Minha Crença Sobre a Escrita.
Depois de algum tempo, resolvi compartilhar minha experiência com o Ninho de Escritores e tentar deixar claro porque tenho paixão por esse projeto.
Eu fiz cursos de escrita livre, cada um deles acrescentou a sua maneira e todos tinham algo em comum: o evidente ego dos publicados. Sempre senti que houvesse essa delimitação e que ela não era tão benéfica como muitos do curso achavam que era (afinal, os deixavam para baixo, como poderia ser bom?). Escutava dos outros participantes que eles nunca conseguiriam escrever, que se esforçavam e que nunca seriam publicados. Eu entendia a frustração, claro, eu escrevo fanfictions há quase 20 anos e sempre pensei que deveria escrever originais para poder pensar em publicação. Não sabia se estava no mesmo nível dos demais, mas ao menos sentia que estávamos no mesmo barco.
Os cursos ajudaram a melhorar detalhes técnicos, mas ainda tratavam com uma distinção feroz o publicado daqueles que desejavam melhorar sua escrita ou aprender a escrever. Eu bem que tentei não ter esses pensamentos, mas falhei nisso. A distinção estava lá e eu não poderia ignorá-la.
Então, um dia, uma amiga me passou o convite para o Ninho de Escritores com temática Queer. Eu escrevia (ainda escrevo) fanfics sobre casais gays e pensei que ter esse aprendizado tiraria as coisas ruins da minha escrita, preconceituosas e dadas como verdade que pudesse estar escrevendo e não sabia.
A minha primeira surpresa foi que o curso não ia ser como os demais que já havia cursado. O que era fantástico. Depois discutir o Queer na escrita me fez repensar diversas coisas e como escrever sobre elas. A segunda surpresa foi a certeza (ou o reforço dela) que qualquer pessoa pode escrever.
A segunda foi mais importante. Por anos, eu mantive um site de fanfics chamado “Legado da Escrita” (offline no momento) onde eu vivia dizendo paras as meninas que elas podiam escrever sim. A escrita não era o dom mágico ou a inspiração divina que separava os escolhidos dos meros mortais. A escrita era uma prática que podia ser aprendida e aperfeiçoada. Não excluo que existam pessoas com talentos e mentes prontas para a escrita, mas se pensarmos que tudo é mágica ou escolhidos, ninguém pintaria ou aprenderia a tocar um instrumento musical ou escreveria.
Lembro de estar no metrô com o fundador do Ninho após a primeira reunião do Ninho Queer e ele ter falado algo como “escrita é prática” e eu pensei que estava no lugar certo porque a pessoa acreditava no mesmo que eu. Pode parecer estranho, mas sabe o quanto isso é raro?
Sempre pesquisei sobre escrita, sempre procurei passar as pessoas as formas de escrever uma história, diálogos, personagens, narrativa. Por anos, com o Legado, eu recebia mensagens de pessoas que queriam escrever e eu as incentivava. Por que não? Quem disse que elas não poderiam? Você tem um enredo, você tem personagens, use prosa e tente.
Claro, escrever não é apenas sobre falar “olha, vai que dá”, existe uma técnica e existem métodos. Muitos deles estão pela internet, em sites e fóruns, de fácil acesso. É necessário saber sobre cores para fazer uma pintura ou saber as notas e escalas para música. Para a escrita, existem as técnicas e as regras (que podem ser quebradas, mas isso não é a discussão). O que quero dizer é que sempre que achar que é mágica, não vai acontecer. Coisas podem ser intuitivas, mas existem as técnicas e elas podem ser aprendidas o que faz com que qualquer um que realmente queira possa escrever, pintar, tocar um instrumento.
Para mim, a negativa sobre a escrita sempre me incomodou. Nos cursos anteriores havia esse elemento. Claro, ser publicado é maravilhoso, mas existe o processo para que isso aconteça e essa é a parte que mais me interessa porque é nela que as pessoas param e deixam de acreditar que é possível. A publicação me parece a cereja do bolo. Ter o material terminado em mãos e falar “fui eu que fiz” é o que mais me motiva a continuar acreditando que é possível. (Que fique claro que não menosprezo publicação, longe de mim, eu quero publicar algo algum dia também, mas eu realmente não acredito que focar nisso seja o que vai ajudar as pessoas a escrever e terem seu material pois sem sentar e escrever o material, não existe nada para ser publicado).
Então, eu encontrei esse lugar, esse ninho que trabalhava com a mesma prerrogativa que a minha e que era tão acolhedor e inspirador. Ali não havia o cara publicado explicando acima dos demais, ali havia pessoas que gostavam de escrever falando sobre seus processos e suas dificuldades. A linha que separava e que sempre me incomodou, não existia mais.
O motivo pelo qual eu permaneço no Ninho de Escritores após tantos anos: você pode escrever, não se trata de um lugar exclusivo, não se trata de um lugar onde você não possa estar. Vamos te ensinar como, apenas acredite que você pode escrever e dedique-se a prática.
Porque escrita é isso: prática.