Encontrei um jeito fácil de burlar a procrastinação

Assim como você, sou ótimo em me enrolar e deixar as coisas para depois.

Tales Gubes
Ninho de Escritores
4 min readJun 21, 2017

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Isso acontece com a escrita, mas também com qualquer outra coisa que exija um mínimo de esforço e perseverança. Não é à toa que o escritor Haruki Murakami, no livro Do que eu falo quando eu falo de corrida, diz que os três ingredientes para um um bom escritor são talento, concentração e dedicação.

Dedicação também pode ser persistência, resiliência, perseverança, disposição, resistência.

Nesses tempos de gratificações instantâneas e distrações em LED, dedicar-se é um desafio. É um pouco como Sísifo, condenado a subir uma rocha montanha acima mesmo sabendo que ela rolará para baixo no final das contas. Todo escritor é um Sísifo enfrentando sua própria energia, disciplina e dedicação — que no final sempre falharão.

A grama do vizinho é mais verde

Um componente fundamental dessa falta de dedicação é a ideia de que, em outras condições, as coisas seriam melhores.

Sempre invejei os escritores que se fechavam em casas de campo e passavam dias e dias produzindo. Fui pesquisar e descobri que isso tem pelo menos dois nomes: residência artística e retiro de escrita.

(registro de sonho para o futuro: quero fazer os dois dentro do Ninho de Escritores)

A partir daí, passei a acreditar que se eu fizesse um retiro, aí sim conseguiria escrever tudo o que gostaria. Pesquisei e achei que todos os retiros eram muito caros, então desisti. Até que encontrei o Urban Writers Retreat, um projeto fantástico que separa um dia na semana em Londres para que as pessoas fiquem apenas escrevendo.

Minha missão de vida com o Ninho de Escritores foi atualizada: fazer retiros urbanos de escrita. Se ao menos eu tivesse um espaço adequado…

Fiquei um ano inteiro procurando lugares que tornassem o projeto de retiros urbanos possível e não muito caro. Quando achava um espaço, não tinha mesas ou elas eram desconfortáveis. Quando encontrava outro, era pequeno demais.

E assim, do jeito que costumo fazer com a escrita, fui deixando para depois, para quando fosse o momento perfeito.

A arte da trapaça interna

Eu me conheço tão bem que chego a ter mestrado em mim mesmo. Foi desse jeito, investigando minhas práticas e costumes, que percebi uma tendência. Se quero fazer alguma coisa, transformo em projeto. Queria estudar escrita, criei o Ninho de Escritores. Queria encontrar gente preciosa, montei a Curadoria de Amigos. Estava me sentindo sozinho enquanto profissional, voltei ao mercado de trabalho tradicional.

O que isso tudo tem em comum?

Quando quero fazer algo, envolvo outras pessoas. Porque às vezes eu quero fazer as coisas e é tão difícil fazer sozinho que acabo desistindo. Eu sou apenas um ser humano minúsculo lidando com essa coisa imensa e angustiante chamada vida. Tem horas que parece que não dá.

Por isso, desenvolvi a arte da trapaça interna.

Se algo está muito difícil, posso empenhar toda minha força de vontade para desafiar e insistir e tentar vencer… ou posso dar uma leve desviada de percurso e atacar por outro lado.

Eu ainda não estou dedicado o suficiente para escrever todos os dias, reconheço isso. Ainda acho que é a melhor estratégia para quem deseja fazer da escrita uma parte importante da vida, mas não está rolando pra mim. Então o que fiz? Transformei em projeto e lancei o chamado para o mini retiro urbano de escrita.

Já que escrever todos os dias não estava funcionando pra mim, eu posso pelo menos separar na agenda duas ou três horas pra isso na semana, não é? Mas se fizesse isso em casa, com internet, namorado, cama e toda sorte de distrações disponíveis, eu me conheço o suficiente para saber que não funcionaria. Já tentei outras vezes e minha dedicação nunca durou o suficiente.

Então eu me engano e digo que não é mais sobre eu sentar e escrever. É sobre ajudar outras pessoas a sentarem e escreverem. Dar o exemplo, apoiar o trabalho de outros escritores. Sim, eu também vou escrever no processo e isso é ótimo, mas no final do dia é algo que vai ser bom pra tanta gente que vale a pena. E, além disso tudo, eu não estarei escrevendo sozinho. Será feio se eu ficar lá passeando na internet ou assistindo a filmes e seriados enquanto outras pessoas compraram a ideia e estão escrevendo.

O poder do coletivo é incrível.

Quer experimentar?

Então faça um mini retiro urbano de escrita na sua cidade. Escolha um horário que você pode reservar na agenda e defina um local fácil de chegar e que tenha espaço para acolher algumas pessoas. Bibliotecas e cafés são ótimos para isso. Lance o convite para amigos, conhecidos e pessoas aleatórias por e-mail, WhatsApp, Facebook, Twitter e quaisquer outras formas de comunicação.

Se apenas uma pessoa comparecer ou se forem duzentas, não faz diferença. O que importa é estar lá e sustentar o compromisso de somente escrever durante esse tempo.

Se quiser ajuda para organizá-los e divulgá-los, conte comigo.

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Tales Gubes
Ninho de Escritores

Um olhar não-violento para uma vida mais livre, honesta e conectada. Criador do Ninho de Escritores, da Oficina de Carinho e do Jogo pra Vida.