Mortes de uma cena de ação

Tales Gubes
Ninho de Escritores
2 min readOct 31, 2020
Foto de Pixabay no Pexels

Cá estamos para mais um exercício de escrita. Desta vez, ele começou a partir de um texto de Douglas Cunha:

O som das lâminas se tocando ecoava pelos montes que rodeiam aquele lugar. Era o som da batalha. Espadas extremamente afiadas, cortavam, mutilavam, penetravam com uma facilidade assustadora. De longe, todo aquele movimento parecia uma espécie de dança, de perto, a certeza de que a morte era quem bailava naquele vale procurando a quem abraçar. Guerreiros nascidos para viverem aquele momento, não se preocupavam com nada além do que o próximo movimento da espada. Tão ferozes. Tão letais. Verdadeiramente travaram uma brutal batalha.

A partir dele, fiz a seguinte proposta: reescrever a cena da batalha em até 100 palavras usando uma metáfora diferente para tratar sobre a morte.

Desta vez, recebi as seguintes respostas.

CONTO DA ESPADA

Sentindo o sabor do licor avermelhado produzido pelo organismo, esvaindo-se pela boca, uma espada cravada no peito, agonizando seus últimos minutos de vida, dançou entrelaçado com a sombra cinzenta da morte, numa melodia rítmica, até seu corpo caí inerme ao chão, os olhos semicerrados, ali acabaria toda a agonia de uma batalha perdida.

Lutaria por seu amor por duas vezes se essas vidas eu tivesse…

Esses eram os últimos pensamentos enquanto os cílios juntavam –se no mais profundo sono, em uma longa estrada de ida sem volta.

Agora era somente um silêncio, uma escuridão, um corpo estendido no chão, não vejo mais nada, não sinto mais nada…

(Socorro Freire)

Era noite. Do alto, a lua fiava tenras cordas que caíam em forma de garoa. O som do tilintar das espadas contrastava com a natureza, quieta como um túmulo. De longe, o espetáculo era horripilante: os soldados se debatiam, contorcendo os corpos cadavéricos, feito vermes a corroer uma carniça. A terra bebia o sangue amargo da guerra, enquanto tombavam cabeças e braços mutilados. De perto, em meio a gritos e gemidos de dor, a exaustão das tropas era visível, mas lutavam obstinados a empunhar o machado do sacrifício, sob o efeito narcótico da batalha. Guerreiros treinados para viver aquele momento, não passavam, no entanto, de marionetes da morte.

(Suzane Silveira)

Aprendi a detestar o som da lâmina trinchando carne quando minha mãe desenhou um sorriso na garganta do meu pai. Agora, os garotos de minha idade não mais se importam com meias emboladas em forma de esferas. A única brincadeira em vigor é a dama esculpida em ossos que observa atentamente cada movimento e escolhe seu time. Escondido entre caixotes de feira, me lembro desses jogadores simulando falsos desmaios ou contando em primeira mão sobre o último pobre coitado que se foi. É engraçado pensar que depois de tanto brincar com ela, ninguém quer se tornar o seu novo brinquedinho.

(LeahBHarper)

Obrigado a quem escreveu!

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Tales Gubes
Ninho de Escritores

Um olhar não-violento para uma vida mais livre, honesta e conectada. Criador do Ninho de Escritores, da Oficina de Carinho e do Jogo pra Vida.