Imagens de uma cena de ação

Tales Gubes
Ninho de Escritores
3 min readNov 8, 2020
Foto de Александар Цветановић no Pexels

Seguimos com nossos exercícios a partir de cenas de ação escritas em resposta a um desafio inicial do Ninho. Trago aqui a última rodada, desta vez baseada em um texto de Leah B. Harper:

O violino era perseguido pelo piano. Todos aqueles olhares me diziam que eu era a noiva. O homem no altar tinha queixo largo cor de capuccino. Eu deveria estar contente, mas só conseguia piscar com força para driblar a dor de cabeça causada pelos flashes incompreensíveis, feito fragmentos de um sonho. Eu era do tamanho exato da caixa de correios vermelha e corria num parque, uma mulher de cabelo amassado me chamava pelos dedos, e então era açoitada na cabeça. Meus pés formavam duas trilhas curvadas. Um furgão. Foi a primeira vez que o vi, ele ainda não usava barba.

Convidei a escrita de uma cena em até 100 palavras usando o máximo possível de imagens, matáforas e outras figuras de linguagem.

Vamos às respostas.

Um dia quente, o sol é uma bola de ouro brilhando no céu azul, uma chuva prateada aparece para confundir, meu desespero, minha saudade, minha angustia, escuto uma música instrumental, saio correndo, meu casamento, tento entrar na igreja, o som está distante, cada vez mais fino, mais pequeno aos meus ouvidos, um sonho, uma chuva seca de pingos finos me faz lembrar…. Lembrar que hoje eu vou me casar. Eu sou a noiva, meu véu preso debaixo do pesado banco de madeira, tento puxa-lo, mais um pedaço não veio. Só mais um segundo, outro pedaço do tecido rendado foi puxado, formando um buraco na beirada.
Um homem olha em minha direção, um rosto largo, uma bochecha rosada, e um nariz chato, isso é o que dar para perceber, tento dizer sim, mais só sai um não…
Não… pula da minha garganta…pulo no chão no meio do lamaçal saído dos poros.
Ufa! Ainda bem que as piores coisas da vida acontecem enquanto dormimos.

(Socorro Freire)

Sinto que me tornei uma bola de lã, que o gatinho da vovó pegou para brincar e agora, agora tem muitos nós e sujeiras. Agora eu não sei onde está nada, as roupas a xuxinha, o violão o notebook, a resposta para a pergunta, as certezas do que é certo, errado, bom, ruim. Eu estava bem, maldito gato, intrometido que me acordou, com frigideiras batendo as cortinas abrindo agora sinto um gosto ruim na boca, mau humor por ter sido acordada de maneira tão brusca, meus olhos demoram a se acostumar à luz, mas como é bom ver o sol.

(Kevelin Nayara)

Eu fiquei ali sentado, plantado, feito semente estragada que não vingaria. Ele me disse que precisava ir, e seus dedos agitados eram ponteiros de um relógio. Nos seus olhos, um pedido sufocado de socorro. Ele queria que eu o impedisse, que me desmantelasse feito areia e se preciso atirasse minha bengala em sua cabeça dura. Mas ele também sabia que eu nunca faria isso. Quem sabe meu ontem fosse mais egoísta e disposto a tê-lo por perto sem mãos para me tocar ou me deixar. Hoje eu fechei os olhos para não sentir seus passos sumindo na direção do horizonte.

(LeahBHarper)

Obrigado a quem participou!

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Tales Gubes
Ninho de Escritores

Um olhar não-violento para uma vida mais livre, honesta e conectada. Criador do Ninho de Escritores, da Oficina de Carinho e do Jogo pra Vida.