Aconteceu outro dia

E olha, eu não esperava.

Deitados na cama do único quarto do 132, sua mão corria meu cabelo liso de um lado para o outro, de frente para trás. Seus lábios beijavam minha nuca, deixando minha pele arrepiada. Deslizando mais para baixo, sua mão seguia acompanhando meu cabelo, passando pela orelha rígida, pelo brinco de bolinha e pelo ombro direito. Nessa parte, você trocou o vai e vem das mãos por movimentos circulares e uma certa pressão, que aliviava os nós acumulados do dia a dia. Relaxa, você sussurrou. Uma sequência de beijos, uma mordida leve e uma lambida seguida por uma risada. Besta, sussurrei de volta.

Ainda com os lábios no meu ombro, seguiu para as pontas do cabelo, encontrando a lateral do seio, as costelas e a curva da cintura violão. Escapou sua mão para minha barriga, me fazendo contorcer inteira. Cosquinha, falei entre risos baixos. Peguei no seu braço e devolvi sua mão para meu quadril que, depois de longos segundos, você abandou e chegou nas minhas coxas.

Nesse ponto, parou.

Nossas pernas formavam um entrelaçado de pele, pelos, atrito e cobertor. Acima de nós um conjunto de cobertas que, além de espantar os 14 graus de frio, nos isolava de toda e qualquer expectativa.

Só importava ali. Só importava agora.

Senti seu olhar em mim, “boa noite”. Fechei os olhos e levantei um sorriso, quase sem perceber.

Aconteceu outro dia e, olha, eu não esperava você.

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