Escrevendo na Prática Parte 13: Missão Cumprida

Nano Fregonese
Ninho de Escritores
5 min readFeb 3, 2017

Esse post faz parte da série “Escrevendo na Prática”. Clique aqui para ler o post anterior.

Finalmente chegamos ao último post da nossa série Escrevendo na Prática. Nela pudemos analisar toda a jornada de criação de um livro, desde a concepção da ideia, rascunhos iniciais, montagem dos personagens e estruturação da trama, passando pela escrita dos capítulos e prática diária até chegarmos ao clímax e conclusão da história.

Então dá pra dizer que terminamos o nosso projeto com sucesso, correto?

Ainda não.

Não, pois escrever o livro é apenas parte do processo. O seu trabalho como autor não está concluído até que você confira tudo o que produziu, edite as partes problemáticas e corrija os erros.

Isso mesmo. Mais um pouco de esforço e sacrifício antes do merecido descanso. Mas calma que está quase acabando.

No caso de Mortos-Vivos & Dragões eu parti para a edição da obra logo depois de terminar a escrita. Não é assim que eu normalmente trabalho e eu não recomendo que você faça isso. Apenas segui por esse caminho pois eu tinha me dado um prazo bem curto para escrever o livro (1 mês, lembra?) e queria muito cumpri-lo.

O ideal é que, ao terminar a parte que diz respeito à escrita em si, você guarde essa primeira versão da obra em algum lugar seguro e vá descansar. Tire algumas semanas — talvez um mês — para relaxar a cabeça, trabalhar em outra coisa ou iniciar um novo projeto. O que quer que decida fazer, desvie a sua atenção daquilo que acabou de escrever.

Por que isso, Nano?

Em primeiro lugar, porque vai fazer bem pra sua mente.

Em segundo lugar, porque isso vai fazer com que você esqueça muitos detalhes da sua trama. E isso é uma coisa boa.

Como assim isso é uma coisa boa, Nano? Como diabos esquecer a minha história é uma coisa boa?

Calma que eu explico.

Ao esquecer detalhes da trama, você estará com uma nova visão na hora de ler o seu próprio trabalho. Seus olhos não estarão viciados e você conseguirá checar com mais facilidade se aqueles acontecimentos narrados nas páginas estão fazendo sentido, se as conexões entre eles são lógicas, se aquilo que deve estar claro realmente está claro.

Muitas vezes o escritor faz algumas besteiras porque acha que aquilo que está escrevendo é super evidente ao leitor, mas não se liga que, na verdade, aquilo só é evidente pra ele mesmo… porque ele conhece todos os pequenos detalhes da trama.

Sendo assim, esse tempo afastado da sua história vai te ajudar a se colocar no papel de um leitor comum, vivenciar a experiência de leitura desse leitor. E isso vale ouro, não é?

Muito bem. Agora, com esse olhar mais fresco, você vai identificar todas as inconsistências e passagens que não fazem sentido e então dar um jeito de corrigi-las. É o famoso ajuste fino na trama.

Essa pode ser uma etapa complicada, mas, quanto mais planejamento prévio você tiver feito, menos sofrerá. No meu caso, graças a toda aquela estruturação sobre a qual já conversamos, eu encontrei poucas falhas e consegui resolver essas questões de forma bem ágil.

Depois desses ajustes, foi a vez de procurar frases e parágrafos inúteis e arrancá-los da história. Sim, é doloroso, mas vale muito a pena. A trama ganha em ritmo, fica mais agradável, melhora em todos os sentidos.

Pode levar um tempo até você pegar o jeito dessa coisa meio Edward Mãos-de-Tesouras e descobrir como cortar com mais eficiência, mas não se intimide. Siga firme, praticando. Quanto mais fizer, mais depurará esse instinto.

Uma dica prática que notei e que talvez te ajude: normalmente colocamos muita coisa inútil no início e no final dos nossos capítulos. Experimente fazer cortes ali e veja se o capítulo continua tendo sentido. É provável que, não apenas continue com sentido, mas se torne mais interessante também.

Com essas questões resolvidas eu pude, enfim, passar para a correção. Fiz mais uma leitura buscando por erros de digitação, palavras fora de contexto, escorregadas na gramática. Isso exige atenção e, mesmo assim, você vai acabar deixando algumas coisas passarem. Não se estresse por causa disso. É normal. Acontece com todos os escritores. Se estiver com tempo, faça novas leituras.

Um último detalhe que considero de grande importância e que muitos autores acabam ignorando é testar o ritmo e fluidez da história. Checar se as palavras se conectam de forma agradável.

O truque para isso é realizar uma leitura em voz alta, com calma, sentindo o desenrolar das frases. Ao fazer isso você notará a musicalidade da sua escrita. Verá se ela é mais dura, suave, direta, etc.

Confira se ela está de acordo com o seu estilo e se, por acaso, as palavras não ficam travando. Ajuste o que for necessário e pronto.

Foi assim que eu editei e revisei o meu livro Mortos-Vivos & Dragões.

Fiz isso tudo de uma forma um pouco mais acelerada do que o tradicional, mas não me arrependo.

Veja… nós, escritores, temos um defeitinho comum de nos apegarmos demais ao que escrevemos. Queremos deixar a história perfeita, queremos que todos os leitores se encantem com ela e entendam todas as questões que soltamos na página. Por causa disso, acabamos nos embolando em revisões e edições sem fim, que apenas prendem a nossa história e a mantém longe dos olhos dos leitores.

Revisar é importante? É vital.

Mas uma hora, chega.

Dê a si mesmo um prazo limite para editar e revisar o seu livro, crie coragem e solte-o por aí. Ele nasceu para ser lido, afinal de contas.

Ele terá falhas? Muitas.

Vai ter gente que vai encher o saco? Com certeza.

Mas ficar editando eternamente não vai impedir nada disso. Sempre existirão falhas, sempre surgirão haters. Danem-se eles.

Você precisa deixar o seu livro ir pro mundo… aí você descobrirá os seus pontos fortes e fracos, descobrirá onde errou e onde acertou. Você aprenderá de forma muito mais poderosa do que em ciclos e ciclos de edição/revisão.

E, aí sim, poderá escrever um próximo livro, melhor e com menos falhas.

Foi desse jeito que escrevi Mortos-Vivos & Dragões. Em muitos momentos da jornada eu sofri e tive dúvidas. Precisei estudar e fazer testes. Mas também cresci como escritor e me diverti no processo.

Ao escrever esse livro despretensioso eu aprendi muita coisa bacana. Espero ter conseguido dividir algumas delas com você ao longo dessa série de textos.

Que tal agora partir para a prática? Estou muito curioso para saber mais sobre a SUA experiência com essas técnicas.

Um abraço e boa escrita! ;)

PS: E caso você esteja curioso… sim, eu consegui fazer tudo isso dentro do meu prazo! Um livro em um mês. Loucura, mas uma loucura divertida \o/

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Nano Fregonese
Ninho de Escritores

Escritor e Instrutor best-seller com + de 10 mil alunos. Falo sobre escrita, histórias e poder pessoal para criativos.