De onde vem sua criatividade?

Alan²
Nibble Tecnologia
Published in
4 min readFeb 7, 2020

Será que a criatividade é uma qualidade inata ou uma habilidade que pode ser estimulada e aprendida?

É provável que você já tenha assistido a um desenho animado onde o personagem percebe algo repentinamente, e sua ideia é indicada com uma lâmpada acesa sobre a cabeça. Embora muitas vezes nós tenhamos essa sensação sobre nossas próprias ideias, a criatividade está longe de depender da sorte, nem é um dom especial que te faz ter ideias do nada em um surto repentino de inspiração.

A criatividade não é mágica, ela aparece quando o pensamento rearranja ideias e conceitos já existentes no cérebro e os transforma em novas soluções. Tudo que vemos, ouvimos, lemos, assistimos e experimentamos, pode ser copiado, combinado e transformado em novas ideias.

Quanto mais nos conectamos com outras pessoas e novos conteúdos, maior a probabilidade de ligar os pontos entre esses inputs para gerar uma nova ideia.

Inclusive, este texto é baseado no documentário de Kirby Ferguson, Everything is a Remix, onde ele demonstra que o ato de copiar é um elemento da criatividade, e de certa forma todos somos cópias.

Neste post não vou te ensinar a ser mais criativo, vou abordar aspectos em torno do tema e você vai perceber que não é preciso ser um gênio para ser mais criativo.

Nada é original, abrace suas influências

Todas as grandes obras, músicas, programas, livros e negócios, nada foi criado do zero, tudo evoluiu de elementos anteriores. O Google e o Facebook não reinventaram a roda, não foram criados do zero e nenhum negócio de sucesso foi.

Cada passo na evolução abriu a possibilidade para novas conexões e combinações que antes não existiam, expandindo o repertório de coisas que podiam ser criadas naquele momento. As ideias mais importantes levam muito tempo para evoluir e se apoiam em outras ideias. Veja alguns exemplos:

  1. A imprensa de Gutenberg foi inventada por volta de 1440, mas todos os seus componentes estavam disponíveis havia séculos.
  2. A Ford não inventou a linha de montagem, as partes intercambiáveis ou o próprio automóvel. Eles combinaram todos esses elementos em 1908 para construir o Modelo T, primeiro carro produzido em massa.
  3. A maioria dos filmes são continuações, refilmagens ou adaptações de livros, histórias em quadrinhos e videogames.
  4. O Google não poderia ter sido inventado na década de 50, pois primeiro seria necessário a invenção dos computadores e da internet.
  5. Com os smartphones, surgiram desenvolvedores de aplicativos, fabricantes de capas, diversos acessórios e assim por diante.

Filmes são construídos em outros filmes, assim como livros, programas de TV, eventos, jogos, enfim, todas as coisas são um remix de outras coisas que também já foram remixadas anteriormente (até você é um remix da sua mãe com o seu pai e seus ancestrais).

As oportunidades favorecem as mentes conectadas

No livro De Onde Vêm As Boas Ideias, o autor Steven Johnson diz que o grande propulsor da inovação científica e tecnológica nos últimos 600 ou 700 anos foi a conectividade e a nossa capacidade de buscar outras pessoas com quem trocar ideias.

Johnson fala que os cafés durante o iluminismo e os salões parisienses no modernismo eram motores de criatividade, pois criavam espaços onde as ideias podiam se misturar, se combinar e gerar novas formas.

Hoje a internet revolucionou a comunicação e passou a ser o novo motor de criatividade. Ela nos permite ficar conectados o tempo todo, facilita a busca por pessoas para trocar ideias e fornece mais recursos para aproveitarmos as oportunidades do mundo atual, onde não se pode resolver problemas novos com ideias velhas. Quanto mais complexo fica o ambiente, mais precisamos nos conectar a outras pessoas com outros conhecimentos para nos ajudar a ampliar nossa capacidade de atuação.

Pegue o que admira, transforme o que não gosta e combine tudo de bom em algo melhor

“Se gosta de um artista, copie-o, e copie as referências deste artista, descubra de quem ele gosta, quem ele copia, quem é a sua influência e tome tudo isto para si. Seja este artista, até a hora que vai sentir que não está mais copiando e sim criando sua própria versão.” Essa frase foi dita por Austin Kleon, autor de Roube como um artista: 10 dicas sobre criatividade.

Somos influenciados por tudo que deixamos entrar em nossas vidas e é assim que construímos as fundações do conhecimento. Após fixarmos os fundamentos é possível pensar em algo novo através da transformação e combinação. Mesmo grandes nomes de sucesso copiavam suas influências no início de suas carreiras (e passaram de copiadores para copiados), então não há problema algum se você fizer o mesmo. Veja alguns exemplos:

  • Kobe Bryant, por exemplo, admitiu que suas jogadas foram copiadas dos vídeos de basquete que assistia. No início percebeu que não podia executá-las completamente, pois não tinha o mesmo tipo físico dos caras que estava imitando. Ele adaptou as jogadas para torná-las suas.
  • Bob Dylan tinha onze músicas cover em seu álbum de estreia.
  • Richard Pryor começou a carreira na comédia fazendo imitações não tão boas de Bill Cosby.

Copiar não é plagiar. Plágio é usar o trabalho de outra pessoa como se fosse seu próprio. Copiar é ser inspirado por suas referências, utilizar partes e misturar com outras coisas para chegar a soluções diferentes. E lembre-se que a criatividade é inútil sem ação. Ideias todos têm, mas para ela se tornar realidade é preciso pôr a mão na massa.

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