Quer escrever uma boa história? Faça um mapa da narrativa

Tales Gubes
Ninho de Escritores
4 min readNov 22, 2016

Quando escrevemos um texto, passamos por três etapas: planejamento, escrita e edição.

Na etapa de planejamento, fazemos um desenho do que será escrito, delineando as cenas, os personagens, as motivações etc. É aqui que definimos o que queremos comunicar e expressar.

A escrita é a parte que todo mundo conhece. A gente senta e transforma pensamentos em palavras. Há quem pense que essa é a única etapa existente na arte da escrita, mas essas pessoas estão enganadas. Elas olham grandes autores e tudo o que conseguem imaginar do trabalho é a parte em que as palavras são escolhidas, uma após a outra. Há trabalho antes, há trabalho depois.

A terceira etapa é a edição, o momento em que avaliamos se aquilo que escrevemos está de acordo com o que queremos comunicar ou expressar. Se não estiver de acordo ou se puder melhorar, reescrevemos. Se estiver OK ou já estivermos cansados do texto, ele estará pronto para ser publicado (ou revisado por profissionais).

A escrita de uma história é composta por pelo menos dois campos: a narrativa e a linguagem.

O campo da narrativa é responsável por prender o leitor, já que é o meio de gerar empatia a partir da jornada de um personagem específico. Esse é o campo melhor atendido pelo planejamento.

O campo da linguagem diz respeito ao poder estético de uma história, indicando quais descrições, metáforas e poéticas serão aplicadas no texto. Embora possível, é mais difícil planejar essa parte.

Usualmente, gosto de pensar num terceiro campo, que diz respeito ao sociocultural, ou seja, como a narrativa e a linguagem dialogam com o contexto “do mundo real”. Quando ofereço cursos sobre escrita narrativa com temática queer, esse é um dos campos principais de discussão.

Uma história bem planejada exige menos edições no campo da narrativa porque já entendemos as relações de causa e consequência que vão compor as cenas. Esse é o esqueleto da história. Se narramos uma história sem planejamento, é muito provável que nos percamos pelo caminho.

Escrever uma história sem planejar é como viajar sem mapa. É super possível, é provável que vivamos experiências incríveis e vejamos cenários fabulosos, mas no final do dia teremos uma coleção de cenas e vivências separadas e não uma linha que nos leve de um ponto a outro. Qual é o problema disso?

Boas narrativas são coerentes. Tudo nelas aponta na direção do que se deseja comunicar e expressar.

O melhor jeito de alcançar essa coerência é fazer um mapa da narrativa. Neste mapa, colocamos tudo o que sabemos e queremos para uma história. Em um nível básico, estamos interessados em perguntar a todas as cenas as seguintes questões:
- por quê?
- e então…?

Essas perguntas dão conta da estrutura da narrativa.

Se um personagem faz algo, tem um motivo anterior e precisamos ter clareza disso para informar aos leitores. Quando um leitor não entende a motivação dos personagens, ele se sente burro, incomodado ou insatisfeito. Não são boas sensações para se produzir em alguém que esteja emprestando seu tempo para o nosso texto, né?

Toda ação gera uma reação. Por isso, todas as ações significativas dos personagens devem ter repercussões na história, do contrário os leitores começarão a questionar a pertinência de estarem acompanhando o texto. Observe que escrevi “texto” em vez de “narrativa”. Fiz isso porque um texto em que os acontecimentos vêm do nada — em vez de serem consequências das ações dos personagens — é um relato de coisas que acontecem com alguém, não uma narrativa instigante sobre a jornada de um personagem. São cenas separadas, mas colocadas lado a lado.

Mapa feito com post-its na parede durante uma sessão de Voo Solo.

Quer testar o mapa? Pense em uma cena em que uma menina dá uma margarida para um menino. Digamos que você não quer abrir mão dessa cena. Coloque-a no centro do seu mapa e se pergunte: por que ela fez isso? O que ela desejava alcançar? Que importância tinha para ela esse gesto? Quando ela entrega a margarida, o que acontece? Como o menino reage?

A resposta a essas perguntas gerará novas perguntas. Por que o menino reage como reage? Depois que ele reage, o que acontece? Por que? E então? Por que?

Com o mapa, as histórias que escrevemos ficam mais claras, coerentes e coesas. É possível fazê-lo em folhas separadas, post-its, cartões etc.

Essa é a primeira camada do meu jeito de planejar histórias. Como é o seu jeito? O que tem funcionado para você?

Olá, eu sou o Tales.

Em 2014, fundei o Ninho de Escritores e desde então dedico meu tempo a cultivar histórias para que elas alcancem todo o seu potencial. Ofereço acompanhamento individual para escritores e organizo encontros e cursos voltados para a experimentação da escrita literária.

Você me encontra no www.ninhodeescritores.com, onde pode assinar minha newsletter semanal com dicas, ideias, sugestões e desafios para quem escreve ou deseja escrever.

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Tales Gubes
Ninho de Escritores

Um olhar não-violento para uma vida mais livre, honesta e conectada. Criador do Ninho de Escritores, da Oficina de Carinho e do Jogo pra Vida.