Procure por quem te inspire a escrever

Fabi Dias
4 min readApr 19, 2018

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A inspiração pode estar em qualquer lugar

Muito antes de começar a escrever, muito antes de ser jornalista e muito antes de ter alguma intimidade com a escrita eu li um texto que me tocou profundamente e, principalmente, me inspirou.

Era pura poesia e naquele momento eu descobri exatamente para que eu daria a minha vida.

Quando li pela primeira vez o texto “As três experiências”, de Clarice Lispector, compreendi que havia nascido para escrever, e por meio dos meus textos poderia levar um pouco de amor e compreensão as pessoas.

O texto, de umas das escritoras mais inspiradoras da história, tem esse poder de extrair o melhor de você. Abaixo acompanhe um trechinho:

Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O “amar os outros” é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.

E nasci para escrever. A palavra é meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por quê, foi esta que eu segui. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever. Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E no entanto cada vez que eu vou escrever, é como se fosse a primeira vez. Cada livro meu é uma estreia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever.

Quanto aos meus filhos, o nascimento deles não foi casual. Eu quis ser mãe. Meus dois filhos foram gerados voluntariamente. Os dois meninos estão aqui, ao meu lado. Eu me orgulho deles, eu me renovo neles, eu acompanho seus sofrimentos e angústias, eu lhes dou o que é possível dar. Se eu não fosse mãe, seria sozinha no mundo. Mas tenho uma descendência, e para eles no futuro eu preparo meu nome dia a dia. Sei que um dia abrirão as asas para o voo necessário, e eu ficarei sozinha. É fatal, porque a gente não cria os filhos para a gente, nós os criamos para eles mesmos. Quando eu ficar sozinha, estarei seguindo o destino de todas as mulheres…]

Clarice Lispector talvez tenha sido a voz feminina mais intensa e triste da literatura brasileira, talvez, mas para mim a mais significativa.

Retratava o caos, suas angústias de mulher e mãe e seu dia-a-dia com as mais lindas palavras.

Ler suas obras me ajudou a compreender o tipo de escritora que eu queria ser. Sobre o que eu iria falar e, mais do que isso, me ensinou a colocar o sentimento na ponta dos dedos. E aí… só fui! Assim como ela também sou mãe, mulher e tenho em mim todo amor do mundo.

Por isso a minha dica é: quando não souber o que escrever procure dentro de você sobre o que mais gostaria de falar. E fale, ou melhor, escreva, sem medo. Deixe que as palavras tomem formas. Você verá como é simples.

E se, ainda sim, você encontrar alguma dificuldade, abaixo deixei mais cinco dicas bem simples para começar agora mesmo:

1 — Crie um bom ambiente para a escrita: é muito importante trabalhar em um ambiente tranquilo, seja seu quarto, a sala de estar ou um espaço fechado em uma biblioteca pública.

2 — Estabeleça metas de palavras ou páginas: para se motivar, é importante definir um objetivo de mínimo de palavras por dia ou páginas por semana; isso com certeza o ajudará a sentir que está progredindo no trabalho.
Boas medidas para começar: 500 palavras por dia ou cinco páginas por semana.

3 — Leia muito: observe os textos dos autores que você acompanha, que linguagem utilizam, como se expressam e se inspire.

4 — Monte um mapa mental sobre um assunto ou tema: se ainda estiver com dificuldades sobre o que escrever, um mapa mental pode ser a saída. Comece escrevendo o assunto principal sobre o qual deseja tratar e abra ramificações com ideias ao redor dele. Circule cada ideia e desenhe linhas delas até o tema principal. Em seguida, leia tudo e escolha as ideias que mais o inspirem a começar a escrever.
Por exemplo, se vai escrever um romance com tema sobre a perda, comece a escrever nomes de personagens e cenas que ilustrem o tema ao redor da palavra “perda” no mapa mental.

5 — Confiar em si mesmo: eis aqui, na minha opinião, a dica mais importante. Quando você escreve, acredita que tem algo a dizer. Continue acreditando sempre nisso e busque a melhor maneira de ser autêntico. Editores querem escritos verdadeiros, não materiais artificiais montados para agradar. Faça com o coração sempre.

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Fabi Dias

🤎Jornalista e escritora •Mãe de 4 almas lindas: Rayane, Laura, Felipe e Breno. • Escrevo sobre maternidade, emoções e sentimentos.