Falar de poesia com alguém é difícil pra caralho

Eu fico puto da cara quando mostro pra alguém uma música que pra mim é o céu e esse alguém não gosta, não entende, não sente nada. É um tapa na minha cara.

O mesmo acontece com filmes, com séries, com textos, com bares. Mas com poesia… com poesia é diferente. É muito mais grave.

Nas raras ocasiões em que eu finalmente tomo coragem de mostrar pra alguém uma poesia que encontrei e achei linda e esse alguém faz uma cara de quem tá cagando pra ela, é como se essa pessoa estivesse cagando pra mim, cagando em mim (!). É uma experiência horrível.

Eu nem sei explicar o motivo exato. É como se o vínculo com uma poesia fosse mais forte que o vínculo com a música ou um texto qualquer (e olha que meu vínculo com música é fortíssimo, beirando a obsessão). Na poesia, quando você se apaixona por ela, é como se ela passasse a ser sua (e é mesmo!), você é o autor dela, e a partir daí qualquer rejeição a “sua poesia” passa automaticamente a ser uma rejeição a você. É extremamente pessoal.

Falar de poesia com alguém é difícil pra caralho porque é, no fim das contas, falar de quem você é, da sua intimidade, do que você sente, de como vê o mundo e a si mesmo. E é muito fácil isso tudo não fazer sentido nenhum para o outro.

Por isso entendo a relutância de quem escreve poesias em mostrá-las, e admiro a coragem do poeta impávido que a declama na cara do seu público, olhando nos seus olhos, saltando no escuro e correndo o risco de não encontrar nada no ar. Apenas o vazio de um olhar apático.

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