As etapas do planejamento de um voo.

Quais são os principais procedimentos necessários?

NexAtlas
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7 min readFeb 19, 2018

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Por Vinícius dos Anjos Silva

Planejar um voo significa garantir conhecimento prévio das informações relativas à atividade que se pretende realizar, elaborando um plano de ação para as condições previstas e alternativas para situações indesejadas.

O planejamento de voo aumenta a segurança e eficiência da atividade aérea. Prova disso está no Sumário Estatístico da Aviação Particular, elaborado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), onde pode-se constatar que a ausência ou deficiência no planejamento de voo é o 2o. fator contribuinte mais frequente para acidentes aeronáuticos na aviação particular brasileira, resultando principalmente em ocorrências de perda de controle em voo, pane seca e colisão com obstáculos durante o pouso e decolagem.

Pilotos utilizam uma variedade de recursos para planejar o voo, incluindo meios analógicos, digitais e o apoio de pessoal qualificado em determinados aeroportos nas chamadas Salas AIS. Independente da forma como o planejamento é realizado, esta é uma atividade obrigatória e responsabilidade do Piloto em Comando da aeronave antes do início de cada voo, conforme estabelecido pela legislação vigente RBAC 91.103 - Atribuições de pré-voo.

As etapas do planejamento de um voo podem variar conforme o tipo de operação, mas em geral são as seguintes:

  1. análise dos aeródromos;
  2. escolha da rota a ser percorrida;
  3. análise da meteorologia atual e prevista;
  4. cálculos de performance da aeronave;
  5. preenchimento e envio do formulário de plano de voo e,
  6. conferência da documentação necessária ao voo.

A seguir apresentamos a descrição de cada uma dessas etapas do ponto de vista da aviação particular. Seja você piloto aluno ou já experiente na área, aproveite a oportunidade para refletir sobre os seus procedimentos e garantir que está verificando tudo que é realmente necessário.

Passo-a-passo

Com relação aos aeródromos envolvidos (de partida, destino e alternativa) o piloto deve inteirar-se das características gerais como posição, elevação, orientação das cabeceiras e comprimento da pista, além de tomar conhecimento dos serviços de apoio à atividade aérea disponíveis na localidade. Esta consulta é realizada principalmente através do portal online AISWEB, fonte oficial de informações aeronáuticas no Brasil. Mediante pesquisa pelo código designativo do aeródromo (ex. SBMT) no campo “Consulta prévia ao voo”, obtém-se acesso à uma coletânea de informações da localidade, sendo de especial importância aquelas referentes ao Manual de Rotas Aéreas ou ROTAER.

Este é o momento ideal para realizar contato telefônico com a administração do aeródromo e/ou empresas locais se necessário, visando confirmar as condições operacionais e disponibilidade de serviços no dia e horário desejados (como vaga e local de estacionamento ou hangaragem, procedimentos de embarque e desembarque para aviação geral e abastecimento da aeronave).

É indispensável atentar-se ao fato que podem existir informações que complementam ou alteram aquelas constantes no ROTAER. Tais informações, de caráter temporário, são as Notice to Airman ou NOTAM. Exemplos são a exigência de permissão adicional para pousos e decolagens (SLOT), indisponibilidade de combustível na localidade ou o fechamento de uma pista devido a obras.

O piloto deve ainda estudar as cartas do aeródromo (ADC, AOC e PDC) e as cartas das possíveis saídas e aproximações visuais (VAC) ou por instrumentos (SID, STAR e IAC). O objetivo é familiarizar-se com as taxiways e procedimentos de chegada e saída vigentes, tomando conhecimento prévio da operação aérea a ser realizada, assim como frequências de comunicação a serem utilizadas.

Durante o planejamento há maior tempo para atentar-se a detalhes nestes assuntos que eventualmente poderiam passar despercebidos em voo.

Uma simples carta de aeródromo pode conter uma grande quantidade de informações. Analisá-las com antecedência, ainda durante o planejamento de voo, ajuda a evitar imprevistos.

A próxima etapa do planejamento de um voo é a escolha da melhor rota a ser percorrida e para isso o piloto faz uso de cartas ou mapas de navegação para voo visual (WAC, REA e REH) e por instrumentos (ARC, ENRC Low e ENRC High). A visualização de imagens aéreas e mapas rodoviários atua de maneira complementar e positiva durante a consulta das cartas oficiais, permitindo maior variedade de escolha e qualidade das referências visuais para definição do percurso.

Pilotos são livres para escolher a rota que desejar, geralmente sendo aquela de menor distância entre dois pontos. Deve-se, no entanto, verificar e garantir a correta interação com corredores visuais, aerovias e espaços aéreos controlados e condicionados ao longo do caminho, o que pode exigir desvios consideráveis. No caso de voos por instrumentos, existe ainda a possibilidade de algumas rotas já estarem definidas entre os aeródromos envolvidos para padronizar o tráfego aéreo na região. Esta informação está disponível para consulta no chamado playbook de rotas.

Durante a definição do percurso, deve-se atentar à elevação do terreno e tipo de região sobrevoada (selva, mar, cadeia de montanhas, se pouco ou muito urbanizada) e suas implicações com relação a referências para navegação visual, comunicação rádio, disponibilidade de aeródromos para o caso de emergência em rota e etc.

Vale lembrar que cartas para voo visual e por instrumentos servem como complemento umas às outras, cada qual oferecendo foco em diferentes grupos de informações.

A seguir vem a consulta das condições meteorológicas atuais e previstas para os aeródromos e rota escolhida, composta pela leitura de reportes do tipo METAR e TAF, análise de imagens de satélite, cartas de prognósticos (SIGWX), descargas elétricas, ventos, turbulência e formação de gelo em diferentes altitudes, além de imagens de radar meteorológico, conforme disponível.

A consulta de informações meteorológicas para fins das atividades aéreas no Brasil é realizada através do portal online da Rede de Meteorologia do Comando da Aeronáutica ou REDEMET. De maneira complementar, pilotos são encorajados a buscar informações adicionais em sites e aplicativos especializados como Windy.com, previsão em telejornais, canais dedicados no Youtube ou até mesmo uma ligação telefônica para alguém no destino que possa fornecer uma descrição das condições atuais na localidade.

O importante após informar-se é permitir que a análise meteorológica resulte em desvios na rota, mudança do horário de partida ou mesmo no cancelamento do voo caso condições insatisfatórias sejam identificadas.

Uma vez definida a rota final, os aspectos operacionais da aeronave devem ser considerados. Neste momento o piloto determina o tempo de voo e a quantidade requerida de combustível, partindo então para o cálculo do peso e balanceamento da aeronave. A análise inclui cálculos de performance de decolagem, subida, cruzeiro, descida e pouso conforme dados determinados pelo fabricante no manual de voo e permite determinar com precisão, por exemplo, se os comprimentos de pista disponíveis para decolagem e pouso nos aeródromos envolvidos são suficientes para operação segura nas condições de peso da aeronave, pressão e temperatura atmosférica previstas.

Todas as aeronaves certificadas possuem gráficos e tabelas de performance operacional para consulta no manual de voo.

Neste ponto, o piloto já possui todo o conhecimento necessário para formalizar sua intenção de voo através do formulário de plano de voo à autoridade aeronáutica, garantindo assim que o voo contará com o apoio dos serviços de tráfego aéreo e com uma eventual busca e salvamento em caso de acidente.

O preenchimento e envio do plano de voo é realizado através das salas AIS de alguns aeroportos, pelo do sistema online SIGMA ou aplicativo FPL-BR.

Dúvidas no preenchimento do formulário de plano de voo podem ser solucionadas na publicação MCA 100–11.

A conferência de toda a documentação necessária ao voo vem a seguir, momento em que o piloto verifica se a aeronave transporta todos os documentos e publicações aeronáuticas de porte obrigatório e confere, no diário de bordo, se a aeronave possui horas disponíveis suficientes antes da próxima revisão e ausência de discrepâncias de manutenção em aberto.

O planejamento pessoal também é parte do processo e, portanto, o piloto deve garantir que suas habilitações e certificado médico encontram-se vigentes, que transporta bagagem suficiente para pelo menos uma noite de estadia no destino (mesmo quando não há previsão de pernoite) e que leva dinheiro ou cartão para eventuais despesas não planejadas. Garantir as horas adequadas de sono, evitar o consumo de bebida alcóolica e cuidar para realizar uma alimentação balanceada também são atitudes relativas a um bom planejamento de voo.

Para fechar com chave de ouro, em voos cuja tripulação é composta por mais de um piloto, deve-se realizar de uma conversa (briefing) para debater as informações analisadas e garantir a coordenação total entre os envolvidos.

Como podemos melhorar

O acesso à informação aeronáutica se tornou relativamente fácil após o advento da internet e a popularização dos dispositivos móveis pessoais. Apesar disso, planejamento de voo ainda é considerado uma atividade demorada e de importância secundária, condição justificada pela alta carga de trabalho e fato que nem sempre o relógio joga a favor do profissional.

Mas a atividade de planejamento de voo precisa ser uma questão de disciplina. Ou seja, jamais esquecida.

Este é o motivo por trás da NexAtlas, ferramenta digital idealizada por pilotos e para pilotos, capaz de entregar informações rápidas que ajudam a planejar até mesmo os voos mais complexos e de última hora.

Acreditamos em 3 pilares fundamentais para permitir melhores índices de voos que corretamente planejados:

  • redução do tempo necessário para encontrar e separar, de todo o resto, as informações que realmente são importantes para o voo,
  • automatização dos cálculos e
  • maior facilidade de interpretação de todo esse material.

Existe uma variedade de websites e aplicativos destinados a entregar informação aeronáutica ao piloto brasileiro, mas ainda há de existir um com processo inteligente de entrega daquelas informações que o piloto realmente necessita em seu voo específico.

Nosso objetivo na NexAtlas é desenvolver esse processo. Queremos fazê-lo de modo intuitivo, que oriente o piloto nas diversas fases do planejamento do voo e reduza consideravelmente a carga de trabalho na execução da atividade. Seguimos investindo neste ideal!

Sobre o autor:

Vinícius dos Anjos é piloto comercial de avião formado em Ciências Aeronáuticas e possui 2.000 horas de voo primariamente na aviação executiva. É o idealizador da NexAtlas e assume a posição de Gerente de Produto no desenvolvimento, responsável pela elaboração de novas funcionalidades do aplicativo. Possui sugestões? Entre em contato: vinicius@nexatlas.com.

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Aplicativo de planejamento de voo para pilotos.