Gap

Crédito de imagem: br.pinterest.com

Primeiro, eu procurei nos aplicativos de paquera alguém para preencher um gap. Uma lacuna de algo que na verdade eu nunca tive. Ou tive algumas vezes de maneira tão pouca, que nem deu para cobrir o que me faltava de forma que bastasse ou me saciasse o bastante como quem sai bêbada de um banquete.

Procurava um amor que partiu de maneira repentina. Não que tivesse tido neste ou em outros amores algo que matasse a minha sede de afeto e, entretanto, construímos uma vida que se seguiu por vinte e tantos anos, alimentada por pedaços de amor. Em minha falta e na solidão nos quartos dos motéis, deixei-me guiar por bocas ávidas e apressadas que beijavam meu pescoço e subiam para mordiscar meus lábios enquanto as mãos percorriam meu corpo à procura da minha genitália, e eu correspondia aqueles lábios que tocavam os meus e os pressionava levemente e minha língua entrava devagar naquelas bocas entreabertas como um convite para juntarmos as pontas de algo que pudesse ser algum sentimento.

Mas era sexo. Gosto de sexo. Gosto muito!

Mas no início eu procurava ternura, em cada match, em cada conversa, em cada beijo, movimentos ritmados de vai e vem, gemidos ardentes e gozo. Enquanto o outro gozava sexo eu gozava afeto.

E foram tantos corpos, que perdi a conta, nesses três anos de encontros por aplicativos. Homem não gosta de repetir. É como a mulher, que não gosta de repetir uma roupa.

Depois, me acostumei!

Pensei, com minha mente liberta: viva o sexo Delivery! Criei a expressão! Minhas amigas se divertiram com a ideia.

E quem disse que eu não encontrava nesses “sexos Deliveries” a presença de algum resquício de carinho, por menor que fosse? Não por mim, ali eu era a gostosa irresistível, aquela que suava e fazia suar, que gemia e fazia gemer, a que sentia e dava prazer, mas muitas vezes, senti naquelas línguas o gosto da presença de um amor que se foi…que nem o meu…

--

--