Diário do Ninho de Escritores #1

Se eu fosse um bom marqueteiro, não publicaria este texto.

Tales Gubes
Ninho de Escritores
4 min readMar 8, 2017

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Ontem foi o primeiro dia da Jornada do Ninho de Escritores em 2017. Como criador do projeto, sempre sou uma pessoa suspeita para contar como foram as coisas, mas farei isso mesmo assim. Minha ideia é fazer disso um hábito após cada encontro, compartilhando um pouco do que é vivido dentro do Ninho.

Um começo decepcionante?

Comecei o encontro pedindo às pessoas que contassem como estavam chegando. A ideia da pergunta é entender a energia do grupo, as expectativas e os receios. Antes mesmo de passar a palavra, me adiantei e contei que eu estava decepcionado.

Estávamos entre cinco pessoas. A minha expectativa era de que fôssemos dez.

Em algum lugar da minha cabeça, explodiam ideias sobre como as trocas de experiência seriam mais significativas se houvesse mais gente e o quanto a ausência de outras pessoas era culpa minha por não divulgar direito o Ninho. Agarrado ao que poderia ser, fiquei temporariamente desconectado do que estava sendo de fato.

O poder de estar com pessoas que sonham junto

A decepção logo abriu espaço para a felicidade de estar de volta ao Ninho de Escritores. Parte dessa alegria vem de eu ser o responsável pela existência do projeto, mas essa é uma parte pequena. O que mais me impulsionou ontem a deixar a decepção de lado foi o prazer em estar com outras pessoas que, como eu, sonham com a escrita tendo um espaço relevante em suas vidas.

A Jornada é uma troca de experiências, um processo colaborativo e autodirigido de aprendizagem sobre escrita. Quem frequenta sabe o que quer: escrever mais e melhor. Quando pessoas diferentes se reúnem em torno de um sonho em comum dentro de um ambiente seguro para se conectar, a magia acontece.

Existe muito poder em estar junto.

Nossas duas mentes

Gosto de usar uma metáfora que separa nossa cabeça em duas mentes distintas.

De um lado, temos a mente criativa, responsável por explorar o mundo, estabelecer conexões e criar caminhos novos. É a mente criativa que desafia o estabelecido e que nos impulsiona a perceber como as coisas poderiam ser diferentes. A mente criativa é nosso lado criança, livre de amarras, bloqueios e restrições.

É com essa mente que podemos explorar ao máximo o desenvolvimento de ideias e a escrita do primeiro esboço. Sem medo de errar porque a criatividade nasce do erro e do inesperado.

De outro lado, temos a mente crítica, nossa companheira que informa o que está bom e o que precisa melhorar. É a mente crítica que buzina em nossos pensamentos quando começamos a escrever um texto e ouvimos lá no fundo do cérebro algo como “isso nunca vai dar certo, está ruim, desiste!”. É ela a responsável pela síndrome do impostor, aquela sensação de que logo o mundo perceberá que somos uma fraude.

Quando desistimos de escrever porque achamos que não sabemos, que não somos bons o suficiente, que não temos “o dom da escrita”, é a mente crítica que está por trás dessas ideias.

A mente crítica não é uma vilã

É muito fácil acreditarmos que precisamos de alguma forma desligar a mente crítica. Até existem técnicas para isso — mas só temporariamente.

Porém, acredito na importância de entendermos o que a mente crítica está sempre tentando fazer por nós. Nossa mente crítica quer nos proteger. De um jeito bruto e desajeitado, verdade, mas nossa proteção é o seu objetivo. Querer se livrar dela é ingênuo e inútil.

Melhor que isso é aprender a conviver com ela.

Minha mente crítica estava a mil ontem no início do encontro. Eu desejava oferecer um encontro incrível para muitas pessoas, mas a realidade foi diferente. O máximo que eu podia fazer, nas circunstâncias, era oferecer um encontro incrível para poucas pessoas. E foi isso que precisei dizer à minha mente crítica: que era melhor cuidar de quem estava ali do que explodir tudo por não ser o ideal.

Doeu? Sim, doeu.

Mas também foi bom porque venho treinando minha mente crítica a sair do caminho. Ela não está no controle, por mais alto que grite comigo.

Isso vale também para a escrita: o medo do que vão pensar e a dúvida sobre nossa habilidade não têm controle sobre nós. São preocupações válidas, mas nós decidimos o que fazer com elas e quando dar ouvido a elas.

A gente faz o que é possível no momento — em cada momento — seja na escrita, seja numa jornada com outros escritores dentro de um ninho. E estará tudo bem se mantivermos em mente uma simples ideia: da próxima, faremos um pouquinho melhor.

Um convite

A Jornada do Ninho de Escritores não tem um fim determinado. Cada pessoa escolhe mês a mês se deseja entrar, continuar ou deixar o grupo. Isso acontece porque a Jornada não é um curso e sim um campo espaço-temporal para reunir pessoas que desejam experimentar e aprimorar a escrita.

No dia 4 de abril teremos o encontro de acolhimento para abril. Este é um encontro aberto e gratuito para experimentar de perto o que é o Ninho e ver se faz sentido participar.

Os encontros de acolhimento são o portal de entrada para participar da Jornada. São abertos para que possíveis participantes possam conhecer o Ninho antes de fazerem um investimento financeiro — porque entendo que o dinheiro às vezes é uma barreira antes de arriscarmos o desconhecido.

Estará em São Paulo no dia 4 de abril das 19h às 22h? Então venha conhecer o Ninho de Escritores. Basta se inscrever no site do Ninho e eu entrarei em contato para conversarmos.

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Tales Gubes
Ninho de Escritores

Um olhar não-violento para uma vida mais livre, honesta e conectada. Criador do Ninho de Escritores, da Oficina de Carinho e do Jogo pra Vida.