Podemos ser emocionais E termos autonomia ao mesmo tempo

A dicotomia só faz a gente seguir padrões tóxicos

Ana Paula Fernandes
NEW ORDER

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Ilustração de Paloma Barbosa

Ano passado eu tive um gatilho que fudeu com meu psicológico e que demorei uns dias para conseguir lidar emocionalmente com ele. Mas eu percebi também que esse gatilho fala muito com quem eu ando buscando ser a um tempo e geralmente falho, mas ando falhando menos do que antes.

Eu perceber esse gatilho foi muito importante. Pontuar e expressar verbalmente para a pessoa o peso do ocorrido e seguir firme no meu posicionamento, me mostrou o quanto eu estou com muito mais autonomia emocional e intelectual.

Eu não deixei de me colocar, mesmo eu chorando bastante.

Uma prova que podemos sim ser emocionais E termos autonomia ao mesmo tempo.

Por mais que a sociedade diga o oposto.

E quem sofre mais com isso são as pessoas lidas socialmente como mulheres, que podem parecer que tem autonomia se não transparecem emoções. Isso é muito desumanizante.

Acredito ser muito importante TODO MUNDO trabalhar a dicotomia

Eu escrevi sobre dicotomia no meu texto Nuances emocionais dicotomizadas, Perdidas entre uma caixa e outra da semântica:

Dicotomia

Dicotomia é a divisão de um elemento em duas partes, em geral contrárias, como a noite e o dia, o bem e o mal, o preto e o branco, o céu e o inferno etc.

Com origem no grego dikhotomía, uma dicotomia indica uma classificação que é fundamentada em uma divisão entre dois elementos.

Significados

Dá um Google e busca dicotomia. Repara como tudo tem que ser dicotômico, e como a coexistência é invisível.

Dicotomia é uma das mazelas que o ser humano inventou principalmente para hierarquizar e oprimir.

Eu sou bastante dicotômica ainda

mas cada dia menos. Tenho conseguido isso trabalhando a coexistência, entendendo melhor de onde vem minhas atitudes, meus pensamentos, meus gostos… Criticando a forma como lido com as coisas. Mas eu só consigo fazer essas autocríticas tirando o olhar do meu umbigo. Olhando para fora e entendendo o contexto histórico e social que faz eu ter esses gostos, pensamentos e atitudes. Tentando saber o que é meu e o que é social. E percebendo cada dia mais que não tem como separar essas duas coisas. É aí que eu chego na coexistência do eu e do social. Eu só consigo me mudar para ser menos tóxica comigo mesma e com quem está ao meu redor, se eu trabalhar a coexistência. A dicotomia só faz a gente seguir padrões tóxicos.

Menos dicotomia e mais coexistência.

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