Segredos

Cláudio Perez
Ninho de Escritores
1 min readFeb 11, 2021

Ela se dizia uma apaixonada pela vida e viajou pelo mundo todo atrás de algo que nunca chegou a conhecer na sua plenitude. Havia colecionado namoros. Mas o amor de que tanto se falava nunca lhe acontecera. Morava a beira de um precipício junto ao mar e passava as noites sozinha, bebendo vinho, escrevendo poesias sobre paixões imaginárias, que colocava cuidadosamente dentro da garrafa vazia, e arremessava ao mar.

Ele era um desesperado, condenado a prisão perpétua. Nascera naquela ilha no fim do mundo e ali iria morrer. Fora preso ainda novo e pouco conhecera sobres as coisas da vida. Com uma vela acesa, uma garrafa, um papel e um lápis passava as madrugadas escrevendo cartas tristes sobre nunca ter experimentado o amor. E as jogando ao mar dentro da garrafa, cuidadosamente por uma fresta entre as grades da janela da cela 341, que também ficava junto um abismo.

E dizem que em um dia de calmaria no mar a milhares de quilômetros dali e de qualquer outro lugar as duas garrafas se encontraram no meio do oceano e se esbarraram.

E dizem ainda que a partir desse dia seguem as duas garrafas juntas pelas marés e pelas correntes atrás do por do sol perfeito.

Juntas, cada uma com seu segredo.

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