O primeiro sopro

(crédito de imagem: wikividros.eesc.usp.br)

O primeiro sopro

Uma pausa, um breve silêncio e o som da queda.

Um sopro.

Ahhhhhh! A emoção sussurrada escapa da garganta.

O que era repouso, agora é aceleração.

Entre a mão que deixou escapar o objeto e o chão, a força da gravidade atua implacável.

Dez metros por segundo ao quadrado!

Durante a queda, os átomos da escultura de vidro relembram seu primeiro sopro, o ar da garganta daquele que lhe deu origem e forma ainda está lá.

Uma gota de vidro colhida na ponta de um tubo metálico, retirada do calor da caldeira de cerâmica que abrigava o fogo, a boca colou-se ao tubo e expirou o ar que criou a bolha arquiteta dos designers envidraçados.

Assim nasceu a arte que está prestes a se desmanchar quando tocar o solo.

O líquido vermelho-tinto-malbec que a preenche dança enquanto presume a queda.

Areia, calcário, carbonato de sódio, óxido de alumínio, corantes, descorantes, nada escapa à força daquele espaço-tempo.

E o som dos estilhaços ainda suspenso no ar, com a garrafa de vinho ainda em queda livre, anseia por existir e, com ele, uma nova pintura na galeria do chão branco da cozinha.

Ao tocar o azulejo, a gravidade em seu momento de epifania, quebra o vidro explodindo-o em minúsculos cristais, desconstruindo a antiga forma, e como pincéis na mão do artista, expressa sua art nouveau naquela tela de fundo branco.

O som se materializa, as peças soltas se movem e os átomos agora formam uma nova aquarela surrealista com tons de verde e branco, enquanto o vermelho escuro se derrete no chão como uma pintura da série vermelha de Dalí!

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