Parte da jornada é o fim

Vinicius Machado
SALA SETE
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3 min readApr 26, 2019

30 de abril de 2008.

Essa foi a data em que Homem de Ferro chegou aos cinemas no Brasil, numa grande aposta da Marvel para dar início a um projeto que envolvia um universo compartilhado de heróis, que na época era completamente inimaginável. De lá pra cá, as coisas tomaram proporções exorbitantes e o que se resumia em Tony Stark, Thor, Steve Rogers, Bruce Banner, Natasha Romanoff e Clint Barton se tornou algo muito, mas muito maior, com a expansão e a inclusão de mais de 30 heróis nesse universo.

Onze anos depois, esse ciclo se encerra, com Vingadores: Ultimato, a segunda parte do desfecho e sequência direta de Guerra Infinita. O filme começa basicamente logo depois dos acontecimentos de seu antecessor. Com metade da terra dizimada por Thanos, os heróis precisam lidar com a perda de pessoas queridas e juntar os cacos e continuar na busca por uma solução que reverta os planos do Titã.

Assim como já vinham dizendo nos trailers, a mudança de clima é perceptível nos primeiros minutos, num prólogo que conclui, de certa forma, seu anterior. Não há esperanças a não ser seguir em frente e enfrentar todo o vazio deixado. É melancólico, silencioso e sem a menor perspectiva de melhora.

Se Guerra Infinita funciona como um filme solo, o mesmo não pode se dizer de Ultimato. Aqui, a Marvel colocou toda a responsabilidade da compreensão do enredo no próprio espectador. É necessário ter visto alguns filmes anteriores e quanto mais eles estiverem frescos na memória, melhor. O que é, de certa forma, corajoso, mesmo sabendo que dificilmente alguém se arriscaria ver um filme desses sem ao menos saber do que se trata.

E é justamente contando com essa participação do público que o filme se segura numa história muito bem contada, que passa por todas as fases desse universo no cinema e amarra todas as pontas que ficaram soltas ao longo dos anos. E embora a maioria desses filmes contem com easter eggs e referências para agradar quem assiste e acompanha, esse novo é inegavelmente o filme mais voltado para o fã que todos os outros e por incrível que pareça, funciona perfeitamente bem e tudo se encaixa a favor da própria narrativa.

Claro que algumas decisões de roteiro parecem ser soluções fáceis, rasas e muita coisa pode ser discutível no sentido de trama. Aliás, não é difícil encontrar por aí teorias que confirmam alguns desfechos e se o espectador mais ansioso quiser, ele também pode encontrar algumas cenas vazadas e até os mais desavisados podem se deparar com algum imbecil metido a engraçado soltando spoilers nas redes sociais.

Mas, veja bem, nada disso interfere na experiência que eles querem que você tenha. Porque o filme é muito maior que do que uma revelação antes da hora. É algo que diz muito mais sobre a jornada de dez anos e toda essa trajetória dos heróis, principalmente dos seis principais, que abriram as portas para esse universo, do que o aquilo que tá acontecendo naquele exato momento.

No fim das contas, Vingadores: Ultimato pode nem ser nada de outro mundo, mas ele nem precisa, já que ele fecha todo um ciclo de dez anos, numa história muito bem contada, que faz rir, chorar, vibrar e se emocionar com cada cena, acertando no timing perfeito para absolutamente tudo, principalmente nos momentos mais cruciais do filme e nas interações entre os personagens.

Além de tudo isso, é como se alguém sentasse ao seu lado com um álbum de fotos e dissesse “Olha só quanta coisa passamos juntos. Agora chegamos até aqui e valeu demais a pena, né?”. Afinal, parte da jornada é o fim, e é preciso lidar com isso, seja deste lado ou do outro da tela.

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Vinicius Machado
SALA SETE

Jornalista, cinéfilo, fanático por Star Wars e editor do blog Sala Sete. Escreve sobre filmes e não dispensa uma boa conversa sobre o assunto.