Izedealmeida
Ninho de Escritores
3 min readJun 15, 2021

--

Chegou repentinamente, sorrateiramente

Era sua maneira habitual, há muito tempo.

Se entreolharam a menina e o desejo.

Havia um respeito entre ambos,

Não entendia sua chegada, simplesmente acontecia.

Devagar e com calma, silenciosamente, sem violência,

Ele, o desejo, ia se apoderando da alma, da menina.

Não sabia por quanto tempo iriam conviver,

Algumas horas, semanas ou até mesmo meses.

O convívio não era fácil, ia se tornando mais difícil,

Pela manhã sentia sua presença mais forte,

Demorava um pouco mais a sair da cama,

Com o corpo cansado assumia as atividades corriqueiras.

Depois o dia corria normalmente,

Uma normalidade estranha, arrastada, pesada.

Ninguém a sua volta percebia o convívio interior,

Não havia medo, a menina apenas observava,

Se acostumara a invasão, afinal já se tornara recorrente.

No início, na primeira vez, foi muito diferente.

Não se conheciam, a invasão foi avassaladora.

O desejo chegou e tomou conta,

Foi arrastando tudo para o lado com violência.

A alegria, o sorriso, os outros desejos,

De risonha que era se tornou séria.

Até a palavra não escapou a violência do desejo,

De tagarela que era se tornou calada.

E por fim começou a arrastar o calor,

O frio foi tomando conta de tudo,

Arrastou o sol, colocou a neve, depois foi fácil tirar as cores.

Caminhava a menina pelo mundo

Com a alma tingida de nuances de preto e branco,

Não entendia bem o que vivia

Se por fora havia calor e cor,

Na alma somente frio e preto e branco.

O poder do desejo era forte,

Conseguiu arrastar até o branco,

A escuridão do preto ia assumindo tudo.

Com tamanha força, com tamanha violência,

O desejo a trouxe até a menina.

Chegou de repente, tal qual o desejo.

Na calada da noite, a hemorragia e a correria.

Silencio na alma, a menina observava, sem medo.

Talvez aí tenha sido o seu aprendizado de observar.

Mas ela não a levou, veio e foi sozinha.

Deixou a menina, o desejo e o medo.

Medo não do desejo, medo não de ser levada,

Medo de viver, medo da vida, medo do mundo.

Caminhou a menina pelo mundo cheia de medo,

Desse dia em diante, se tornou seu companheiro.

A menina pensa nisso e não entende.

Ninguém viu, ninguém percebeu.

De lá para cá, o desejo, veio várias vezes,

A menina foi aprendendo a convivência.

Sentia a sua chegada silenciosa,

Se punha a observar, assim mantinha certo controle.

Ficava atenta ao que ia por dentro,

Tentava não perder o que ia por fora.

Segurava qualquer emoção, capaz de deter o desejo.

Um encontro inesperado,

O sorriso que vinha em sua direção,

A ternura que nascia em seu coração,

Qualquer sentimento era agarrado com força,

O desejo a observava,

Ela observava o desejo,

Se sentia cansada, às vezes,

Os braços ficavam pesados.

Mas não desistia, colecionava momentos,

Colecionava sentimentos, olhares, gestos.

Até que, de repente, como chegara,

O desejo se desalojava da alma da menina.

Leve ela ficava novamente,

Caminha pelo mundo cheio de cores.

Mas, sabia que ele voltaria,

Sentia a expectativa da chegada,

Bem que ela pensava,

Se não o esperasse, se pudesse esquecer,

Quem sabe, ele dessistia de voltar.

Mas como fazer tal coisa?

Isso, ela realmente não sabia.

--

--