Como explicar o que é diferente?

Um pequeno desabafo de quem gostaria de mais conexão.

Tales Gubes
Ninho de Escritores
3 min readJun 6, 2018

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Foto por Felix Mittermeier do Pexels

Começou ontem o primeiro grupo online do Círculo do Ninho de Escritores. Por um lado, estou muito feliz que exista mais esse canal de participação no Ninho. Dentre os três formatos que ofereço, o Círculo é o meu favorito.

Por outro, senti-me frustrado. Algumas das pessoas inscritas optaram por não comparecer ao encontro porque não haviam entendido previamente como se daria a experiência.

Essa é uma dificuldade que detectei desde que criei o Ninho de Escritores: como explicar algo que é diferente de tudo o que existe?

Tentei ao máximo ser claro na página do Ninho e já escrevi aqui no Medium como acontece um encontro do Círculo. Mas esses são detalhes formais, que dizem respeito à estrutura ou à dinâmica, nunca à experiência.

Costumo falar que o Círculo é um espaço seguro de prática e diálogo sobre escrever e viver. Cada uma das expressões que compõem essa frase ajuda a entender do que se trata.

Espaço seguro porque é um grupo orientado pela não-violência e pela partilha honesta.

De prática porque diz respeito ao treinamento contínuo da escrita por meio de exercícios e edições individuais e em grupo.

De diálogo porque se pauta na troca de experiências para construir entendimentos comuns, em vez de disputar quem está certo. Gosto da definição dada pelo The Co-Inteligence Institute, que diz: “diálogo é exploração compartilhada em direção a um maior entendimento, conexão ou possibilidade”.

Sobre escrever porque esse é o foco do que buscamos aprender: como colocar em palavras as ideias e histórias que queimam dentro de nós.

Sobre viver porque tudo o que aprendemos sobre a escrita é na verdade uma grande metáfora sobre a vida.

Talvez eu possa me basear na experiência de quem já viveu um projeto do Ninho de Escritores:

“Sou uma das participantes da oficina “como nascem as histórias”, realizada no sábado, e gostaria de registrar meu feedback (acho que está mais pra um depoimento, na verdade). Gosto muito de cursos, de aprender coisas novas, no entanto, sempre fui uma pessoa bastante reservada, que não se expõe sem estar segura e que não se sente à vontade em qualquer lugar/companhia.
Minha expectativa em relação à oficina era de que eu me sentaria em meu lugar sem abrir a boca, receberia instruções de como escrever um bom texto, ouviria afirmações idiotas de alunos que acham que sabem mais do que o professor e iria embora com algum conteúdo a mais e sem nenhuma amizade feita.
Que eu cai do cavalo no meu pré julgamento já ficou óbvio, mas, mais do que isso, me senti em um universo encantado, em uma fábrica de realização de sonhos, rodeada por pessoas que parecem viver as mesmas crises que eu e com sonhos semelhantes aos meus.
E assim, pela primeira vez em um curso, eu queria falar, queria me expor naquela terapia de grupo. Na oficina, assim como deve ser no ninho, não somos incentivados a compartilhar apenas nossas ideias, mas também nossos sentimentos e, o que é a escrita/a criação de histórias se não sentimento? Do sentimento mais puro ao mais perverso, do mais acolhedor ao mais solitário. Tudo é história, tudo é sentimento.
Saí de lá com a certeza de que encontrei o rumo certo pra minha vida ou, pelo menos, a válvula de escape que vai tornar os meus dias melhores e o meu caminho mais colorido.
Muito obrigada e parabéns pelo belíssimo trabalho.”

Pensando com carinho, minha frustração é menos por não saber explicar o que é diferente e mais por não ter recebido o tempo para mostrar que diferença é essa e como ela pode se conectar com a vida das pessoas.

O jeito é respirar, manter a porta aberta e continuar convidando as pessoas a conhecerem.

Você quer conhecer o Círculo?

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Tales Gubes
Ninho de Escritores

Um olhar não-violento para uma vida mais livre, honesta e conectada. Criador do Ninho de Escritores, da Oficina de Carinho e do Jogo pra Vida.