E nasce uma nova moeda, o Bit(coin)Cash…

Níckolas Goline
nGoline
Published in
4 min readAug 4, 2017

O tão temido e esperado dia 01/08/2017 passou e o terremoto que estava previsto para chacoalhar o mundo das moedas digitais não veio como esperado.

A discussão sobre a melhor forma de expandir a capacidade da rede Bitcoin ainda está longe de terminar e muita gente ainda não entendeu o que aconteceu. Por isso resolvi falar um pouco sobre os eventos que vêm acontecendo nos últimos 2 anos.

O limite da rede

No blockchain do Bitcoin os blocos são criados e publicados na rede a cada 10 minutos e são compostos por cerca de 2000 transações. O número de transações que compõem cada bloco é calculada através da soma dos bytes das transações (cerca de 400Kb) e das suas respectivas assinaturas (cerca de 600Kb), resultando em um bloco com aproximadamente 1Mb.
*pretendo explicar melhor sobre o assunto em outro post*

Vale lembrar que o limite de tamanho do bloco não leva em consideração o tamanho do cabeçalho do bloco.

Graças a este limite, só é possível realizar cerca de 300 mil transações por dia, um número muito pequeno comparado à outros meios de pagamento.

A proposta

Há cerca de 2 anos os desenvolvedores que cuidam do Bitcoin, conhecidos como Core Devs, se reuniram com empresas que operam na rede e decidiram que a melhor forma para expandir seria fazer um Hard Fork (bifurcação, em português) no blockchain. Isso faria com que um dos braços dessa bifurcação utilizasse blocos com o dobro da capacidade (cerca de 2Mb) enquanto o outro viveria somente até que todos os nós migrassem para a novo braço.

O problema de um hard fork é que enquanto 100% dos nós não migram para o novo software as duas moedas coexistem, duplicando a quantidade de moedas no mercado e causando uma inflação muito grande, que pode impactar de forma drástica no valor da moeda.

Uma saída mais simples

Pouco tempo depois de aprovado o hard fork, que dobraria a capacidade do bloco, o Core Devs percebeu que existia uma maneira diferente para aumentar a capacidade da rede sem a necessidade de arriscar a economia da moeda.

Outra reunião foi feita para apresentar o SegWit, ou Segregated Witness (testemunha segregada em português), que separa as transações de suas respectivas assinaturas.

Desta maneira as transações ficam no corpo dos blocos e suas assinaturas no cabeçalho, comportando cerca de 3x o número de transações contidas no bloco do software anterior.

O veredito foi NÃO

O SegWit não foi aceito por boa parte dos integrantes dessa reunião, em especial por uma categoria, os donos de pools de mineradoras.
O grupo Core Devs então conseguiu a aprovação de outro protocolo, o SegWit2x, que ativaria o SegWit com uma transição mais tranquila e poucos meses depois ativaria o hard fork para duplicar a capacidade do bloco (2x), terminando assim com a capacidade de transações da rede praticamente 4x maior.

Já era sabido que Jihan Wu, também conhecido como Bitmain, dono de pools de mineração e fabricante das mineradoras AntMiner, havia investido milhões de dólares em uma tecnologia chamada ASIC Boost, que melhorava muito a performance de suas mineradoras reorganizando as transações dentro do bloco com o intuito de “burlar” a construção dos blocos, gerando mais lucro para o seu pool.

O problema é que o protocolo SegWit faz com que os blocos criados com ASIC Boost sejam invalidados, já que a reordenação das transações no corpo do bloco não é compatível com a ordem original das assinaturas no cabeçalho.

Novos desenvolvedores

Jihan Wu decidiu que seria mais fácil contratar seus próprios desenvolvedores e criar um novo software de Bitcoin, o Bitcoin ABC, que não implementaria o protocolo SegWit , mas aumentaria o tamanho dos blocos e consequentemente a capacidade de transações da rede.
A ameaça feita por Wu foi de que se o protocolo SegWit fosse ativado ele ativaria seu próprio hard fork e criaria uma nova moeda.

Com a iminência da ativação do protocolo SegWit , Wu acabou definindo que no dia 01/08/2017 às 9:20 (horário de Brasília) suas mineradoras passariam a rodar o novo software para criar o hard fork e a nova moeda.

Em resumo

Ao final dessas reuniões todas, acabamos com 3 propostas de melhoria para a rede, também conhecidas como BIP (Bitcoin Improvement Proposal) ou Proposta de Melhoria do Bitcoin:

  • BIP 141, BIP 148 — Introduzida em 2015 pelo Core Devs e introduzida por um desenvolvedor anônimo em março de 2017 com o intuito de adiantar o BIP 141, respectivamente.
  • BIP 91 — Introduzida em maio de 2017 pelo Bitmain com o intuito de adiantar o BIP 141 para evitar o hard fork que curiosamente também foi proposto pelo Bitmain.
  • UAHF — Apesar de não ser uma BIP propriamente dita o User Activated Hard Fork (Hard Fork Ativado por Usuários), também conhecida por Bitcoin ABC (Adjustable Block size Cap ou Limite de tamanho de Bloco Ajustável), Bitcoin Cash, BCC ou MAHF (Miner Activated Hard Fork ou Hard Fork Ativado por Mineirador), entra nesta lista pois seria uma mudança feita no blockchain.

No dia 01/08/2017 tivemos a ativação do hard fork, que criou uma nova moeda chamada de BitCash (BCH) ou Bitcoin Cash(BCC). Esta nova moeda não foi muito bem aceita pelo mercado e nem pelas exchanges (corretoras) e vê seu valor caindo mais a cada vez que uma nova exchange permite que ela seja trocada por outras moedas.
O futuro do BitCash ainda é incerto.

Neste momento estamos presenciando a ativação do SegWit através da sinalização do BIP 141, 148 e 91 por usuários e mineradores. O próximo passo agora é saber se prosseguiremos para o caminho 2x (BIP 91) ou se teremos mais um hard fork feito por usuários que estão sinalizando somente BIP 141 ou 148.

--

--

Níckolas Goline
nGoline
Editor for

Blockchain Engineer @Transfero Swiss. In love with aerospace technology, stumbled upon Bitcoin in 2009 & funded Mineirama in 2017.