 10 caracteres esse sentimento tão genuíno e feliz que é uma risada? Costumo ficar na dúvida com quantos “ha” é necessário para demonstrar satisfação de uma piada ou de uma história engraçada de um amigo e até quando utilizar a superlativa CAIXA ALTA PARA MOSTRAR QUE EU REALMENTE RI, VIU?

E como é o processo de escolha do seu tipo de risada? Será que a adoção de um tipo de risada escrita é uma decisão que é tomada uma vez na vida? Ela poderia mudar com o tempo junto como a sua personalidade ao longo do tempo?

Não tenho todas estas respostas ou um estudo científico para apresentar teses e resultados. Mas imagino ser normal que pelo menos algum dos tipos mais comuns te faça companhia ao longo da vida.

Seja o sutil kkk (Que nada tem a ver com o grupo supremacista racista americano), o sarcástico hehehe, o comum hahaha, o agitado huashhaushahusha e até o infame kaosakosksaopskoaksa.
Entre outros, como o americanizado LOL e o jajajaja de origem espanhola.

Qual é o real impacto do uso destes termos em nossas relações? Para a continuidade de uma conversa eles têm sua função. Só que quantas vezes a escolha na verdade não representava o real sentimento do momento, em que nem achamos engraçado mas por convenção mandamos um kkk que nada retrata.

A risada virtual nesse caso, pode ser utilizada como um recurso indevido, similar a risada de um mímico se apresentando para uma plateia desinteressada. Não somente por não emitir som, mas por ser mais teatral do que verdadeira.

Assim a frequência e sua intensidade não precisa ser evitada, porém pode ser pensada.
De modo que seja mais verdadeira e não fique somente habitando em WiFi e 4g.

De kkks e hehehes
No mundo virtual e no mundo real
Como você ri?

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Apenas alguém que come melão com molhos estranhos e gosta de escrever. Contato em: raphaeduardomota@gmail.com